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Terça, 06 Outubro 2015 07:52
É um prazer estar de
volta às Crónicas de Opinião da DianaFM, desta feita depois de
umas mais prolongadas férias do que o habitual, motivadas pelas eleições
legislativas de domingo último, precedidas do igualmente habitual período de
campanha. Habitual mas estranho.
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Pareceu-me que, após 41 anos de
Democracia e 105 de República, cá dentro, e 25 anos de Reunificação da poderosa
irmã europeia Alemanha, ao tomar o período de campanha eleitoral como tubo de
ensaio de comportamentos sociais com impacto na opinião dos indivíduos que
tende a generalizar-se às massas, o balanço possível da observação de reações
várias é de que algo, ou muito, está ou mesmo a mudar ou, pelo menos, a
reclamar mudança.
As mudanças fazem-se,
normalmente, por desgaste e o desgaste contemporâneo não me parece que se
resolva nem com cortes que ainda que aparentem ser radicais se revelam fugazes,
nem com uma inércia que redunda em fatalismo. Vivemos numa época em que a
mente, a seguir ao corpo, está cada vez mais desocupada pelo conforto que lhe
vai proporcionando a evolução técnica, mas que continua a ser efémero porque
mortal, exigindo o mais interdito que lhe traz maior prazer ou simplesmente
confundindo-se com os ritmos naturais que lhe poupam energia e obedecem à lei
do menor esforço.
Dias como os que vamos
vivendo, e sim falo também da vaga de refugiados sírios, mesmo que sejam dias
políticos que impõem argumentos mais complexos porque respeitantes ao coletivo,
mexem com cada um de nós individualmente e para além daquilo que é a nossa esfera
familiar e sentimental. Às vezes quando nessa esfera mais íntima soam alarmes,
pensar no resto do mundo é uma forma de irmos dando razão à existência. É
ocupar-nos a mente, agora que o corpo está livre do trabalho mecânico,
substituído pela máquina, e o pensamento se enche também de espaços que o passo
seguinte da civilização humana – ir aliviando as tarefas do raciocínio - vai
deixando para que o Homem usufrua dessa conquista à ociosidade. Pensar torna-se
um ato de resistência quando o que é cómodo para o corpo parece invadir a
razão. Ou quando nos damos conta de que contam com a nossa ociosidade para
pensar em vez de nós, como se o efeito nos fosse tão benéfico como quando a
máquina lava por nós a roupa.
Por tudo isto, e
porque ao longo deste ano de crónicas vou comemorar os 100 anos da vida que
Vergílio Ferreira continua a viver nas palavras que nos deixou, a propósito de
cada crónica citarei o professor, escritor, filósofo que, não sendo de Évora
nela viveu 14 anos, retratando-a como poucos vi de forma tão conseguida fazer.
Vergílio Ferreira fez de Évora uma personagem e isso interessa quem quiser
conhecer Évora, por dentro, ou até quem já a conheça, num saber de experiência
feito.
Porque as opiniões se
fazem de palavras que exteriorizam e partilham pensamentos e, as mais
conseguidas, podem fazer a diferença na vida das pessoas e mudar alguma coisa.
Ou não. E a consciência dessa possível impossibilidade é, por si só e na minha
opinião, já um desafio a partilhar com quem gosto e vou fazê-lo convosco. Escreveu
o Vergílio Ferreira no seu Diário a que chamou Conta-Corrente: Porquê?
Para quê? Economiza os teus «porquê» e «para quê». Ou utiliza-os só até onde
houver resposta. Porque a última resposta a eles é o impossível e o vazio. Ou
então terás de mudar de universo. E estás cá tão bem...
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
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