quarta-feira, 25 de junho de 2014

AUGUSTO MESQUITA DISSERTA SOBRE VINHOS DE MONTEMOR

                               O vinho produzido em Montemor-o-Novo


O vinho é uma bebida alcoólica feita de fermentação do sumo da uva. A palavra tem a sua origem etimológica no grego antigo e através do latim “vinum”, que tanto podem significar vinho como videira.
            A sua origem é impossível de descrever, pois o vinho nasceu antes da escrita. Os enólogos dizem que a bebida pode ter surgido por acaso, talvez por um punhado de uvas amassadas esquecidas num recipiente, que sofreram posteriormente os efeitos da fermentação.
            As expressões “dádiva de deuses”, “sangue de Cristo”, e “essência da própria vida”, atribuídas a este produto, corroboram bem o papel do vinho na vertente cultural e na religião cristã, que desde sempre enalteceram e dignificaram este saboroso líquido.
            O historiador Jorge Fonseca no seu artigo “A cultura da vinha em Montemor-o-Novo”, publicado na Revista de Cultura “Almansor”, n.º 7 / 2.ª série, refere que existem provas escritas da prática da viticultura em Montemor-o-Novo e território circundante, pelo menos, deste o século XIV. O mais antigo é de 1331 e trata da doação, feita por Pêro Vicente, de uma vinha no lugar de Valverde, à Igreja de Santa Maria dos Açougues ou da Vila. Outros sítios referidos nesses documentos como tendo vinhas foram Abadinho, Bucha, Cabeças de Maria Vicente, Carregal, Felgueira, Gafanhão, Lage, Lagar dos Judeus, Ricomem, Santo André, Sesmo, Valbom e Vale de Paraíso.
            No condado de Valenças, o respectivo conde, Luís Leite Pereira Jardim, construiu numa das suas propriedades, a Abrunheira, uma magnífica adega, considerada uma das melhores do Alentejo.
            Na sede do concelho, surgiu depois a enorme Adega da Casa Agrícola Marques dos Santos, situada no lugar hoje ocupado pela ampliação do quartel dos nossos Soldados da Paz. O vinho, produzido com as uvas da Vinha do Cortiço, era vendido no próprio local, e também na Adega do senhor Daniel “Voltinhas”, na Rua de Avis, actualmente explorada pelo senhor Teodósio Tanganho.
            Na década de 40, Mestre Leopoldo Nunes então jornalista de “O Século”, com o objectivo de dar a conhecer, e promover a sua terra natal, convidou vários colegas da imprensa lisboeta a visitarem a Vila Notável. O almoço que se seguiu foi regado com o vinho da “Adega do Marques”, que mereceu os maiores elogios por parte dos jornalistas convidados.
            Além desta adega, também ficaram célebres as adegas do Senhor Vítor Calção nas Silveiras, e a do Senhor Delfino Agostinho no Monte Estoril que vendiam o vinho por eles produzido. Os mais abastados, além do tradicional copo de 5 tostões, ou do jarro aferido, mandavam vir petisco – carne frita, torresmos, iscas, linguiça ou farinheira assada.
            Para consumo próprio, e para os amigos, o saudoso Manços Carolino, na Rua de S. Domingos, o bom vivant Casa Branca, no Reguengo, e o popular José Manuel Prates, junto à Fábrica da Cortiça, produziam uma pomada de se lhe tirar o chapéu.
            Actualmente, a Quinta da Plansel, a Sociedade Agrícola de Torais, a Herdade do Menir, o Freixo do Meio, o L’And Vineyards, o Pomar das Almas e a Horta do Leal, entre outras, levam através dos seus vinhos, o nome de Montemor-o-Novo a todo o lado.
            De riqueza nacional envergonhada, quando no tempo da “outra senhora”, se defendia que “beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses”, é no tempo que corre, um potencial reconhecido, e uma das poucas riquezas com que o nosso país pode contar.
Augusto Mesquita:
In: Folha Montemor Junho 2014


1 comentário:

Anónimo disse...

interessante! muito interessante.