Mar de oportunidades
Sexta, 01
Março 2013 10:29
A semana que
passou foi mais uma daquelas semanas ricas em temas para comentar. Desde as
“grandoladas” até à pirueta de 180º do Governo relativamente ao pedido de mais
tempo para cumprir as metas da Troika, passando pelas eleições italianas e pela
mania de, a Europa e os governantes europeus, continuarem a querer menosprezar
Silvio Berlusconi, sem esquecer o fumo do fogo que reacendeu entre Portugal e
Angola ou o cavalo que passa, afinal, por vaca, de facto, muitos foram os temas
merecedores de crónicas. Todavia, é sobre o mar e do impulso que o Governo
português lhe quis conferir, que vou falar.
Parece estranho que um país como Portugal, banhado pelo mar em
dois dos quatro lados do rectângulo continental e com a maior Zona Económica
Exclusiva de todos os países da União Europeia, venha agora falar do mar como
aposta estratégica. É estranho, porque tendo Portugal apostado no mar como
ninguém, tendo até sido protagonista da primeira globalização mundial - claro,
no tempo dos descobrimentos -, é estranho que venha agora dizer que vai apostar
no mar. Como se o mar estivesse distante! De facto, é estranho. Mas é crucial.
E, por isso, bem andou o Governo, a respectiva Ministra e o respectivo
Secretário de Estado - e também o Ministro da Economia que esta semana anunciou
o projecto de um porto de águas profundas para Lisboa -, bem andaram, todos, ao
apresentarem o mar como aposta estratégica para o país.
Apesar de
Cavaco Silva, embora só depois de ter sido eleito Presidente da República, ter
andado a tentar colocar o mar português no centro do universo político
nacional, podia o Governo, apesar disso, ter feito ouvidos de mercador. E não
fez! O que é novo, porque desde o 25 de Abril que Portugal esteve de costas
voltadas para o mar.
Então é
aceitável que Portugal não disponha de uma frota pesqueira liderante na União
Europeia? É aceitável que Portugal não disponha de uma marinha mercante
competitiva? É aceitável que Portugal não disponha de uma indústria de
construção naval de vanguarda, incluindo de embarcações de recreio? É aceitável
que, sendo Portugal um ponto geoestratégico de extraordinária importância, por
onde já passam anualmente milhares de embarcações de todo o porte, não tenha
capacidade de as atrair, levando-as a atracar e permanecer em território nacional?
E em matéria de conhecimento do mar, é aceitável que Portugal não disponha de
uma Universidade de ponta, capaz de impulsionar a investigação no tocante à
biologia marinha, à medicina (a partir de elementos marinhos), ao fundo mar, à
energia (das ondas e das marés), ao turismo do mar, ao desporto marítimo, etc.
etc.? É aceitável que Portugal não ombreie com outros países do Mundo, no que
diz respeito à piscicultura, à aquacultura e à salicultura? E a todas as
indústrias, tradicionais, modernas ou novas, que derivam ou podem derivar do
mar? É aceitável que Portugal não seja reconhecido como país onde a arte de
navegar é ensinada de forma ímpar? E é aceitável que contendo Portugal a maior
fronteira externa marítima da União Europeia, não tenha Portugal sido capaz de
convencer a UE a apoiar o país em matéria de meios de defesa e de fiscalização,
por exemplo, meios aéreos e marítimos? Em suma, sendo indiscutível que temos
uma identidade marítima forte, muito forte, é aceitável que depois do 25 de
Abril não tenhamos nunca sido capazes de lhe dar forma e corpo criando
condições objectivas para que o investimento público e privado, nacional e
estrangeiro pudesse acontecer em larga escala neste sector português?
Estou
plenamente convencido de que apostar no mar é criar um mar de oportunidades.
Umas singrarão, outras, talvez não. Mas, este sector, valer apenas 2,4% do PIB
português só pode ser explicável por, ao longo de todos estes anos, ter faltado
a Portugal o sentido do mar!
Lisboa, 28 de
Fevereiro de 2013.
Martim Borges
de Freitas
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