QUESTÃO do DIA
“
O cofre de um banco contém apenas dinheiro.
Frustrar-se-á quem
pensar que nele encontrará riqueza”
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Assim como somos pela riqueza
cultural aperfeiçoada das touradas à portuguesa (tal como o Al Tejo) também aceitamos
que a política tem o seu lado criativo, divertido e inesperado.
Para pôr uma
pitada de sal neste xadrez soarista lembramos que o “Bochechas” foi sempre um
firme anti-Botas assim como Marcelo Caetano via nele um parceiro no advento da
democracia tutelada e tri-partidária (ANP/CDS cristão+PPD liberal+PS
parlamentar) num país encostado à direita.
Um objectivo que
Melo Antunes (politico, inteligente militar) previu e antecipou através do MFA
com a revolução do 25 de Abril/74 de uma forma livre e igualmente participada
pelo ´povo unido´. O problema internacional da independência das colónias não
deixava outra saída. Nem lá. Nem cá. Estávamos esgotados devido à guerra em
três frentes distantes e aos bloqueios externos das grandes potências.
Recentemente
após ter recusado (mal) o pagamento de uma multa de trânsito na A-8 eis que
veio agora dizer - e bem - que é tempo de Portugal entrar em ruptura com o
garrote severo da troika.
“Esticou a
corda” mas como sabe do que fala e conhece bem os meandros e líderes da
politica europeia, é caso para exclamar “até que enfim” que se sente e ouviu
uma voz que, mais cedo do que tarde, pode fazer com que a arte e a coragem da
politica transforme e antecipe, também por cá, o possível em real vivido.
“Chapeau”,
caramba, ao aviso e a esta pedrada no charco contra a violência extrema desta
crise phodida e ainda sem seguro!
QUESTÃO a meio da SEMANA
A propósito
deste acto de coragem de Mário Soares visto por alguns - imagine-se - como um
acto romântico convém lembrar que muitos dos políticos mais recentes perderam o
sentido de democracia que ainda está na Constituição de 1976. Hoje a democracia
é formal e dominam os grupos de interesses. A política tornou-se um espectáculo
onde o bem comum não é salvaguardado e predominam os interesses individuais
mais até do que os partidários.
J. Sócrates,
Pedro Passos Coelho e/ou A.J. Seguro já pertencem uma geração de indivíduos que
fazem da politica uma profissão única procurando manter a todo o custo o seu
estatuto sem olhar ao exercício pratico das regras e valores democráticos.
Em Lisboa, como
aqui e no resto do país quantos políticos têm um currículo capaz (à americana)
fora da políticazinha?...
Em Portugal
quase pode dizer-se que a democracia tende a ser dinástica e familiar e uma forma
de ir vivendo bem. Vejam o caso do grupo de actores do poder político/económico
que vêm circulando em volta de Cavaco Silva e reparem que este há 25 anos que
se mantém no poder. Ora no jardim de S. Bento. Ora no quintal do estado em
Belém.
O que tem todavia
interesse assinalar é que quando C. Silva entrou para Ministro havia dois
milhões de pobres. Hoje continua a haver os mesmos dois milhões de pobres senão
mais. O embuste da classe politica reproduz-se e mantém-se assim com facilidade
tirando o medo real de não ganhar eleições.
Onde está
portanto a ética cívica, digamos assim, de servir o país? Onde está a
alternativa politica de saber ganhar e perder baseada na realidade concreta de
que, periodicamente, as coisas e os actores devem mudar?...
Neste cenário
temos porventura um futuro agradável à nossa espera?
(continua)
AnB – 16 Maio 2012
8 comentários:
Amigo chico, se quer tirar um bom partido sobre a pergunta desta semana, inquérito sobre as touradas, talvez seja melhor reformular a questao, pois parece um pouco confusa, e pode levar a respostas contraditorias.
abraços,
leitor muito atento ao seu blog.
Obrigado pela sugestão,
Já reformulei e parece-me assim mais
fácil deixar a sua opinião.
A todos os que já haviam votado as minhas desculpas. Podem de novo deixar a vossa opinião e contam os mesmos 6 dias.
Obrigado
Chico
Meu caro Berbém, as touradas não são nenhuma riqueza cultural do nosso país.
Nem de nenhum outro.
As touradas são, apenas, um ritual que se cumpre.
Um escape.
Como Fátima.
Ou o futebol.
Ou os copos.
A único prejuízo que haveria, se acabassem, é que os touros bravos desapareceriam. E lá se iria mais uma espécie de animais terrestres.
Mas como desaparecem espécies animais todos os dias!?
Ainda assim, levanto mais um aspecto que é pouco utilizado por quem pretende acabar com as touradas.
É assim: Os cavalos utilizados na lide à portuguesa morrem, quase todos, de ataque cardíaco. Raros são os que morrem de velhos. Por aqui se vê a violência que é fazer arremeter um animal contra outro, já que a natureza os criou para viverem em conjunto.
Quanto ao Dr. Mário Soares, e deixando de lado percursos políticos e inversãos de marcha, que apenas servem para justificar atitudes, deixe-me dizer-lhe que ainda há muito pouco tempo li, escrito por pelo Dr. Álvaro Cunhal, que o Dr. Soares nunca tinha sido seu aluno, e se alguma coisa falaram, pouca coisa o Dr. Soares aproveitou, no que, aliás, estava de pleno direito.
O Dr. Álvaro Cunhal apenas era contínuo no Colégio Moderno.
E o Dr. Soares não é ateu. É agnóstico. Que são coisas diferentes, como sabe.
Infelizmente, o que se vem verificando no que toca à nossa classe(?) politica a nível central, é que ela existe não para governar o país e dar melhores condições de vida aos portugueses como era sua obrigação, mas sim para se governar a ela mesma e aos que dela fazem parte, e por isso totalmente de acordo com o escrito na "questão a meio da semana". Todos os indicadores a nível mun- dial existentes no que se refere à corrupção, pobreza, custo de vida, piores condições de vida, etc, etc,etc, nos vão cada vez mais colocando no fim das respectivas listas, mas os nossos politicos continuam impavidos e serenos no caminho do precipicio, sabendo que eles e os seus estarão a salvo, coisa que o povo já não poderá dizer. Como dizia o outro, eles falam,falam, mas não dizem nada!! Um abraço ao amigo AnB.
Obs.
Palavra que a disposição não é a melhor para estabelecer aqui um mini dialogo com o Comentador das 15.57.
Em todo o caso agradeço, o troco que pôs em cima da mesa.Ilustra o dialogo acerca das touradas as quais se vistas como um ritual não
podem deixar de ser vistas igualmente como uma Apresentação demonstrativa de algumas formas
enriquecedoras da representação social.
É preciso reparar que as touradas sempre foram um espectaculo com uma forte participação popular.
Quanto à relação entre M.S. e A.C.e o que mais Observou,direi que estamos os dois à distãncia deste mail ainda numa fase e definição semântica do que estas duas personagens foram.De facto,até foram muito mais do que aquilo que ambos conhecemos e podemos aqui dizer.Não é assim?
Recordo,aliás,que o Mário Soares não costuma definir-se nem como Ateu nem como Agnóstico mas como Laico.Quanto a Alvaro Cunhal esta questão é ainda mais indecifravel.
Um abraço
ANB
Embora o Anb não tenha disposição para o diálogo, ainda me atrevo a dizer o seguinte:
No que ao Dr. Mário Soares diz respeito, levando em conta o seu percurso político e a sua forma egocêntrica de estar na política, seria interessante conhecer a opinião do falecido Francisco Salgado Zenha (que ficou escrita), e do ainda actuante Manuel Alegre. Isto, para falar apenas de camaradas do seu partido - seu, dele, Mário Soares -
O Dr. Álvaro Cunhal nem precisa de ser chamado à conversa porque isso já seria misturar alhos com bugalhos. E a semântica não tem aqui lugar, por favor.
Quanto à grande participação popular nas touradas, deixe-me lembrá-lo que também os espectáculos do coliseu de Roma e os autos de fé da inquisição, por exemplo, a tinham.
E, no entanto, acabaram.
O mesmo das 15:57
PS - Acabo aqui a minha participação nesta conversa. Peço desculpa pelo incómodo.
Dar porrada na mulher também era tradição, dar vinho às crianças também era tradição, fazer sangrias (quando se tinha uma doença qualquer)também era tradição, acabar com as touradas seria evolução!
Dar porrada às mulheres e dar vinho ás crianças infelizmente ainda é tradição assim como as touradas....
Enviar um comentário