sexta-feira, 6 de junho de 2014

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS - FASE V

                                                  BIBI ANDERSSON


Título Original: “Persona”
Título Português: “A Máscara”
País de Produção: Suécia
Ano de Produção: 1966
Produção: Ingmar Bergman
Argumento: Ingmar Bergman
Realização: Ingmar Bergman
Intérpretes: Bibi Andersson, Liv Ullmam, Margaretha Krook....

Como se vê, Ingmar Bergmam, faz quase tudo neste filme: assina a produção, o argumento e a realização. E isso acontece porque este homem do cinema era muito centralizador. Desde a concepção da obra, até à montagem final, tudo, em todos os filmes em que participou, teve a sua opinião, o seu dedo, o seu palpite. Se as duas principais actrizes que participam neste filme, não me merecessem enorme respeito individual, se não tivesse conhecimento que elas, por si mesmas, são enormes na arte que praticam, eu diria que também eram criação de Ingmar Bergman. As duas, Bibi Andersson e Liv Ulmam, começaram a fazer cinema sob a orientação deste homem e trabalharam juntos até ele se deixar destas lides. É claro que ambas fizeram muitas outras coisas boas, tanto no cinema como no teatro. Muitas outras coisas bem feitas e em que ele não interferiu. Mas também é verdade que foi sob a sua batuta que elas atingiram o pleno estatuto artístico. A primeira, Bibi Andersson, depois de fazer teatro desde criança, quando se colocou à frente das câmaras, foi para participar num simples anúncio comercial, dirigido por Ingmar Bergman. Calculem! Quem diria! Às tantas, sobretudo em início de carreira, há é que ganhar a vida.
Vou deixar-me de tretas e conversas paralelas. Vou é fixar-me no único objectivo que hoje me fez sentar em frente da máquina de escrever: Falar de Bibi Andersson e do filme “Persona”.
O filme é um labirinto. O espectador mais desprevenido, ou menos conhecedor dos anteriores filmes do realizador, no fim, fica a pensar que o cinema de autor – sendo este o caso – é um enigma mais próximo de difíceis palavras cruzadas japonesas do que de entretenimento. Ora cabe aqui dizer, e já, que os filmes deste realizador, nunca foram cinema de entretenimento. Quem quiser entretenimento vai ver um filme do 007. E vai bem, porque os filmes do 007 são muito bem feitos. São feitos para entreter. Mas quem for ver um filme de Ingmar Bergman, deve levar um espaço aberto na cabeça, de modo a lá caber a história que o realizador lhe quer contar. No tempo e no modo. E segundo os métodos do próprio realizador.
Contudo, o enredo do filme é, aparentemente, muito simples: Duas mulheres, ainda jovens, encontram-se numa casa de campo luxuosa (ou será antes uma pequena clínica/mansão, individualizada para um cliente apenas, sem corpo médico permanente, e arredada do resto do mundo, situada numa ilha longínqua?). As duas mulheres são: Uma paciente muito rica e famosa a braços com uma depressão que coloca em risco o seu juízo ou mesmo a sua vida; a outra, é uma enfermeira psiquiátrica encarregada do tratamento da primeira. É aqui que o busílis começa. É inevitável o confronto entre aqueles dois mundos, agravado pelo ambiente de claustrofobia. Primeiro fala uma, depois fala outra. E o passado de cada uma delas começa a emergir. O aborto que uma fez porque a carreira profissional não se compadecia com o facto de ter filhos; O filho(?) da outra que desapareceu (morreu?), e o consequente repúdio pela maternidade, temendo novas desilusões? Um beco sem saída, é o que nos é apresentado.
Se nesta altura do filme, o espectador ainda mantiver interesse pelo que lhe contam, se não foi apenas à procura do tal entretenimento, lógico será pensar que, como em todos os becos, as mulheres de que falamos deverão voltar para trás e procurar uma saída que as magoe o menos possível. Isso nem sempre será possível, mas valerá sempre a pena fazer a tentativa.
Quanto às duas mulheres do filme não se chega a saber bem o que foi feito delas.
Bibi Andersson ainda trabalhou no Estados Unidos da América. Ficará para outro escrito a relação artística que manteve com realizadores do calibre de John Huston e Robert Altman. Depois voltou para a Suécia. E falarei ainda de “Morangos Silvestres”: O filme de Ingmar Bergman que a deu a conhecer ao mundo.


Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – 1995

1 comentário:

Anónimo disse...

Leio sempre com muito interesse estas cronicas sobre o cinema do passado.
Bem descritas e mostrando saber sobre o que escreve.
Tenho impressão que deve ter sido um critico de cinema agora retirado.
Obrigado pelas recordações
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Ana Morgado (de Lisboa)