quinta-feira, 10 de novembro de 2011

MEMÓRIAS DO PASSADO – HOJE A “MEMÓRIA” É DO HELDER SALGADO

As touradas

O velho Godinho era um apreciador de touradas e só por doença faltava a alguma e eu confesso, que não me lembro dele doente.
Emprestava gado para as touradas, o que até hoje ainda me leva a interrogar, sendo as vacas de trabalho, como é que elas embraveciam nas touradas a ponto de marrarem.
Fruto da minha observação posso afirmar que havia animais que eram forçados a investir, para se defenderem das pedradas e picadas que levavam.
Começa nestas touradas populares a minha aversão a estes espectáculos, que se tornaria definitiva, aos meus vinte e quatro anos de idade, quando o António Garçoa, em Estremoz, então peão de prega do falecido cavaleiro Mestre Baptista e hoje director de corridas, me ofereceu um bilhete de segunda fila.
Estava sozinho, reflecti no sofrimento a que o animal estava a ser sujeito, numa luta desigual e cheia de manha, apenas para divertimento e nunca mais assisti a uma corrida de touros.
Já antes e ainda pela mão do meu avô Salgado, muito novinho, no redondel do “Arquiz” o espectáculo taurino não me entusiasmava.
Recordo, mais tarde, um grupo de forcados ou melhor de rapazes com farda de forcados, a que pertencia o Joaquim Fitas e este caído na arena a esgueira-se de ser espezinhado pelo touro.
Assisti, com o meu pai, a algumas touradas em Vila Viçosa, onde me lembro da cavaleira Conchita Citron e ainda do matador Manolete e outras em Reguengos.
Já reparam no estado em que fica a barriga de qualquer cavalo após tourear?
O que de positivo me resta de todas as touradas que vi foi, no Redondo, em que actuou um toureiro que se dizia índio, el índio Apache, que toureava sem qualquer auxílio, ou instrumentos, vindo depois a saber, em conversa com o António Garçoa, que era nome artístico, que se chamava António Augusto e era cidadão português.

Rivais em ofertas

O que quero evidenciar aqui era a rivalidade entre o velho Godinho, das Hortinhas e o Zé Seabra, do Alandroal. Observei este e por isso hoje aqui o recordo duas vezes.
Numa tourada em Bencatel, em que o touro era um animal de média corpulência, novo e ágil e parecia ainda não ter a manha, que os animais batidas nestas andanças vão adquirindo.
Alguns populares mais afoitos, batiam palmas e fugiam. O Seabra oferecia dinheiro, ponha mais uma nota, e outra e nada de pegarem o touro. O Zé Seabra perde a paciência e começa a chamar nomes aos aspirantes a pegadores, nomes de acordo com o acto praticado.
- És um cagarola, chega-te ao bicho, o que andas aí a fazer. - dizia em voz alta.
Um deles vem ao encontro do Seabra, empoleira-se na roda do carro de parelha, e tenta agarrar o braço do , este empertiga-se, dando um passo atrás, mostra o peito e diz - Como é que tu queres que eu vá aí para baixo, não vês que não caibo nos cornos do boi.
Gargalhada geral.
Devo também confessar-vos que me recordo mais dos cenários do que com o acto das pegas.
Hélder Salgado
10Nov.2011

2 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

As memórias, partilhadas, fazem do tempo um património único, de saber e afectos feito.
Obrigado, caros amigos, Helder Salgado e Chico Manuel.
Um grande abraço e um beijinho.

Anónimo disse...

A "Febre" das Touradas das Festas de Setembro, no "Touril"

Começava em Julho, alcançando os 39/40 graus no Domingo da Festa.
O dia de excelência.
« Os treinos no touril sucediam-se.
Chico Palha o primeiro. Seguiram-se-lhe Manel Tátá e Marcelo. Não sei de quem era mas existia uma estrutura em madeira constituída por roda de bicicleta, placa de cortiça (onde se cravavam as bandarilhas), um par de cornos espetados na madeira e umas pegas com as quais o manobrador correndo pela praça "investia" sobre os Diestros para treino de capas e bandarilhas ».
Mas, como sempre, a arte das "Pégas" era mais ansiosamente aguardada e, não havendo então grupo de forcados, a três ou quatro dias antes lá se compunha um grupo (o Externato fornecia alguns elementos)e naquele ano assim foi. Faltava um elemento que, a muito custo, lá se arranjou. Sabem quem foi: O Arnaldo do Valadas, assumidamente um temente das marradas razão pela qual impôs a condição de SER SEMPRE O ÚLTIMO.
Praça cheia, grupo na arena (Arnaldo no fim), toque do cornetim e lá sai o cornupto. Primeira não resulta. À segunda sim mas o animal "varreu" todos os elementos, com excepção de Arnaldo que se viu nos cornos da vaca e que, de imediato, começou aos gritos, assim:
!!!OU ME TIRAM DAQUI OU EU...MATO A VACA.
Com a ajuda de dois ou três "ajudas" lá se livrou do susto.
Para nunca mais, disse ele então...

(Escrito de apoio, e de parabéns ao trabalho do Helder)

Abraços para todos

Tói da Dadinha