quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CRÓNICAS DO MATABIXO

O Cheiro dos Discursos Televendas

1. Nada do que é humano deve ser-nos estranho. Assim como nada do que é dito e discursado, diariamente, em Portugal através dos telejornais devia passar-nos ao lado. É dos livros que por mais complicados que os problemas se apresentem, a qualquer Matabixo, (real, ficcionado ou discutível) devemos ir estando atentos aos mecanismos de intervenção que condicionam e manipulam a nossa sociedade.
Por mais complicados que sejam, uma coisa é certa, dizem directamente respeito às nossas vidas. E, portanto, temos de torná-los acessíveis à nossa compreensão como é, aliás, o caso das explicações relacionadas com esta evolução recente dos mercados. Até porque há também quem os consiga explicar de forma bastante simples. Eis um lado da questão.
O outro lado, é que somos confrontados a todos os momentos com modos de comentar e informar que acabam por ter uma carga politica forte e incontornável. Ou seja, a comunicação dos problemas sociais que nos envolvem, situam-se e convergem principalmente nas diversas interpretações atribuídas ao discurso político. E, na maior parte das vezes, na retórica da ocultação politica.
Isto é, sabemos quase tudo o que vemos acontecer, e o que nos relatam que parece ter acontecido, menos aquilo que na realidade antes aconteceu. Os alçapões da linguagem evasiva e enganadora são uma constante da acção politica pós-democrática em que vivemos.
2.  Neste contexto de grandes e permanentes manipulações, verificamos que existem os mais diversos tipos de discursos políticos em exercício. Há o discurso realista, o optimista e o pessimista. Assim como há o discurso economicista e o discurso humanista. Acrescentemos a esta lista, os discursos de feição partidária, estatais, liberais, socialistas ou europeístas. São tudo formas de discursos de poder e de grupos que, apenas pretendem resguardar e aumentar os poderes possuídos, desprezando uma outra categoria mais simples, socialmente mais abrangente e elevada de discurso dirigido às sociedades dignas: o da verdade oposto ao da mentira; o utópico (onde tudo é sonhável) contra o distópico onde tudo aparece apontado como impensável e negativo.
Portugal na Europa como é evidente tem de tudo. E actores para todos os gostos. Qualquer político banal sabe que, por cá, não interessa diferenciar a verdade da mentira mas muito mais “discursar” e misturar a dosagem certa das diversas sub mensagens que (se) vão passando para o pagode engolir. Daí que a mentira prolifere no baralho dos discursos políticos. É a situação mais cómoda, a que dá menos trabalho e a que menos escolhas e riscos envolve. Na medida em que é aquela em que já todos estamos mais habituados… a ouvir uma coisa e a ver outra.
Neste contexto, raramente os políticos portugueses nacionais ou locais assumem opções corajosas. Ficam-se sempre pelas meias tintas e a meio do caminho. Jamais os podemos comparar com os sinais de grandeza de um politico como Churchill ou como Kennedy que fizeram opções mundiais corajosas e decisivas nos momentos certos, proclamando-as abertamente.
Somos uma terra onde abundam politicos ambíguos e sem convicções ideológicas profundas (Sá Carneiro ou Álvaro Cunhal foram uma excepção) que levam o tempo a dar uma no cravo e outra na ferradura como Cavaco Silva, ou Sócrates, PPC ou AJS. Fazem discursos, tipo Televendas, de sucata tecnológica, que não são exemplo da verdade para ninguém, na medida em que estão sempre a vender-nos o último produto europeu e a sacudir a água do capote… Muito menos são exemplo, o caso dos discursos que vêm do Parlamento onde não houve um deputado com voz autónoma que denunciasse as subvenções que atribuíram a si próprios.
3.  Estamos nisto. Daí que não temos de estranhar que os discursos de inocência, imaginem, de: DL1, de DL2,de IM3,de AV4 e tantos outros estejam a multiplicar-se. Os Tribunais que resolvam com garantias individuais, o que a sua opção Politica lhes devia ter previamente ensinado a praticar… passando adiante armados em pássaros bisnaus sem poiso ético certo.
Por exemplo, se DL1 neste momento está dentro, DL2 está luxuosamente fora; e se IM ainda corre o risco de ir dentro e AV quase de certeza que ficará fora das varas da justiça com os recursos que vai fazer, haverá um discurso da Verdade que resista ao da mentira?
O sistema protege-os e a ausência de um discurso de coragem ainda mais. Refugiam-se no Direito para não terem de se confrontar com a Justiça, tendo depois um tratamento favorável em relação aos restantes cidadãos somente porque têm milhões.
4. Em síntese, nunca tiveram um discurso de verdade perante aqueles que os elegeram de boa fé para os cargos políticos que era suposto exercerem com o carácter que deve ser a imagem de marca de qualquer político. Esteja no cargo que estiver. Seja nacional ou local. Assuma-se ele como diferente e depois, venhamos a verificar que é mais uma grande mentira tanto em relação aos discursos que foi fazendo. Como em relação aos discursos que, olhando-se ao espelho, deviam impedi-los de repetir as mesmas domésticas aldrabices.
A bem da Nação, como antigamente se dizia, o que quer dizer que também já havia corrupção, parecendo agora que todos insistem em continuar a praticá-la e a ocultá-la. Umas vezes deslumbrando-se com a sua própria e distorcida imagem de maus aprendizes de politica. Outras vezes, porque não têm um discurso politicamente verdadeiro que os leve a mudar de atitude. Mantendo-se como construtivos exemplos para os seus semelhantes e avisados apoiantes.
Melhores saudações
BN Alandroal, 23/11/20011

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