quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PANO CRU - Textos de A.N.B.

i)
  - Dá prazer e apetece variar o foco deste “pano cru” de Agosto para uma  maré literária. Uma área à qual o Al Tejo vem prestando, e bem, muita atenção publicando criações de poetas e várias poetizas (AR,MA,Lisete).    Bem acolhidas e bastante lidas pelos seus Visitantes diários.
É assim para a poesia, como é para os que gostam das prosas engenhosas do AC, do Hélder e de outros privilegiados colaboradores . O que importa é que, com altos e baixos, vamos todos estando metidos nisto dos livros e  arroubos literários.
Enquanto leitor miúdo, sempre imaginei  que o paraíso poderia muito bem ser uma biblioteca mundial, onde já libertos da vida material, teríamos todo o tempo do mundo para ler todos os livros do mundo.
Bem sei que isto é mais uma ingénua utopia, à J. Luís Borges, mas é aquela que me veio à cabeça. Metendo agora a minha colherada, direi que sempre gostei de ler o G. G. Márquez como aprecio deveras o escritor  Vargas Llosa. Ambos são autores de livros fabulosos,  comprometidos com o mundo e as multivivências sociais  dos seus países.
De G.G. Márquez basta recordar  “Cem Anos de Solidão” para se ter uma noção de que o colombiano era um criador de mundos mágicos e de criaturas fascinantes que, tanto subiam ao inferno como desciam do céu. Quais personagens e quais vidas sujeitas a inesperados desatinos e recriações (ir)reais capazes de tudo e de estarrecer os leitores.
No entanto.
Devo dizer que um dos livros que mais me impressionou é “ A Festa do Chibo” de Vargas Llosa, onde é abordada a ditadura de Trujillo na Republica Dominicana, sem esquecer a “Conversa na Catedral onde aparece esmiuçada a ditadura de Odria, no Peru, o seu país. Era ele ainda uma criança e depois um jovem estudante.
Marcou-me a maneira como são postas por Vargas Llosa, em pano cru, e de forma crua, duas questões que continuam actuais : a) quando um ditador (disfarçado de “novos poderes”, alguns até aparentemente democráticos como vamos vendo por cá e pelo mundo fora) cai em cima de nós, como é que vamos conseguir sobreviver enquanto seres com moral?
(b) e mais: como é que podemos manter a decência quando quase tudo o resto está  e  continua afinal na merda?

ii)
Vistas as coisas assim, percebe-se com a maior clareza que Vargas Llosa que esteve na semana passada em Lisboa, na Universidade Nova, tenha recordado numa entrevista que deu depois, à revista Atual, alguns avisos e alertas que passo abreviadamente a enunciar.
Ora vejam.
Diz Vargas Llosa “que sentiu na pele da sua evolução ideológica durante muito tempo que ser critico do marxismo, do comunismo, era bastante impopular no meio intelectual. Creio que isso mudou. (…) O que não quer dizer que eu não ponha em causa muitos aspectos do capitalismo contemporâneo.”
E acrescentava sobre a actual crise dos sistemas democráticos isto: “A crise da democracia tem a ver essencialmente com a corrupção. O principal problema do nosso tempo. O crescimento desmesurado dos Estados, da burocracia, dos labirintos do poder político, tudo isso gerou focos infecciosos de corrupção. O que leva as pessoas a perderem a confiança nas instituições”.
(…)
 Mas, esclarece-nos V. Llosa, “ a raíz do problema «é cultural»  como tentei explicar num ensaio intitulado “ A Civilização do Espectáculo”. Vivemos num mundo em que já não se sabe o que é bom, mau, belo, feio. É esse caos que ameaça a democracia.
Seguindo de perto V. Llosa, diria eu, que pior do que não querermos ver, ou criticar as evoluções sociais que nos rodeiam, é ficarmos estáticos e agarrados uma vida inteira, às mesmas ideias e lugares comuns como autómatos, e sem espirito critico. Dou um exemplo: a corrupção ou o  excesso de leis não vai diminuir.  Vai aumentar.
O certo, é que quando mal nos descuidamos e distraímos, o que realmente nos acontece, sem repararmos nisso, é estarmos a dar vários passos atrás sem perceber o que, entretanto, já mudou e está a transformar-se à nossa volta.
A utopia mais profunda que V. Llosa parece perseguir, é a de que não devemos deixar-nos anestesiar com actores e prazeres efémeros e deixar que tudo fique à superfície apenas à mercê da chamada sociedade tecnológica. “É uma utopia feroz e fatal”.
Se isto não é um sinal coerente do que tem sido o trajecto de V. Llosa ao longo dos seus três principais percursos de vida: enquanto escritor, enquanto cidadão e enquanto politico que também o foi, pergunto eu: afinal “em que porra de mundo” repetitivo e politicamente mentiroso andamos a deixar envolver-nos, ficando completamente a leste de novos e arejados horizontes?
Melhores saudações
  António Neves Berbem
      7/8/2014) 

PS: na postagem  de 28/7/14, para não alongar o texto, não tivemos oportunidade de reafirmar que, Israel na Faixa da Gaza, não pode fazer e destruir tudo o que quer, mesmo tendo o apoio dos americanos. Se há direitos históricos de um lado também os deve haver do lado palestiniano. Morticínios e massacres civis permanentes é que não. Julgo que será esta a visão “diplomática” que o  Al Tejo também partilha.


5 comentários:

Anónimo disse...

Pôr as coisas em pé de igualdade de direitos pode parecer que se está a ser imparcial mas não! Os Judeus, vindes de qualquer ponto do mundo, ocuparam e expulsaram os palestinianos nativos, de vários credos que sempre ocuparam aqule território. Não há direitos históricos, há justiça, pelo menos devia haver!

Anónimo disse...

Ali direitos históricos só os palestinianos que estão lá à milhares de anos e o antigo Israel nunca foi ali.
Não querendo ser bárbaro e em tom de brincadeira questiono se o Hitler não teria alguma razão em relação aos Judeus.

Anónimo disse...



OBS.


Então, não se aprende e não se quer ver,que "a justiça é um dos principais corolários dos direitos", ainda para mais se estes forem históricos, como é o caso. E se,além disso,disserem como dizem respeito à vida dos árabes e judeus que vêm vivendo naquela mesma pequena parte do mundo.

Melhores cumprimentos

ANB

Anónimo disse...

A culpa deve ser atribuída a quem a tem. Quem arranjou este problema foram os países que ganharam a guerra contra o Hitler.
Foram eles que resolveram dar uma pátria aos judeus, contrariando o que Deus tinha declarado: "Nunca mais terás pátria".
Poderiam ter-lha dado no território deles. Mas não! Como sempre, julgando-se donos do mundo, resolveram roubar aquele território aos palestinos e deram-no aos judeus. Como se aquilo lhes pertencesse a eles.
E pior ainda. Os americanos armaram os judeus a tal ponto, que até lhe forneceram as condições para terem a bomba atómica.
E agora? Quem é que dá conta deles?
Só os palestinos. Os judeus nunca vão ganhar esta guerra. Podem matá-los todos, com a complacência dos que se julgam donos do mundo. Vencê-los nunca serão capazes de o fazer.

Anónimo disse...

O Berbem é que não aprendeu ou não quiz entender o que eu disse: Critiquei o conceito que usou, de direito "histórico", eufemismo de prepotência e não de direitos e muito menos do Direito!
Alinhabar discurso de acordo com os poderes dominantes, pode render mas, não enobrece!! É o seu hábito.