O vinho produzido em Montemor-o-Novo
O
vinho é uma bebida alcoólica feita de fermentação do sumo da uva. A palavra tem
a sua origem etimológica no grego antigo e através do latim “vinum”, que tanto
podem significar vinho como videira.
A
sua origem é impossível de descrever, pois o vinho nasceu antes da escrita. Os
enólogos dizem que a bebida pode ter surgido por acaso, talvez por um punhado
de uvas amassadas esquecidas num recipiente, que sofreram posteriormente os
efeitos da fermentação.
As
expressões “dádiva de deuses”, “sangue de Cristo”, e “essência da própria
vida”, atribuídas a este produto, corroboram bem o papel do vinho na vertente
cultural e na religião cristã, que desde sempre enalteceram e dignificaram este
saboroso líquido.
O
historiador Jorge Fonseca no seu artigo “A cultura da vinha em
Montemor-o-Novo”, publicado na Revista de Cultura “Almansor”, n.º 7 / 2.ª
série, refere que existem provas escritas da prática da viticultura em
Montemor-o-Novo e território circundante, pelo menos, deste o século XIV. O
mais antigo é de 1331 e trata da doação, feita por Pêro Vicente, de uma vinha
no lugar de Valverde, à Igreja de Santa Maria dos Açougues ou da Vila. Outros
sítios referidos nesses documentos como tendo vinhas foram Abadinho, Bucha,
Cabeças de Maria Vicente, Carregal, Felgueira, Gafanhão, Lage, Lagar dos
Judeus, Ricomem, Santo André, Sesmo, Valbom e Vale de Paraíso.
No
condado de Valenças, o respectivo conde, Luís Leite Pereira Jardim, construiu
numa das suas propriedades, a Abrunheira, uma magnífica adega, considerada uma
das melhores do Alentejo.
Na
sede do concelho, surgiu depois a enorme Adega da Casa Agrícola Marques dos
Santos, situada no lugar hoje ocupado pela ampliação do quartel dos nossos
Soldados da Paz. O vinho, produzido com as uvas da Vinha do Cortiço, era
vendido no próprio local, e também na Adega do senhor Daniel “Voltinhas”, na
Rua de Avis, actualmente explorada pelo senhor Teodósio Tanganho.
Na
década de 40, Mestre Leopoldo Nunes então jornalista de “O Século”, com o
objectivo de dar a conhecer, e promover a sua terra natal, convidou vários
colegas da imprensa lisboeta a visitarem a Vila Notável. O almoço que se seguiu
foi regado com o vinho da “Adega do Marques”, que mereceu os maiores elogios
por parte dos jornalistas convidados.
Além
desta adega, também ficaram célebres as adegas do Senhor Vítor Calção nas
Silveiras, e a do Senhor Delfino Agostinho no Monte Estoril que vendiam o vinho
por eles produzido. Os mais abastados, além do tradicional copo de 5 tostões,
ou do jarro aferido, mandavam vir petisco – carne frita, torresmos, iscas,
linguiça ou farinheira assada.
Para
consumo próprio, e para os amigos, o saudoso Manços Carolino, na Rua de S.
Domingos, o bom vivant Casa Branca, no Reguengo, e o popular José Manuel
Prates, junto à Fábrica da Cortiça, produziam uma pomada de se lhe tirar o
chapéu.
Actualmente,
a Quinta da Plansel, a Sociedade Agrícola de Torais, a Herdade do Menir, o
Freixo do Meio, o L’And Vineyards, o Pomar das Almas e a Horta do Leal, entre
outras, levam através dos seus vinhos, o nome de Montemor-o-Novo a todo o lado.
De
riqueza nacional envergonhada, quando no tempo da “outra senhora”, se defendia
que “beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses”, é no tempo que
corre, um potencial reconhecido, e uma das poucas riquezas com que o nosso país
pode contar.
Augusto Mesquita:
In: Folha Montemor Junho 2014
1 comentário:
interessante! muito interessante.
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