i)
- Dá prazer e apetece variar o foco deste
“pano cru” de Agosto para uma maré
literária. Uma área à qual o Al Tejo vem prestando, e bem, muita atenção
publicando criações de poetas e várias poetizas (AR,MA,Lisete). Bem acolhidas e bastante lidas pelos seus
Visitantes diários.
É
assim para a poesia, como é para os que gostam das prosas engenhosas do AC, do
Hélder e de outros privilegiados colaboradores . O que importa é que, com altos
e baixos, vamos todos estando metidos nisto dos livros e arroubos literários.
Enquanto
leitor miúdo, sempre imaginei que o
paraíso poderia muito bem ser uma biblioteca mundial, onde já libertos da vida
material, teríamos todo o tempo do mundo para ler todos os livros do mundo.
Bem
sei que isto é mais uma ingénua utopia, à J. Luís Borges, mas é aquela que me
veio à cabeça. Metendo agora a minha colherada, direi que sempre gostei de ler
o G. G. Márquez como aprecio deveras o escritor
Vargas Llosa. Ambos são autores de livros fabulosos, comprometidos com o mundo e as multivivências
sociais dos seus países.
De
G.G. Márquez basta recordar “Cem Anos de
Solidão” para se ter uma noção de que o colombiano era um criador de mundos
mágicos e de criaturas fascinantes que, tanto subiam ao inferno como desciam do
céu. Quais personagens e quais vidas sujeitas a inesperados desatinos e
recriações (ir)reais capazes de tudo e de estarrecer os leitores.
No
entanto.
Devo
dizer que um dos livros que mais me impressionou é “ A Festa do Chibo” de
Vargas Llosa, onde é abordada a ditadura de Trujillo na Republica Dominicana,
sem esquecer a “Conversa na Catedral onde aparece esmiuçada a ditadura de
Odria, no Peru, o seu país. Era ele ainda uma criança e depois um jovem
estudante.
Marcou-me
a maneira como são postas por Vargas Llosa, em pano cru, e de forma crua, duas
questões que continuam actuais : a) quando um ditador (disfarçado de “novos
poderes”, alguns até aparentemente democráticos como vamos vendo por cá e pelo
mundo fora) cai em cima de nós, como é que vamos conseguir sobreviver enquanto
seres com moral?
(b)
e mais: como é que podemos manter a decência quando quase tudo o resto
está e
continua afinal na merda?
ii)
Vistas
as coisas assim, percebe-se com a maior clareza que Vargas Llosa que esteve na
semana passada em Lisboa, na Universidade Nova, tenha recordado numa entrevista
que deu depois, à revista Atual, alguns avisos e alertas que passo
abreviadamente a enunciar.
Ora
vejam.
Diz
Vargas Llosa “que sentiu na pele da sua evolução ideológica durante muito tempo
que ser critico do marxismo, do comunismo, era bastante impopular no meio
intelectual. Creio que isso mudou. (…) O que não quer dizer que eu não ponha em
causa muitos aspectos do capitalismo contemporâneo.”
E
acrescentava sobre a actual crise dos sistemas democráticos isto: “A crise da
democracia tem a ver essencialmente com a corrupção. O principal problema do
nosso tempo. O crescimento desmesurado dos Estados, da burocracia, dos
labirintos do poder político, tudo isso gerou focos infecciosos de corrupção. O
que leva as pessoas a perderem a confiança nas instituições”.
(…)
Mas, esclarece-nos V. Llosa, “ a raíz do
problema «é cultural» como tentei
explicar num ensaio intitulado “ A Civilização do Espectáculo”. Vivemos num
mundo em que já não se sabe o que é bom, mau, belo, feio. É esse caos que
ameaça a democracia.
Seguindo
de perto V. Llosa, diria eu, que pior do que não querermos ver, ou criticar as
evoluções sociais que nos rodeiam, é ficarmos estáticos e agarrados uma vida
inteira, às mesmas ideias e lugares comuns como autómatos, e sem espirito
critico. Dou um exemplo: a corrupção ou o
excesso de leis não vai diminuir.
Vai aumentar.
O
certo, é que quando mal nos descuidamos e distraímos, o que realmente nos
acontece, sem repararmos nisso, é estarmos a dar vários passos atrás sem
perceber o que, entretanto, já mudou e está a transformar-se à nossa volta.
A
utopia mais profunda que V. Llosa parece perseguir, é a de que não devemos
deixar-nos anestesiar com actores e prazeres efémeros e deixar que tudo fique à
superfície apenas à mercê da chamada sociedade tecnológica. “É uma utopia feroz
e fatal”.
Se
isto não é um sinal coerente do que tem sido o trajecto de V. Llosa ao longo
dos seus três principais percursos de vida: enquanto escritor, enquanto cidadão
e enquanto politico que também o foi, pergunto eu: afinal “em que porra de
mundo” repetitivo e politicamente mentiroso andamos a deixar envolver-nos,
ficando completamente a leste de novos e arejados horizontes?
Melhores
saudações
António Neves Berbem
7/8/2014)
PS:
na postagem de 28/7/14, para não alongar o texto, não tivemos
oportunidade de reafirmar que, Israel na Faixa da Gaza, não pode fazer e
destruir tudo o que quer, mesmo tendo o apoio dos americanos. Se há direitos históricos
de um lado também os deve haver do lado palestiniano. Morticínios e massacres
civis permanentes é que não. Julgo que será esta a visão “diplomática” que
o Al Tejo também partilha.
5 comentários:
Pôr as coisas em pé de igualdade de direitos pode parecer que se está a ser imparcial mas não! Os Judeus, vindes de qualquer ponto do mundo, ocuparam e expulsaram os palestinianos nativos, de vários credos que sempre ocuparam aqule território. Não há direitos históricos, há justiça, pelo menos devia haver!
Ali direitos históricos só os palestinianos que estão lá à milhares de anos e o antigo Israel nunca foi ali.
Não querendo ser bárbaro e em tom de brincadeira questiono se o Hitler não teria alguma razão em relação aos Judeus.
OBS.
Então, não se aprende e não se quer ver,que "a justiça é um dos principais corolários dos direitos", ainda para mais se estes forem históricos, como é o caso. E se,além disso,disserem como dizem respeito à vida dos árabes e judeus que vêm vivendo naquela mesma pequena parte do mundo.
Melhores cumprimentos
ANB
A culpa deve ser atribuída a quem a tem. Quem arranjou este problema foram os países que ganharam a guerra contra o Hitler.
Foram eles que resolveram dar uma pátria aos judeus, contrariando o que Deus tinha declarado: "Nunca mais terás pátria".
Poderiam ter-lha dado no território deles. Mas não! Como sempre, julgando-se donos do mundo, resolveram roubar aquele território aos palestinos e deram-no aos judeus. Como se aquilo lhes pertencesse a eles.
E pior ainda. Os americanos armaram os judeus a tal ponto, que até lhe forneceram as condições para terem a bomba atómica.
E agora? Quem é que dá conta deles?
Só os palestinos. Os judeus nunca vão ganhar esta guerra. Podem matá-los todos, com a complacência dos que se julgam donos do mundo. Vencê-los nunca serão capazes de o fazer.
O Berbem é que não aprendeu ou não quiz entender o que eu disse: Critiquei o conceito que usou, de direito "histórico", eufemismo de prepotência e não de direitos e muito menos do Direito!
Alinhabar discurso de acordo com os poderes dominantes, pode render mas, não enobrece!! É o seu hábito.
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