Ermida de Nossa Senhora da Purificação
da Represa
De acordo
com Mestre Túlio Espanca a extinta sede de freguesia, anexa a Santa Sofia, por
decreto arquiepiscopal de 8-XII-1966, pertence actualmente à freguesia de Nª Sª
da Vila. Está situada a c.ª de 13
Km de Montemor-o-Novo, atingindo-se pela Estrada
Nacional n.º 4, no caminho de Arraiolos e percorrendo 2 Km de estrada vicinal. A
freguesia da Represa foi, durante séculos, sede da Comenda da Ordem Militar de
Santiago, a qual a partir do século XVI, pertenceu aos barões de Alvito.
Antigo
curado da Ordem de Santiago e comenda do conde-barão de Alvito, da apresentação
da Mesa da Consciência, ignora-se a data da sua fundação que, todavia, parece
remontar a alvores do sec. XVI. A herdade, todavia, é conhecida a partir de
1217, porquanto documentos originais a mencionam na doação de D. Sancho II, ao
bispo de Évora, da herdade de Arraiolos, assim como na composição feita entre a
Ordem de S. Tiago e D. Martinho, prelado da mesma diocese. Foi visitada
eclesiasticamente em 1534. Desse tempo, porém apenas se conservam vestígios do
corpo da abside, com acréscimos evidentes das centúrias imediatas.
A ermida
Está
situada em sítio ameno e em colina suave, abraçada, ao norte e oriente de
velhas casas do primitivo aldeamento. Teve as irmandades de Nª Sª dos Prazeres,
das Almas e do Rosário.
A fachada
axial da igreja, voltada ao poente, defrontando atarracado cruzeiro granítico,
com degraus assentes em base de grossa alvenaria, tem alpendre de três arcos
redondos, com terraço aberto, defendidos por gigantes de molduras almofadadas e
de ornatos de volutas, caiados de branco e de guarnições escaioladas. Porta
vulgar, de jambas e lintel graníticos, e tecto de barrete de clérigo. A face
lateral sul é protegida de botaréus, existindo, no último, posterior, um
relógio de sol, de secção cúbita, marmóreo e incompleto. O lado oposto está
envolvido de edificações: sacristia, arrecadação, alpendre, carneiro e escada
de acesso ao terraço. A cabeceira apoia-se em gigantes angulares e tem facial
alterosa com empena triangular ladeada de pináculos de andares, rematada por
cruz de mármore com emblema sacro: sotoposta pomposa cartela barroca, estucada
e de relevo em forma ovóide, guarnecida da cruz de Santiago amparada por
carnudo anjo afrentado.
O
campanário, de dois olhais, ergue-se na frontaleira principal: apilastrado e
com frontão de enrolamento, ostenta sinos de bronze fundido setecentista e de
cruzes relevadas, estreloides. O maior tem o cronograma de 1731, e o menor numa
só linha da campânula, esta inscrição:
ESTE SINO SE FEZ SD.º P. R.º R. D.º P.º BARS
(BRAS) FR.º DVARTE. ANNO. DE 1735. Diâm. 48 cm .
Interior – A nave, de
planta rectangular e de quatro tramos, com abóbada de berço reforçada por arcos
semicilíndricos, de alvenaria rebocada de caio, é revestida, na totalidade, por
gracioso, quente e policromo conjunto de azulejaria seiscentista, do tipo de
tapete e de vária padronagem flórica e geométrica, de fabrico lisbonense do 1.º
terço da centúria.
O coro de
baixo, de arco abatido, forrado de pinturas parietais, de ornatos, conserva
duas interessantes composições nos alçados laterais, com legendas latinas,
sumidas pelo tempo, mas de figuração típica ou anedótica, da vida rural
alentejana da época de D. João V, a saber: Cenas de caça grossa, de cavalo e a
pé, pastorícias, lavradores, lavadeiras, pastor conduzindo vara de porcos, mãe
amamentando uma criança, cavaleiro arremessado da sela pelo corcel, tourada à
vara larga, etc.
Púlpito,
de base rectangular, marmórea, antigo, e caixa de estuque ornamentado ao
moderno. O Baptistério é de planta quadrada e de tecto disposto em forma de
leque gomeado, assente em pendentes lisos: Toque de tintas-de- água nos
prospectos. Pia baptismal de granito e secção poligonal, primitiva (Séc. XVI).
A taça de
água benta colocada na porta lateral, de pedra, ovulada, é esculpida por
volutas, vieiras e corações estilizados, do período filipino.
Duas
capelas colaterais compõem o falso cruzeiro, de arcos cegos, igualmente
recobertos de cerâmica colorida e de belas faixas molduradas. São ambos
decorados por altares retabulares de talha dourada e policromada, do tipo de
pilastra e de frontões de baldaquino, típicos do estilo rococó joanino e de
mesas de altar do género de urna (c.ª de 1750). Tem dedicações:
Evangelho:
“Capela de N.ª S.ª do Rosário” – A
imagem titular, de madeira estofada, coetânea, é curiosa: mede, de alt. 1,00 m . Nas mísulas
envolventes, duas pequenas esculturas, vulgares, também de lenho colorido.
Epístola:
“Capela do Senhor Crucificado” ou do
“Calvário” – O padroeiro, com Crucifixo de madeira, é do género corrente,
somente devocional. Nas consolas entalhadas veneram-se as imagens de “Santa
Rosa de Lima” (?), seiscentista e de
boa factura (alt. 65 cm )
e “S. Miguel”, policromada mas vulgar e da centúria posterior (70 cm ).
O
arco-mestre do presbitério, de volta perfeita, está forrado, na totalidade, por
cerâmica igual à da nave, enquadrada pelo painel policromo do “Calvário”, na
figuração de “Cristo Morto na Cruz”, envolvido de Anjos, sob a Veneração de “Nossa Senhora, “Santa Maria Madalena” e “S. João Evangelista”. Valioso por estar
cronografado de 1630, encontra-se muito atingido por ruína e foi restaurado no
ano de 1865 (data sobrepujante), período em que todo este núcleo sofreu
tentativa infeliz de fixação, sendo-lhe opostos azulejos avulsos, alguns
fragmentados e outros de padrão solto, interessantes. Menos acertada foi,
ainda, a imitação esponjada da cimafronte, feita de tintas industriais.
A abside,
de planta quadrada, da 2.ª metade do séc. XVI, mas totalmente reformada em
meados de setecentos e alindada nos fins do séc. XIX, tem cobertura de meio
canhão engalanada, axialmente por composição heráldica das armas reais de
Portugal, da Ordem de Santiago e dos donatários Lobos da Silveira, condes-barões
de Alvito. Forro alto de azulejos policrómicos, dividido em duas partes
distintas e de épocas bem diferenciadas; rodapé, de silhares flóricos, de
finais do reinado de Filipe IV, e corpo superior, de fabrico e qualidade
medíocre, apenas valorizado pelo cronograma de 1693. Contra o arco triunfal,
angularmente, conservam-se duas das primitivas mísulas de granito,
quinhentista, servindo de repisas de nichos moldurados, hoje despidas de
imaginária.
O
altar-mor é constituído por opulento retábulo de madeira, discretamente
entalhado, do tipo barroco joanino, com colunas salomónicas, grande sacrário e
tímpano guarnecido de anjos simbólicos da expansão da Igreja, segurando o Sol e
a Lua. Poucos vestígios dourados conservam, e foi pintado de azul em tempos
modernos.
A imagem
titular de “Nª Sª da Represa” – Virgem com o Menino - , de pedra de Ançã,
estofada e de período final do gótico, subsiste no camarim, onde fora
entronizado após a “Visitação” de 1534 (alt. 95 cm ). Em consolas laterais
vêem-se as esculturas de “S. Sebastião” (70 cm ) e “Santo António” (80 cm ), ambas de madeira
policromada; a primeira do séc. XVII e a do glorioso taumaturgo português, da
centúria seguinte e de menor valia artística.
Na
sacristia, nada de especial se recomenda, além do lavabo, marmóreo, em forma de
urna, e baixo lambril de azulejos coloridos, de tipos dispersos sobrantes da
encomenda seiscentista da nave.
Do templo
saíram na década de 1950, para restauro no Laboratório Dr. José de Figueiredo,
do Museu Nacional de Arte Antiga, de Lisboa, dois painéis de pintura sobre
tábua, do ciclo maneirista post-tridentino, que representavam “S. Tiago aos
Moiros” e “Apresentação do Menino no Templo”. São os padroeiros da igreja e
pertenceram, segundo se admite, ao primitivo retábulo do presbitério.
A capela
encontrava-se na posse do lavrador José Félix de Mira, que foi Governador Civil
de Évora, e donatário da Herdade da Represa.
Dimensões
do edifício: nave – comp. 17,50 x larg. 5,70 m , capela-mor – 3,95 x 3,95 m .
Esta
ermida foi classificada “Imóvel de Interesse Público”, em 7 de Janeiro de 2015.
Augusto Mesquita
Publicado no Mensário “folha de Montemor”
Fevereiro 2016. Reprodução autorizada
pelo Autor
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