quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM


Democracia?
Eduardo Luciano

Quinta, 10 Novembro 2011 09:35
Passam a vida a vender-nos a ideia de que o sistema político em que vivemos depende da vontade do povo. Chamam-lhe democracia representativa porque o povo tem a faculdade de eleger os seus representantes para um parlamento que, através de uma maioria de eleitos, suporta um governo.
Esse governo representativo da vontade expressa do povo, determina as políticas económicas que irá aplicar durante a sua vigência em respeito pelas propostas apresentadas durante o período a que se convencionou chamar campanha eleitoral. É a aplicação do princípio da subordinação do poder económico ao poder político.
Isto é o que nos dizem. Isto é o que resulta do enquadramento constitucional dos países a que atribuem a característica de democráticos.
E no entanto a realidade passa a vida a desmentir estes princípios orientadores.
Desde logo o povo é empurrado a escolher entre duas alternativas diferentes na forma e iguais no conteúdo, silenciando-se as verdadeiras alternativas ou repetindo até à exaustão que não pertencem ao “arco do poder”.
Depois vem a mentira da possibilidade de escolha em função das propostas apresentadas em campanha eleitoral. Alguém me consegue dizer em que comício de campanha o presidente do PSD anunciou que ia roubar dois salários aos funcionários públicos ou que ia por os trabalhadores do sector privado a trabalhar de borla mais umas horas por semana ou que ia aumentar o IVA na restauração?
Dizem-nos que tudo isto faz parte da arte de fazer política e que no fundo são sempre os povos a escolher com o seu voto quem governa em cada momento.
Pelo que pudemos observar por essa Europa fora até essa aparência está a ser tranquilamente enterrada.
O capital determina já, sem pudor e sem necessidade de recorrer a qualquer simulacro, quem são os seus representantes que devem estar no poder destituindo governos e impondo as suas soluções.
Os governantes gregos já não lhes servem, destituem-se e impõem-se soluções sob a capa da unidade ou da salvação nacional. Ouvir os gregos? Eleições? Democracia? Tudo isso provoca instabilidade e imprevisibilidade e os sacrossantos mercados ficam muito nervosos. E os povos sabem, por amarga experiência própria, que o saque dos seus recursos é o único calmante para tais distúrbios de saúde.
Há uns anos uma dirigente do PSD sugeriu que se suspendesse a democracia por seis meses. Pelos vistos alguém lhe deu ouvidos e decidiu suspende-la ad eternum pondo fim às aparências de escolha livre, de subordinação do poder económico ao poder político, mostrando sem pudor quem manda.
Os fios que seguravam as marionetas deixaram de ser transparentes e está hoje à vista de toda a gente a “mão invisível” que tudo determina.
O passo seguinte é deixarem de nos perguntar se queremos a marioneta de casaca azul ou a de casaca amarela. O perigoso passo seguinte é convencerem os povos que para bem deles, o melhor é mesmo acabar com a democracia ainda que mitigada.
Até para a semana
Eduardo Luciano

1 comentário:

Anónimo disse...

Didáctico.
Está à vista e só não vê quem não quer.