terça-feira, 18 de março de 2014

VASCULHAR O PASSADO - Rubrica mensal de Augusto Mesquita

                                        A geminação das “4 Cidades Irmãs”


As geminações desenvolveram-se pouco depois de 1945. Os presidentes de municípios e os cidadãos foram determinados a que não mais a Europa fosse arrasada pela guerra. A maior parte das geminações provém das cidades dos países que haviam sido, até então, divididas pela guerra. A promoção deste novo movimento consistiu, em 1951, numa das prioridades do Conselho dos Municípios e Regiões da Europa. O decénio seguinte foi marcado por uma explosão do número e do tipo de geminações.
            O estabelecimento de laços de geminação entre duas ou mais cidades, de áreas geográficas distintas, decorre da existência de características semelhantes ou de pontos e referências históricas comuns, e procura criar relações de amizade, de solidariedade, culturais, e intercâmbio, estabelecendo mecanismos protocolares.
            As geminações, permitem partilhar problemas, trocar opiniões e descobrir diferentes pontos de vista sobre uma questão de interesse comum.
            Permitem, por exemplo, que jovens de diferentes origens se encontrem, se aprendam a conhecer, e ganhem confiança mútua. Podem, ainda, contribuir para explicar à Europa, a sua razão de ser no mundo de hoje, e no futuro.
            Mas, as geminações requerem um duplo compromisso: das autoridades locais, e dos cidadãos. Dito doutra forma, não existirá uma verdadeira geminação sem a participação activa dos cidadãos!
            As geminações são ainda, a expressão da unidade e da identidade europeias. Representam, sem qualquer dúvida, a forma mais visível de cooperação europeia. Não é comum encontrarmos à entrada de milhares de municípios e cidades, as placas indicando “Geminado com…”?
            Em Portugal, as primeiras geminações surgem na década de 80, sendo celebradas com outros municípios portugueses, europeus e africanos. Existem no nosso país, mais de três centenas de geminações.
            Na sequência da elevação das vilas do Fundão, Marinha Grande, Montemor-o-Novo e Vila Real de Santo António à categoria de cidades, no dia 11 de Março de 1988, por iniciativa do município de montemorense foram desenvolvidos contactos com as três autarquias cujos brasões passaram a conter 5 castelos, no sentido de alcançarem uma geminação a quatro.
            No 5.º aniversário da elevação de Montemor-o-Novo a cidade procedeu-se à Geminação das cidades do Fundão, Marinha Grande, Montemor-o-Novo e Vila Real de Santo António, com o seguinte programa:
            10,30 Horas - Chegada das delegações das quatro cidades; 11,00 Horas – Içar das bandeiras de Portugal e dos quatro municípios; Chegada das estafetas das cidades irmãs; 11,30 Horas - Cerimónia de assinatura do protocolo de geminação das quatro cidades no Salão Nobre, seguida de intervenções dos Presidentes das Câmaras envolvidas; 12,30 Horas - Encontro dos Presidentes de Câmara com a Comunicação Social; 13,30 Horas - Almoço-convívio, oferecido pela Autarquia Montemorense.

Protocolo de Geminação
           
            Nós, Presidentes das Câmaras Municipais de Marinha Grande, Fundão, Montemor-o-Novo e Vila Real de Santo António, eleitos livremente pelo sufrágio dos nossos cidadãos, considerando que o acto histórico que une os nossos Municípios, a importância dos laços de amizade e cooperação que devem existir entre os povos e convictos em corresponder às aspirações profundas e às necessidades das nossas populações, neste dia, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Montemor-o-Novo assumimos o solene compromisso de manter laços permanentes entre as respectivas instituições municipais, de desenvolver um programa de intercâmbio entre os seus habitantes em todas as áreas, conjugando todos os esforços para o êxito desta necessária tarefa de paz e prosperidade.
            E por ser esta a nossa vontade agora solenemente assumida, vamos apor sobre este pergaminho as nossas assinaturas e o selo branco dos nossos Municípios.
11 de Março de 1993
            O Presidente da Câmara Municipal do Fundão – José de Sampaio Lopes
            O Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande – João Barros Duarte
            O Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo – José Vicente Grulha
           O Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António – António  Maria Farinha Murta

            Neste dia foi distribuído gratuitamente, o número 0 do Boletim do Projecto das “4 cidades”, com uma tiragem de dez mil exemplares.
            Em 1994 nasceu o projecto “À Descoberta das 4 cidades”, um projecto inter-escolar que pretendia dar oportunidade a todas as crianças do 1.º Ciclo de conhecerem estas cidades, geograficamente, gastronomicamente, culturalmente… tão diferentes.
            O projecto nasceu numa escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico (Aldeia de Joanes), do concelho do Fundão, por iniciativa do professor Joaquim Luís Gouveia.
            Começou por ser apresentado na Câmara Municipal do Fundão onde foi aceite. Em Março de 1994 este projecto foi apresentado a todos os vereadores do pelouro da educação das “cidades irmãs”, em Montemor-o-Novo, tendo sido unanimemente aceite e julgado como um óptimo elemento de ligação entre estas cidades.
            Elementos identificadores – O símbolo que identifica este projecto é um caracol. Simboliza o percurso lento, mas persistente, que todos os participantes fazem, por estas terras desconhecidas.
            Cada cidade está identificada por uma cor: Fundão – verde; Marinha Grande – amarelo; Montemor-o-Novo – vermelho; Vila Real de Santo António – branco.
            O Hino “O Caracol”, poema escrito pela nossa conterrânea de S. Cristóvão, a professora Benvinda Quenino Soeiro actualmente correspondente na sua Terra Natal do nosso colega “O Montemorense”, e musicado pelo professor António Ferreira Xavier, cantada pelas vozes afinadas das centenas de alunos, faz das comemorações do aniversário das 4 cidades o seu ponto mais alto.
            Reúnem-se, de forma rotativa em cada uma das cidades, não só os autarcas, como toda a comunidade escolar envolvida no projecto, alunos, professores e auxiliares.
            As crianças vestindo t-shirts com o logótipo do caracol (símbolo do projecto), bonés com a cor designada para o seu concelho e um balão atado ao pulso, transportam uma placa identificadora da sua cidade, distribuem à população o boletim informativo do projecto e convergem para a praça frente ao edifício da Câmara Municipal, onde cantam o Hino “Caracol da Amizade”. Segue-se o hastear das bandeiras dos municípios, ao som da banda local. O programa continua com a oferta de lembranças aos Presidentes das Câmaras Municipais, efectuada por um casal de alunos vestidos com o traje típico de cada região. A festa conta ainda com o lançamento de 250 balões. O céu ficará coberto de verde, amarelo, vermelho e branco, as cores representativas de cada uma das “cidades irmãs”.
            Os anos foram passando… e segunda-feira, 11 de Março de 2013, as quatro cidades uniram-se, desta feita em Montemor-o-Novo, para comemorar os seus 25 anos de elevação a cidade. Junto ao Cine Teatro Curvo Semedo, a tarde foi de alegria, com alunos e professores das escolas envolvidas no projecto “À descoberta das 4 cidades…”, representantes dos municípios e população, a festejarem a data. Os céus de Montemor encheram-se de balões e confettis com as cores representativas de cada município, não faltando o tradicional hino “Caracol da Amizade”.
            No interior do Curvo Semedo estava instalado um “Mercadinho de Ervas”, onde estiveram presentes os sabores das regiões onde as 4 cidades se inserem. Para as crianças a animação continuou com jogos tradicionais.
            Ao fim da tarde, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, teve lugar uma sessão solene, alusiva aos 25 anos de Elevação a Cidade, na qual intervieram representantes das 4 cidades e o Prof. Joaquim Gouveia, coordenador do projecto “À Descoberta das 4 Cidades”. Este docente, referiu que comemorar um quarto de século de geminação, significa que, o tempo e as pessoas se encarregaram de criar a sua própria história. O professor Joaquim Gouveia terminou com o desejo de que o futuro se escreva, diariamente, com a palavra criança e que o espírito outrora criado e cultivado por todos, continue a unir estas cidades geminadas.
            Este projecto tem sido coordenado pelo professor Joaquim Luís Gouveia, sem qualquer tipo de remuneração. Como se costuma dizer – “por amor à camisola”.
            Além da geminação com o Fundão, Marinha Grande e Vila Real de Santo António, Montemor-o-Novo encontra-se geminado desde 31 de Dezembro de 1993 com a cidade italiana de Pontedera, e desde 27 de Setembro de 2008, com a cidade cabo-verdiana do Tarrafal.

Augusto Mesquita – Março 2014




1 comentário:

Anónimo disse...

Ora aqui está um bom exemplo de colaboração intermunicipal!
Eu já conhecia esta realidade, mas nunca será demais dar-lhe visibilidade.