(Continuação)
Em memória de Rufino Casablanca
« Amor e Sexo nas Margens da Ribeira do Lucefecit ao Longo dos Séculos »
___ Em Busca das Origens dos Rodriguez Potra ___
Extracto da novela “ Peças Soltas no Interior da Circunferência “
Quem ler esta narrativa dirá que parece um conto de fadas. – Uma viagem de muitos meses de duração, feita em navios de madeira, por regiões inóspitas, ainda mal conhecidas e mal cartografadas, sem tempestades, sem ataques de piratas numa altura em que os mares estavam infestados deles, uma mulher a bordo d’um navio, carregado de prata, ouro e pedras preciosas, rodeada por quase uma centena de homens, e desembarcada em Espanha numa altura em que este país era o mais poderoso do mundo.
Parece, de facto, um conto de fadas.
Mas não é !
E o que tem a ribeira do Lucefecit a ver com isto ?
Vejamos :
Após o desembarque e depois de feitas as contas, Juan José Rodriguez Potra, agora um homem rico, conforme já todos sabem, acompanhado pela sua escrava que, altiva e cor de cobre, a todos encantava com a sua beleza, realçada pelas vestes que imediatamente compraram.
Nesta fase da narrativa, é altura de lhe dar um nome cristão – Guadalupe – assim se chamou por iniciativa do companheiro.
Há, porém, um pormenor que ainda não foi dado a conhecer : Na parte final da viagem, depois da escala feita na ilha do Porto Santo, O Juan José, começou a sentir-se muito mal, tomado por febres altíssimas. Foi de grande préstimo, nessa altura, a ajuda dada pelo padre jesuíta que acompanhava a expedição. Esse padre, que tinha como incumbência a salvação das almas, tinha também conhecimentos médicos e foi graças a ele que o capitão-mor se livrou dessa maleita antes da chegada a Cádiz.
Depois da chegada, durante os primeiros tempos passados em Espanha e depois em Lisboa, mesmo depois de voltarem para a pequena propriedade que o Juan José possuía em Terena, essas febres voltavam com muita frequência a atormentá-lo.
Ele, que tinha navegado pelos sete mares, sempre incólume a epidemias e febres, que frequentemente dizimavam as tripulações, via-se agora cada vez mais fraco e doente, de nada lhe servindo as riquezas que acumulara.
Foi por essa altura que Guadalupe deu mostras do seu valor. Quando o marido – sim, marido, pois o Juan José quisera regularizar a situação e casaram na ermida de Nossa Senhora da Fonte Santa – começou a ficar doente, foi ela quem investiu os cabedais que tinham sobrado da viagem às américas. Comprou terras que anexou às que já tinham, assim como se fez de propriedades em Capelins e até em Espanha.
Quando, passados cinco anos, o Juan José fechou os olhos, deixou para trás toda uma vida de aventuras e uma razoável fortuna. Deixou também uma viúva muito bonita, de uma beleza exótica e na flor da idade. E dois filhos. Dois filhos caldeados de sangues ibérico e dos confins das américas.
Guadalupe não voltou a casar. E não foi por falta de pretendentes. Muitos apareceram atraídos pela sua beleza, e também pelas suas posses, diga-se. Fez até uma vida de clausura, encafuada no monte do Meio, transformado agora num grande casarão, e de onde administrava todos os seus bens.
Entretanto começou a correr o rumor que junto às margens da ribeira do Lucefecit, a jusante da ermida da Fonte Santa, aparecia uma mulher de grande beleza, cor de cobre, apenas coberta com alvos panos e montada num cavalo baio, que desafiava para práticas impuras qualquer cavaleiro, servo ou almocreve, que com ela se cruzasse. Até se dizia que homem que se prestasse a tais práticas ficava amaldiçoado. E olhava-se de soslaio na direcção do monte do Meio quando, nas tabernas, esta conversa vinha à baila.
Quando Guadalupe morreu, quase quarenta anos depois, deixou cinco filhos. Os dois que já tinha quando o marido era vivo, e mais três que foram nascendo depois. Levou com ela o segredo do nome dos pais dos últimos três, porém, todos foram baptizados com os apelidos Rodriguez Potra. E todos os cinco tinham aqueles enormes olhos cinzentos da mãe, de tal maneira marcantes, que ainda hoje se podem ver nos descendentes desta família.
FIM DO 4º CAPÍTULO
Rufino Casablanca
Monte do Meio, Agosto de 2000
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