quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MEMÓRIAS do Rufino Casablanca

Em memória de Rufino Casablanca

« Amor e Sexo nas Margens da Ribeira do Lucefecit ao Longo dos Séculos »

___ Em Busca das Origens dos Rodriguez Potra ___

Extracto da novela “ Peças Soltas no Interior da Circunferência “

Durante a dinastia Filipina, quando a Espanha e Portugal tinham o mesmo rei, o bispo de Plasência, D. Alonso de Rivera, seguindo os conselhos do irmão, D. Francisco de Rivera, na altura vice-rei do Peru, mandou armar a custas suas uma frota de quatro navios, tendo confiado o comando-geral a um tal Juan José Rodriguez Potra, notável piloto que já tinha participado em várias viagens às costas ocidentais da índias espanholas. De facto, este Juan José Rodriguez Potra, era um experimentado marinheiro que, ao serviço da coroa espanhola, já participara em muitos actos de conquista dos territórios mais meridionais do continente que hoje é conhecido por América do Sul.
Com raízes em Olivenza, era o filho mais novo d’uma família de pequenos proprietários rurais, que possuía várias courelas na região de Olivenza, Landroal e Terena. Com a morte dos pais, os irmãos mais velhos, ficaram com a maior parte do espólio da família, tendo ele herdado apenas uma pequena propriedade no arredores de Terena. Homem ambicioso, depois de várias tentativas frustradas de fazer vida em Portugal e Espanha, embarcara para os Brasis e por lá se fizera mestre na arte da marinhagem.
Profundo conhecedor das cartas de marear daquelas paragens e das dificuldades que o estreito de Magalhães oferecia na travessia para o oceano Pacífico, e com um grande dom de comando, dificilmente o bispo de Plasência arranjaria quem melhor desempenhasse as funções de capitão-mor da sua frota.
Estando tudo pronto para a partida, zarpou do porto de Cádiz a 12 de Maio de 1590. Era a frota composta por dois galeões e dois bergantins, estes com a incumbência de montar a segurança dos navios maiores, pois a pirataria era usual por essa época. O objectivo da viagem era trazer um carregamento de prata e ouro, pedras preciosas, e a maior quantidade possível de madeiras raras.
Foi uma viagem sem história.
Depois de escalas nas Canárias, Cabo Verde e S. Salvador da Bahía, a travessia do mal afamado e perigoso estreito de Magalhães, foi uma brincadeira para o conhecimento e perícia do capitão da frota.
Já no oceano Pacífico, a navegação foi isso mesmo : Uma navegação pacífica.
Aportaram a Valparaíso, hoje parte do Chile, mas nessa época integrando ainda o vice-reino do Peru.
À chegada, tudo estava a postos para o carregamento.
O vice-rei do Peru, D. Francisco de Rivera, irmão do bispo que armara a frota, também ele parte interessada, tinha cumprido com o anteriormente combinado.
Levantaram ferro seis meses depois, bem abastecidos de provisões, com as tripulações folgadas e os navios reparados, pois uma navegação tão demorada, embora calma, sempre provoca alguns danos.
O regresso foi também uma viagem sem história.
Regressaram a Cádiz dois anos depois de terem partido.
As únicas baixas registadas nos diários de bordo, ficaram a dever-se a algumas brigas de marinheiros, a alguns tripulantes que desertaram em Valparaíso, e a uns tantos que morreram de febres tropicais. Tudo junto não somava mais de trinta homens.
Dividiram-se os proventos da viagem, em Sevilha, nas percentagens previamente combinadas.
Assim ficou o Juan José Rodriguez Potra um homem rico. Rico e com uma escrava por companheira.
Esta situação tem explicação e vamos dá-la de imediato para não atrasar o resto da narrativa.
Foi assim :
Aquando da permanência da frota em Valparaíso, durante a estiva da carga e enquanto se reparavam os navios, esperando ventos de feição para se fazerem ao mar, Juan José Rodriguez Potra, foi convidado a viver na residência do vice-rei . Foi posta à sua disposição toda uma ala do palacete. Numa das primeiras noites que passou em terra, depois de se deitar, apareceu no quarto uma mulher que disse ir fazer-lhe companhia por ordem do vice-rei. Era uma índia muito alta, da altura do Juan José, de feições angulosas e com uns enormes olhos cinzentos. Mulher bonita, com aquele tipo de beleza que ainda hoje é possível admirar nas mulheres daquela parte do mundo. Inicialmente, Juan José, não entendeu bem o que o que o vice-rei pretendia com aquele gesto, mas quando se meteu na cama com a mulher, desforrou-se de tantos meses de abstinência. Todas as manhãs, ao acordarem, ela sumia-se pelos corredores, tão muda como quando à noite vinha ter com ele. Durante o dia não lhe punha a vista em cima, mas depois da ceia, normalmente feita na companhia do vice-rei, quando se retirava para o seu quarto, já a encontrava na cama, esperando-o.
E foi assim durante toda a permanência da frota em Valparaíso.
Na véspera da largada da frota, de regresso a Espanha , ela falou com ele pela segunda vez, e explicando-se em bom castelhano, pediu-lhe para a levar para a terra dos brancos. – “ Ali, não passava de uma escrava, e nada a prendia àquela terra, depois de ter assistido à morte de toda a sua família “ – .
De imediato se decidiu. O vice-rei ainda o alertou para o perigo que seria meter uma mulher num barco rodeada de várias dezenas de homens, mas nem esse argumento o demoveu. Assim, no dia do embarque, levou-a para o camarote, vestida com trajos masculinos, dizendo que comprara aquele escravo para o servir em Espanha. E foi nessa qualidade que a desembarcou em Cádiz.
(1ª parte)

Sexta - feira vamos publicar a segunda parte de mais esta “Memória do Rufino Casablanca” – no entanto, se estiver interessado em saber a continuação da mesma poderá clikar AQUI - http://alsul.blogspot.com/2011/11/memorias-do-rufino-casablanca_22.html, onde a mesma está transcrita na totalidade.

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