sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS

         Homenagem do Al Tejo a Domingos Maria Peças

                   ( hoje a cargo do Rufino Casablanca)

            “As Coisas nem Sempre são o que Parecem”

Por mais estranho que pareça isto era o título dum filme realizado em Hollywood lá pela década de quarenta e que custou caro aos seus autores. Era uma paródia que pretendia (e conseguiu), gozar com alguns dos principais donos dos estúdios dessa época. E quem é que eram esses donos? Pois nem mais nem menos que William Fox, os irmãos Warner, Michael Todd, Samuel Goldwyn ou Louis B. Mayer. E outros mais do mesmo calibre. Os donos e senhores da indústria cinematográfica. Senhores todos poderosos que faziam e desfaziam estrelas como quem muda de camisa. Pois bem, dois Edward’s, um de apelido Webber e outro Dereck, que já andavam na mira dos mandões porque tinham fundado um sindicato que pretendia fazer a defesa dos figurantes e outros participantes e figuras menores do mundo do cinema, foram chamados à pedra e despedidos com a justificação de que eram comunistas. Exerciam por essa época os ofícios de realizador, o Webber, e argumentista o Dereck. Acontece que o Dereck era filho dum dos maiores milionários dos States. Fortuna feita nos petróleos e nos caminhos de ferro. Queixinhas ao papá milionário e houve dinheiro a rôdos para o menino fazer o que quisesse. E fez. Ele e o outro Edward. O Webber. E então fizeram isto:


 Título Original: “As coisas nem Sempre são o que Parecem”
Idioma: Inglês
Argumento: Edward Webber e Edward Dereck
Música: Concerto para Piano nº 4, de Mozart
Realização: Edward Webber
Interpretações de Gus Gordon, Elsa Tearle, Carrol MacQuante…. entre outros

E o gozo está em ver os actores, autênticos sósias dos mandões que nomeámos aqui arriba, fazerem papéis de pedófilos, maricas, assassinos, mandantes das mais incríveis e escabrosas situações. Tudo para comprometerem a imagem pública de quem os tinha despedido. Um deles até aparece num “Acto Patriótico” abominando os judeus sendo, ele próprio, judeu. Uma paródia de se lhe tirar o chapéu. Numa alegoria, exagerada, talvez, em que acabam todos chafurdando numa pocilga. Literalmente.

E embora o realizador e o argumentista apenas pretendessem vingar-se do tratamento que tal gentinha lhes tinha dado, a verdade é que o filme foi, enquanto o deixaram circular, um grande êxito. É claro que logo os tribunais funcionaram e o filme foi retirado da circulação, não sem que antes os seus responsáveis tivessem que pagar pesadas multas, o que teria sido o mal menor, devido ao muito dinheiro que um deles tinha. O pior foi que o filme ficou esquecido numa prateleira durante quase cinquenta anos e só agora lhe sacudiram o pó. Anda por aí em cassete vídeo no sistema “beta”.
E os seus autores, passados que foram os entusiasmos da juventude, passaram a fazer aquilo para que estavam guardados: O Edward Webber, hoje, é dono de um dos maiores estúdios de televisão dos Estados Unidos da América. E até faz parte da Liga Anticomunista Americana. E também não permite sindicatos nos seus domínios. Há muita gente assim. Até por cá.
Quanto ao outro Edward, o Dereck, esse, limitou-se a herdar os milhões do papá, e a casar-se, de modo sucessivo, com belas estrelas de cinema. Parece que tem sido trampolim para algumas delas. Pelo menos é o que se diz lá por Holliwood
Bem, no fim de contas, valeu pelo incómodo que causaram àquelas caliqueiras lá do meio do século.

Rufino Casablanca
Monte do Meio – 12 de Maio de 1990

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