quinta-feira, 19 de maio de 2016

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS


Homenagem do Al Tejo a Domingos Maria Peças

                   ( hoje a cargo do Rufino Casablanca)

                                 Casais do Cinema
                         Elia Kazan e Barbara Loden
Ele, Elia Kazan, como pessoa, não é da minha especial simpatia.
Já como realizador de cinema, foi do melhor que a América produziu nas décadas de quarenta, cinquenta, e até de sessenta.
Abstenho-me aqui de comentar a minha antipatia pessoal, pois alicerça em motivos que nada têm a ver com o cinema.
E como é de cinema que este escrito trata, aqui fica uma lista de alguns dos melhores filmes que realizou:

 - “ Um Eléctrico Chamado Desejo”, baseado na peça de teatro de Tennessee Williams – 1951
- “ Há Lodo no Cais” – com Marlon Brando e Eve Marie Saint – 1954
- “ Viva Zapata” – com Marlon Brando –
- “ A Leste do Paraíso” – com James Dean. Baseado no romance de John Steinbeck
- “ Esplendor na Relva” – com Natalie Wood, Barbara Londen, Warren Beatty…. 1961
Neste último filme, um melodrama hollywoodonesco, recheado de sentimentos reprimidos, com personagens disfuncionais, em que a riqueza, a igreja e a família, comandam o comportamento dos intervenientes, aparece, pela primeira vez Barbara Loden num papel de menina rica que se está nas tintas para todas a convenções e que, apesar do papel secundário que representa, deixa todo o filme marcado pela sua presença.
E pronto, sobre o Elia Kazan, fico por aqui. Será melhor assim para evitar que eu comece a disparar noutros sentidos.

Vamos lá então à Barbara Loden, que é o principal motivo deste escrito.
Casada com Elia Kazan, começou a sua carreira no teatro novaiorquino, e participou como actriz em vários filmes, quase sempre em papéis secundários, especialmente dirigidos pelo marido – é de grande nível a sua interpretação no filme “Quando o Rio se Enfurece”, dirigido, evidentemente, por Elia Kazan. Contudo, acabou a sua carreira como argumentista e realizadora, já depois do divórcio. Foi em 1971.

             Título Original: “Wanda”
(tanto quanto sei, este filme não chegou a passar no circuito comercial em Portugal)
Ano de Produção: 1971 (este filme foi produzido por uma Fundação independente de Hollywood)
Idioma: Inglês
Argumento: Barbara Loden
Realização: Barbara Loden
Intérpretes: Barbara Loden, Michael Higgins, Dorothy Shupenes, Peter Shupenes…..

Este é um filme de penúria e miséria. Penúria nos meios de produção, onde facilmente se nota a pobreza de orçamento que caracterizava o cinema independente norteamericano dessa época. E de miséria moral e material no desenvolvimento do enredo. O que não impede que o filme seja uma obra-prima e mantenha um lugar de referência, ainda hoje, no cinema independente.
O enredo conta a história de uma mulher pouco culta, a quem a vida agride de todas as formas possíveis e imaginárias, mas que se consegue manter à tona graças a uma grande força de vontade e também a uma grande dose de ingenuidade e uma grande fé na humanidade. Barbara Loden encarna uma personagem de enorme fibra moral, sem pieguices nem falsos moralismos, e que, naturalmente, acaba por se lixar.
Uma lição de vida!
Se eu tivesse que classificar este filme numa escala de 1 a 5, certamente lhe daria a nota máxima.

Barbara Loden não fugiu à regra que perseguia todos os realizadores de cinema que não encaixavam nas bitolas de Hollywood. Foi este o único filme que dirigiu.
Ainda voltou aos palcos de Nova Iorque, ainda voltou a fazer teatro, sempre com brilhantismo, mas não voltou a fazer cinema.

Morreu em 1980.

Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – 1995




   




  

1 comentário:

Anónimo disse...



Caro Rufino



É claro que a listagem dos filmes (de grandes realizadores e bom cinema )

que vai (re)apresentando no Al tejo, continua a ser cada vez mais datada,

se bem que se mantenha muito útil para quem encare o Cinema como uma arte

socialmente necessária e comprometida com os grandes problemas

sociais e da Humanidade que nos compõe.

Mas, o que queria acentuar-lhe é que um filme como o "Há Lodo no Cais"

devia merecer da sua parte UMA LEITURA OUTRA que nos explicasse como

o Sindicalismo e as lutas desiguais dos sindicalistas fizeram história.

Deixaram marcas e serviram de guia aos actuais direitos laborais que,se

foram uma conquista do Século XX, não quer dizer que não estejam

perigosamente em perca nos tempos que correm.

Dito isto, caro Rufino Casablanca, o que importa não esquecer

é que tanto do que se conquista, é também tudo o que pode perder-se...

Era esta a mensagem que, de Si, esperava numa altura em que vê

(re)publicados os seus conhecedores comentários aos filmes que

fazem parte da nossa história.

Projectados nos homens e cidadãos de um mundo actual que anda a

esquecer novamente as suas próprias, difíceis e justíssimas conquistas.

Com o sabor da luta pela vida e os riscos de morte "no lodo do cais"

que elenca. E melhor, se justificam e percebem.


Como seu Admirador, apresento-lhe fraternas saudações


Antonio Neves Berbem