sexta-feira, 21 de março de 2014

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS - FASE IV

                        Trilogia dedicada a Roberto Rossellini

“Libertação” –  1946
“Europa’51” – 1952
“Viagem a Itália” – 1953


Roberto Rossellini foi um realizador de cinema italiano, que ainda antes da 2.ª Guerra Mundial, ensaiou os primeiros passos dum novo movimento artístico: Neo-realismo, assim viria a ser conhecido esse movimento. Uns, praticaram-no nas letras (romances, contos e ensaios); outros, no desenho e na pintura. E ainda outros deram-lhe expressão através da poesia e da música. A Roberto Rossellini calhou o cinema. Este realizador italiano, viria a ser um dos principais inspiradores dum outro movimento, lá pelo fim dos anos cinquenta, desta vez de raiz francesa, e especialmente virado para o cinema: A Nouvelle Vague. Com efeito, alguns dos grandes realizadores franceses que deram início à Nouvelle Vague, como François Truffaut e Jean-Luc Godard, sempre disseram ser Roberto Rossellini quem mais os influenciou no cinema que praticavam. Já no fim da vida artística, no final dos anos sessenta, ainda escreveu alguns argumentos para vários destes realizadores franceses. Teve uma vida pessoal muito agitada, pois tinha a tendência para se apaixonar por mulheres que já eram casadas, sempre companheiras de trabalho. Depois de vários escândalos e peripécias muito escabrosas, todas acabaram por ser suas mulheres de facto. Anna Magnani e Ingrid Bergman (inesquecível a interpretação desta última, no também inesquecível “Casablanca”, em que fazia parceria com Humphrey Bogart), duas excelentes actrizes, estiveram nessa lista. Roberto Rossellini nasceu em 1906 e morreu de ataque cardíaco em 1977. Deixou vários filhos, entre os quais Isabella Rossellini, também ela actriz de cinema.

Título de Origem: “Paisà”
Título Português: “Libertação
Realização Roberto Rossellini
País de Origem: Itália
Idioma: Italiano – Inglês – Alemão
Produção: Mario Conti, Rod E. Geiger, Roberto Rossellini
Argumento: Federico Fellini e Sergio Amidei
Intérpretes: Carmela Sazio, Robert Van Loon, Benjam Emmanuel, Harold Wagner....


O argumento deste filme é composto por várias histórias que parecem não ter ligação entre si. Parecem ser histórias que não têm um fio condutor. Todas, porém, focam a altura em que as tropas americanas iniciam a libertação da Itália. Todo o filme é pontuado por momentos de grande violência e crueldade. O fuzilamento de resistentes antifascistas italianos; o tratamento que é dado a uma mulher que supostamente colaborou com as tropas alemãs durante a ocupação, são cenas de grande intensidade dramática. No entanto, há também momentos de grande comicidade, como aquela cena em que um miúdo rouba as botas a um soldado americano embriagado. O filme, falado em várias línguas, tem que ser visto com muita atenção, para que o espectador tenha uma compreensão absoluta do que o realizador pretende transmitir. E no fim, verificar que as diversas histórias que o filme conta são, afinal, peças de um mesmo puzzle. Temos cá para nós a ideia que esta fita marca o início da marca ‘rosselliniana’ no cinema.
A título de curiosidade, queremos destacar a colaboração de Federico Fellini, que mais tarde viria a ser um grande realizador, como um dos autores do  argumento. O filme teve uma nomeação para os Óscares. Pelo argumento, exactamente.

Título de Origem: “Europa’ 51”
Título Português: “Europa 51”
Realização: Roberto Rossellini

País de Origem: Itália
Idioma: Italiano
Produção: Dino de Laurentis e Roberto Rossellini
Argumento: Sandro de Feo, Roberto Rossellini, Alexandre Knox....
Intérpretes: Ingrid Bergman Alexandre Knox, Giulietta Masina, Ettore Giannini....


Por esta altura já o neo-realismo tinha deixado de ser uma preocupação. Não sabemos, não atinamos com a categoria em que este filme deve ser encaixado. Talvez seja um melodrama a caminho do estilo mais descontraído, mais anglo-saxónico, que o realizador iria adoptar no futuro. Foi o segundo filme em que a principal actriz foi dirigida por Roberto Rossellini. Já a mancebia entre os dois estava assumida. E o enredo é uma autentica salada russa. Mas o amor faz milagres, quem é que pensa que não? E a personagem interpretada por Ingrid Bergman, acaba, no filme, por ser considerada santa. Assim mesmo.
No Festival de Cinema de Veneza, o filme foi nomeado para o Leão de Ouro. E Roberto Rossellini recebeu aquilo a que nesse festival se chama o Prémio Internacional.

Título de Origem: “Viaggio in Italia”
Título Português: “Viagem a Itália”
Realização: Roberto Rossellini
Idioma: Inglês
Produção: Mimmo Salvi
Argumento: Vitaliano Brancati, Roberto Rossellini
Intérpretes: Ingrid Bergman, George Sanders, Leslie Daniels, Natalia Ray....


Outra vez Ingrid Bergman dirigida por Roberto Rossellini (e ainda bem, acrescentamos nós, pois enquanto o amor durou entre estes dois, os grandes filmes sucederam-se uns atrás dos outros).
Nos dias que correm, já na última década do século XX, um casal na situação que esta fita trata, diria: “Vamos dar um tempo à nossa relação e depois logo se vê”. Isso é o que hoje se diria. Mas este filme foi realizado em meados do século e não quando este está prestes a terminar. E o casal de protagonistas, americanos, como se deduz, decidiu dar uma volta pela Itália. As emoções e os sentimentos vieram ao de cima, e Rossellini, aproveitando essa volta, manda-nos um belíssimo postal ilustrado da Itália do princípio dos anos cinquenta. Por fim, o casal acorda que ainda se ama, e a vida continua o seu rumo. Magistralmente dirigido e muito bem interpretado, o filme só podia ser um êxito. E foi!

Rufino Casablanca – Monte do Meio, 30 de Dezembro de 1993

1 comentário:

Anónimo disse...

O neo-realismo em Portugal, nos romances, teve expressão através de Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, ou Fernando Namora, por exemplo.
Na poesia, foram Joaquim Namorado e Manuel da Fonseca que se destacaram, também por exemplo.
No teatro, a peça de Bernardo Santareno, "A FORJA", também pode ser incluída neste movimento.
No desenho, pintura e escultura, José Dias Coelho, foi um bom exemplo neste campo das artes.
Na música, as composições de Fernando Lopes Graça, também foram aceites como obras deste movimento artístico.

Já no cinema, o filme " Saltimbancos", de Manuel Guimarães, parece-nos ser o melhor exemplo de cinema neo-realista produzido em Portugal.