terça-feira, 28 de maio de 2013

UM ESTUDO ANTIGO SOBRE A VILA DO ALANDROAL – Por Luís Faria – 1981.

Por intermédio de um amigo de longa data, também Alandroalense e interessado pela sua história, chegou-nos às mãos o estudo que nos propomos compartilhar com todos os nossos leitores.
A transcrição que se segue foi elaborada pelo Dr. Luís Faria no ano de 1981, a pedido da família Recto (Alexandre e Aurélia), também eles, enquanto vivos, pessoas interessadas por tudo o que ao Alandroal diz respeito.
Porque julgamos saber que este mesmo estudo será apenas conhecido por um restrito número de leitores e porque o numero de interessados cresce, agora que a se procede a obras do nosso Castelo e se dedica um estudo a sério sobre o Endovélico e tudo o que o envolve não podíamos deixar passar em claro mais este estudo sobre a nossa Vila.

Após a divulgação sobre  = FORTIFICAÇÕES DA VILA=, vamos completar com: 


                      SOBRE UM INVENTÁRIO MEDIEVAL DA PROPRIEDADE RÚSTICA.

O inventário dos bens da Ordem feito em 1364 descreve as propriedades que a Ordem possuía no termo, que era delimitado a leste pela ribeira de Pardais, a oeste e sul pelo Lucefece, e com Castela pelo Guadiana. Na zona de culturas ricas que envolve a povoação, tinha hortas e vinhas: a horta dos freires, talvez hoje a horta do mestre (Inicialmente uma comenda, a vila passou depois a pertencer à mesa mestral, o que possivelmente alterou alguns nomes. Num documento de 1294 (ANTT, Ordem de Avis, doc nº 220), vende-se uma vinha que partia com o ribeiro da fonte do comendador, nome que hoje não existe.), um cidral ao pé da fonte ( Na planta da povoação assinalei o sítio que hoje é conhecido por Cidral, e a horta do mestre que se localiza aproximadamente na zona das tapadas da vista do Sul do desenho de Duarte Darmas), e duas vinhas e uma horta  junto da fonte dos freires, que deve corresponder à actual fonte das freiras  (Muitas das propriedades da Ordem pertenciam, no século XVIII, a conventos de religiosos. As hortas regadas pela fonte das freiras pertenciam ao convento de St. Cruz de Vila Viçosa e S. Bento de Évora, o que talvez explique a mudança de nome da fonte).
As herdades situavam-se todas a leste da vila e são referidas no documento por ordem de crescente proximidade. A herdade “boo visso”, “En rjba de djana Ao porto de cerva”, talvez se localizasse na confluência do Lucefece com o Guadiana, onde são hoje os montes do Aguilhão e da Ordem. Foi pelo porto de Cerva que as tropas do alcaide do Alandroal atravessaram o Guadiana para fazerem uma incursão no terreno de Cheles, mas o topónimo parece ter.se perdido. O Padre Bento Ferrão menciona na mesma zona, na Herdade de Milreu, “Um castelo velho, talvez do tempo dos mouros, que caía sobre o Guadiana e que está arruinado”.
A Herdade da Granja “a –par de as masucarjas” conservou o mesmo nome: Massuca é, segundo  o Dicionário de Morais, pequena barra de ferro não purificado, e o prior Bento Ferrão afirma que nessa herdade foi minerado ferro, ouro e prata. Hoje existe lá uma fonte com o nome de Fonte Ferrenha.
A herdade “Aaquem das masurcagens A que chama A Mouta da maae” talvez se localizasse na zona do actual Monte do Sobral: O mestre da Ordem de Avis, num pedido de D. João I, diz-lhe “ que no termo do alandroal há hua defesa que chama a Mouta da moo e Soveral da ordem e granja as quaes defesas som coutadas em cada huum ano de sam miguel atas natal”, e por haver “peças dégoas” nessas defesas que assim se não podiam manter. Pretendia que lhe coutasse por todo o ano. Pelo “soveral da ordem” passou Pêro Rodrigues, alcaide do Alandroal, na volta da expedição a Cheles.
AS  últimas herdades referidas, a das Ferrarias e o Cabril, mantiveram o nome. Na primeira, diz o Padre Bento Ferrão. “há a tradição de mina de ferro, e da´se tirou o nome”.
A descrição do contrato da herdade da Granja chama a atenção: “lauruuãa Gil Martins por quinto do dito Ano”. 
Vicens Vive ao descrever a influência muçulmana nas formas de distribuição do solo, e de exploração agrária, sublinha a importância do sistema de parceria, inexistente na Europa feudal.
“ A parceria um contrato entre dois homens livres, o senhor da terra e o colono […] que se baseava na entrega por parte deste de uma parte maior ou menor das colheitas. Essa parte nunca era superior a metade, havendo camponeses que só pagavam a quinta parte e se chamavam mujammis. (J. Vicens Vives , História Económica de Espana, Barcelona, 1977, pag. 102).
Silbert sugere ser essa a origem da classe dos seareiros alentejanos, ao constatar a sua influência na sociedade meridional do antigo regime ( Albert Silbert, Le Portugal mediterranéen à la fin de l´ancien regime, Lisboa 1978, pag. 99).
Seareiros são rendeiros precários, que só têm direito a fazerem uma colheita, o que se assemelha ao contrato estabelecido entre Gil Martins e a Ordem de Avis.
A extensão e localização da propriedade concelhia medieval não vem referida nos documentos consultados. Segundo um tombo realizado em 1776, essa propriedade situava-se em torno e a oeste da vila. Restam hoje alguns topónimos a recordá-la, como seja o Monte do Baldio, e uma estreita faixa de uns 15 metros de largura por 2 Km de comprimento chamado Canada, (Cadastro da Propriedade  Rústica, Concelho do Alandroal, freguesia de Nª Sª da Conceição, folha R, 1952). E que se segue o traçado da estrada para Terena. O mesmo prior Bento Ferrão localiza a desaparecida Ermida de S. Gens. (Túlio Espanca situa a ermida na herdade da Canada, embora este nome não conste no cadastro. Ver Inventário Artístico. Pag 60).
Canadas eram caminhos para gado relacionados com a transumância, limitados em alguns casos pelos concelhos. Em Portugal, o caminho que da Serra da Estrela levava ao campo de Ourique, passava por Portalegre, Évora, Beja e ainda era percorrido no final do século XIX. É possível que a canada do termo do Alandroal se destinasse ao gado castelhano que entrava por Elvas, para se dirigir ao campo de Ourique, atravessando o Lucefece na ponte de Terena. A transumância de gado espanhol em território português atingiu o auge nos séculos XV e XVI, declinando posteriormente por razões politicas e económicas e restringindo-se à margem esquerda do Guadiana.
As águas correntes do termo pertenciam à Ordem de Avis, que cobrava foros e rendas nos moinhos e azenhas que delas se serviam. O inventário de 1364 refere um moinho na ribeira do Lucefece, e em 1831 o único moinho aì existente era o moinho da Calçada ou dos Ouros (Tombo de Alcaidaria Mor da villa do Alandroal, começado em 1831, ANTT, Tombo das Comendas, livro 9)
Em 1968, segundo a Carta Coreográfica do IGC, só havia um moinho na margem esquerda, o da Ponte dos Ouros, situando-se os restantes na margem direita, nos antigos termos de Terena e Redondo.

É possível que esta situação tenha origem num privilégio dado aos moradores de Terena, e que o foral manuelino atribui a D. João I (mas seria Anterior?), “de nam pagarem direito das moendas que fizessemna Rybeira de Lucefes” (ANTT, Livro dos forais novos do Alentejo, fl. 83).
Em 1758, segundo o padre Bento Ferrão, pela ponte do Moinho dos Ouros passava “ A estrada que vai do Alandroal para o Redondo quando há cheia”.

ANEXOS:








2 comentários:

Anónimo disse...

Em regra geral, os detentores da informação (da que tem interesse)não a partilham com toda a gente; há sempre um certo egoísmo em cada investigador ("vais fazer figura com o meu trabalho!" pensarão). O caso presente é a feliz excepção, sendo de louvar. Os meus agradecimentos a quem fez, a quem disponibiliza e a quem divulga. MSubtil

Anónimo disse...

POIS É AMIGO SUBTIL HÁ POR AÍ MAIS GENTE COM MUITA INFORMAÇÃO ACERCA DA HISTÓRIA DO ALANDROAL, MAS NÃO A PARTILHAM COM NINGUÉM, TÊM-NA FECHADA A SETE CHAVES LÁ EM CASA. DEVE SER PARA A LEVAREM DENTRO DO CAIXÃO.