Segunda, 14 Dezembro 2015
Há quem afirme que o ciclo político que
agora se iniciou será marcado por uma extrema instabilidade. Um visão
patrocinada por todos aqueles que inverteram as regras da democracia nos
últimos anos para destruir o nosso país e os pilares constitucionais que o
suportavam.
Eu olho para este ciclo com enorme esperança, não porque tenha total
confiança no actual governo, mas porque o centro da política está onde nunca
deveria ter saído: na Assembleia da República.
As eleições de 4 de Outubro tiveram uma
enorme importância. Em primeiro lugar, porque foram bastante pedagógicas: uma
parte importante dos eleitores perceberam que não votam para eleger um governo,
mas para eleger deputados e deputadas, e que é das maiorias que se formam que
emerge um governo, ou melhor um programa de governo, que é ou não viabilizado na
Assembleia. Em segundo lugar, porque os resultados pressionaram o PS a negociar
com os partidos à sua esquerda para ver o seu programa aprovado. Não estou com
isto a desvalorizar a posição do PS. É bem certo que poderiam não o ter feito e
ter viabilizado um governo de direita, pelo que não posso deixar de elogiar a
sua atitude e capacidade de negociação à esquerda.
A negociação será permanente e isso só
pode ser positivo. Da negociação prévia, foram alcançados acordos muito
importantes, que terão um impacto directo nas nossas vidas e que poderão travar
o ciclo de empobrecimento que estava em curso. Muitas mais conquistas serão
possíveis, se todos os partidos intervenientes tiverem sentido de
responsabilidade e pensarem na vida concreta dos cidadãos e cidadãs do nosso
país.
Não, obviamente que este não é o meu
programa de governo, mas isso não implica que não considere que é possível, com
este governo, trazer mudanças. Serão necessárias maiores mudanças? Sim. Será
necessário enfrentar o poder da finança e os tratados europeus e renegociar a
dívida para permitir ir mais longe do que devolver o que foi retirado? Claro
que sim. Mas quem pensa desta forma tem de perceber a correlação de forças
existente neste momento na Assembleia da República.
Temo que Jerónimo de Sousa não queira ou
não tenha percebido esta correlação de forças. Dizer que o Bloco de Esquerda
desistiu do aumento do salário mínimo para os 600 euros e que o PCP não
desiste, traduz um discurso destrutivo e não construtivo. Se Jerónimo não sabe,
que fique claro que o Bloco não desistiu de nada, e especialmente não desistiu
dos portugueses. Claro que consideramos que deveria haver o aumento imediato
para os 600 euros. Mas a negociação permitiu que exista um aumento faseado em 3
anos até este valor. O aumento imediato só aconteceria num quadro
macroeconómico do Bloco ou do PCP, mas temos de ter a humildade democrática de
reconhecer que não temos, ainda, essa força e essa aposta maioritária dos
portugueses. Assim sendo, temos duas opções: ou continuamos a defender o que
sempre defendemos, mas mostrando capacidade de negociar para introduzir
mudanças; ou continuamos a defender o que sempre defendemos no canto dos nossos
confortáveis 10%, deixando o país cair numa desgraça ainda maior.
Estamos, de facto, numa altura de
escolhas, em que cada dia conta e em que cada escolha mostra de que lado
estamos e qual a responsabilidade que assumimos na vida política.
Até para a semana!
Bruno Martins
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