De: João Cardoso Justa
Caros leitores:
Antes que os comentários ao texto que aqui publiquei “descambem” para propósitos menos dignos, e, portanto, contrários à intenção que me animou na pesquisa e elaboração do mesmo, parece-me oportuno esclarecer algumas questões resultantes da deficiente interpretação das minhas palavras. Assim, e para que não restem quaisquer dúvidas, quero afirmar que não sinto qualquer «desdém» pelo trabalho já realizado pelos arqueólogos responsáveis, nem entendo que tal leitura se possa inferir das linhas (ou entrelinhas) do que escrevi. São pessoas que conheço e de cuja capacidade e empenho não duvido. Mas, e se é este o assunto que mais relevaram da minha «ficção», afirmo aqui (dando a cara e sem recadinhos anónimos) que, embora não duvide das competências profissionais de cada um, discordo em absoluto do “método” seguido. Passo a explicar – Na visão do arqueólogo, no concelho do Alandroal ou em qualquer outro, está subjacente o desejo da descoberta, da identificação de novos locais, da análise dos detritos achados, da interpretação dos mesmos, da integração dos resultados na análise histórica. É isso que lhes dá prestígio no meio académico, que lhes enriquece o “curriculum”, e, por acréscimo, credibilidade nos projetos que apresentam. Ora, nem o país, e muito menos a autarquia do Alandroal, está em condições de pagar o enriquecimento do “curriculum” dos senhores arqueólogos por muito importantes que sejam, e são, as referências de novos depósitos arqueológicos. Portanto, na visão do autarca, agora mais que nunca, deve haver a exigência de um retorno que se possa traduzir em enriquecimento visível, concreto, de uma arqueologia pensada e dirigida para o incremento turístico da região. Significa isto que precisamos “desenterrar” algo com monumentalidade, com impacto visual que provoque apetência aos visitantes. Onde? No local onde estamos certos que essa monumentalidade existe. Em Vilares, por exemplo. E sugiro mais, um protocolo a estabelecer com a autarquia de Vila Viçosa para que se proceda à escavação dos Vilares de Bencatel e Alandroal. Planície arqueológica, chamam alguns historiadores a essa “frente” com vários quilómetros. E então, assim acontece onde os projetos são devidamente pensados, acorrerão os grupos hoteleiros e demais estruturas. O chamado “Turismo da Natureza” (caminhadas, visitas guiadas pelos campos, etc.) tem um potencial vinte vezes(!) superior à procura do Golf (também fiquei surpreendido), são dados de um estudo do Turismo. E a pergunta que resta, (um comentador até chama “inocente” ao responsável deste blog), onde se vai buscar o financiamento para essas escavações? Dou-vos como exemplo a autarquia do Redondo, que, se não me induziram em erro, desde o ano passado que trabalha com uma Universidade dos Estados Unidos, que à falta de passado próprio na Antiguidade ocidental, pagam para escavar na Europa. É a este nível, das ideias, da projeção de futuros, que eu gostava que o meu trabalho fosse discutido. Apontar o dedo ao peito de Beltrano, de Fulano, ou de Sicrano, é um exercício medíocre e que a nada conduz.
Quanto à «ficção»… Por enquanto apenas posso afirmar que é uma palavra fácil de escrever, apenas constituída por seis letras em que duas são iguais, e acrescentar-lhes um “til” e uma “cedilha” deve ser bem mais fácil que apresentar argumentos documentados que lhe demostrem o sentido.
Abraço
João Cardoso
3 comentários:
Boa Noite,
Segui com atenção o desenvolvimento do seu texto. Devo dizer que embora tenha algumas dúvidas dou-lhe os parabéns pelo seu trabalho de investigação. Também eu sou um curioso profissional e sei o trabalho que dá a investigação.
Agora relativamente ao templo de Endovélico não ser em S. Miguel da Mota como explica que práticamente todos os ex-votos tenham sido recolhidos nesse local, não acha estranho o templo ser noutro local e irem colocar as oferendas noutro?
Cumprimentos,
T. da Cvnha
Exmo. Sehor.
Obrigado pelas suas palavras. Quanto à pergunta que me faz em relação ao Templo, sugiro uma nova leitura do meu trabalho. Se eu afirmo tratar-se de "uma pista plantada", uma mistificação, essa dúvida não se coloca. Se me permite, coloco-lhe a sua questão de modo inverso. Não acha estranho, que apesar de tantos vestígios, e depois de todo o outeiro sondado, não haja uma única marca dos alicerces? Além do mais, a situação do outeiro, como certamente sabe, contraria as condições necessárias para a existência de um templo celta (formações naturais junto à água).
Foram estas condições que durante algum tempo mantiveram a hipótese Manuel Calado, que está definitivamente arredada.
Os meus cumprimentos
J. Cardoso Justa
Meu caro João Justa, a pergunta do primeiro comentador é muito pertinente e a sua tese, que não sei onde encontrou paralelos, da "pista plantada" não tem fundamento, porque então de cada vez que forem encontrados vestígios pode vir alguém dizer que são pistas falsas forjadas pelos nossos antepassados! Deixe-me contradizê-lo em relação ao facto de achar que o cabeço de São Miguel da Mota não tem condições para ser um templo celta, pois não tem, todos os materiais aí encontrados são de época romana,portanto um templo romano, não celta. Tenho também que o contradizer em relação à hipótese de Manuel Calado, que, tal como toda a comunidade científica, reconhece o São Miguel da Mota como templo romano a Endovélico mas põe a hipótese que o templo celta tenha sido na Rocha da Mina, uma formação natural junto à água.
Outro curioso profissional
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