Homenagem do Al Tejo a
Domingos Maria Peças
( hoje a cargo do Rufino
Casablanca)
Casais do Cinema
Elia Kazan e Barbara Loden
Ele, Elia Kazan, como pessoa, não é da minha especial
simpatia.
Já como realizador de cinema, foi do melhor que a América
produziu nas décadas de quarenta, cinquenta, e até de sessenta.
Abstenho-me aqui de comentar a minha antipatia pessoal, pois
alicerça em motivos que nada têm a ver com o cinema.
E como é de cinema que este escrito trata, aqui fica uma
lista de alguns dos melhores filmes que realizou:
- “ Há Lodo no Cais”
– com Marlon Brando e Eve Marie Saint – 1954
- “ Viva Zapata”
– com Marlon Brando –
- “ A Leste do
Paraíso” – com James Dean. Baseado no romance de John Steinbeck
- “ Esplendor na
Relva” – com Natalie Wood, Barbara Londen, Warren Beatty…. 1961
Neste último filme, um melodrama hollywoodonesco, recheado
de sentimentos reprimidos, com personagens disfuncionais, em que a riqueza, a
igreja e a família, comandam o comportamento dos intervenientes, aparece, pela
primeira vez Barbara Loden num papel de menina rica que se está nas tintas para
todas a convenções e que, apesar do papel secundário que representa, deixa todo
o filme marcado pela sua presença.
E pronto, sobre o Elia Kazan, fico por aqui. Será melhor
assim para evitar que eu comece a disparar noutros sentidos.
Vamos lá então à Barbara Loden, que é o principal motivo
deste escrito.
Casada com Elia Kazan, começou a sua carreira no teatro
novaiorquino, e participou como actriz em vários filmes, quase sempre em papéis
secundários, especialmente dirigidos pelo marido – é de grande nível a sua
interpretação no filme “Quando o Rio se Enfurece”, dirigido, evidentemente, por
Elia Kazan. Contudo, acabou a sua carreira como argumentista e realizadora, já
depois do divórcio. Foi em 1971.
Título Original: “Wanda”
(tanto quanto sei, este filme não chegou a passar no
circuito comercial em Portugal)
Ano de Produção: 1971 (este filme foi produzido por uma
Fundação independente de Hollywood)
Idioma: Inglês
Argumento: Barbara Loden
Realização: Barbara Loden
Intérpretes: Barbara Loden, Michael Higgins, Dorothy
Shupenes, Peter Shupenes…..
Este é um filme de penúria e miséria. Penúria nos meios de
produção, onde facilmente se nota a pobreza de orçamento que caracterizava o
cinema independente norteamericano dessa época. E de miséria moral e material
no desenvolvimento do enredo. O que não impede que o filme seja uma obra-prima
e mantenha um lugar de referência, ainda hoje, no cinema independente.
O enredo conta a história de uma mulher pouco culta, a quem
a vida agride de todas as formas possíveis e imaginárias, mas que se consegue
manter à tona graças a uma grande força de vontade e também a uma grande dose
de ingenuidade e uma grande fé na humanidade. Barbara Loden encarna uma
personagem de enorme fibra moral, sem pieguices nem falsos moralismos, e que,
naturalmente, acaba por se lixar.
Uma lição de vida!
Se eu tivesse que classificar este filme numa escala de 1 a
5, certamente lhe daria a nota máxima.
Barbara Loden não fugiu à regra que perseguia todos os
realizadores de cinema que não encaixavam nas bitolas de Hollywood. Foi este o
único filme que dirigiu.
Ainda voltou aos palcos de Nova Iorque, ainda voltou a fazer
teatro, sempre com brilhantismo, mas não voltou a fazer cinema.
Morreu em 1980.
Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – 1995
1 comentário:
Caro Rufino
É claro que a listagem dos filmes (de grandes realizadores e bom cinema )
que vai (re)apresentando no Al tejo, continua a ser cada vez mais datada,
se bem que se mantenha muito útil para quem encare o Cinema como uma arte
socialmente necessária e comprometida com os grandes problemas
sociais e da Humanidade que nos compõe.
Mas, o que queria acentuar-lhe é que um filme como o "Há Lodo no Cais"
devia merecer da sua parte UMA LEITURA OUTRA que nos explicasse como
o Sindicalismo e as lutas desiguais dos sindicalistas fizeram história.
Deixaram marcas e serviram de guia aos actuais direitos laborais que,se
foram uma conquista do Século XX, não quer dizer que não estejam
perigosamente em perca nos tempos que correm.
Dito isto, caro Rufino Casablanca, o que importa não esquecer
é que tanto do que se conquista, é também tudo o que pode perder-se...
Era esta a mensagem que, de Si, esperava numa altura em que vê
(re)publicados os seus conhecedores comentários aos filmes que
fazem parte da nossa história.
Projectados nos homens e cidadãos de um mundo actual que anda a
esquecer novamente as suas próprias, difíceis e justíssimas conquistas.
Com o sabor da luta pela vida e os riscos de morte "no lodo do cais"
que elenca. E melhor, se justificam e percebem.
Como seu Admirador, apresento-lhe fraternas saudações
Antonio Neves Berbem
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