sexta-feira, 4 de novembro de 2011

COLABORAÇÃO DR. JOSÉ ALEXANDRE LABOREIRO

Nota do Editor: Há relativamente pouco tempo e a propósito da péssima classificação no ranking nacional das escolas, foram muitos os comentários, opiniões, queixas aqui colocadas.
Até mesmo eu, me atrevi a escrever um artigo de opinião sobre o assunto.

Hoje deixo-vos aqui um artigo do Dr. Laboreiro (José Alexandre) sobre o assunto.
Seria bom que o mesmo fosse lido e comentado pelos Professores, Encarregados de Educação e Alguns (poucos por certo) Alunos).
Fico a aguardar com alguma curiosidade, o que (principalmente os Professores), poderão comentar sobre estas considerações daquele que foi um Digníssimo Professor aqui em Montemor.
Será talvez uma maneira de todos nós podermos avaliar =como vai o Ensino no Alandroal e em todo o País =.
Chico Manuel

Breves Incursões pela Educação

=Só quem está dentro das escolas sabe quão heroínas e resistentes são algumas das nossas crianças =
Luísa Lobão Moniz (in “Jornal de Letras”)
Rubem Alves, in “Conversas com quem gosta de ensinar”, a certa altura constata: “Eu diria que os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma “história” a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que, cada aluno é uma entidade sui generis, portador de um nome, também de uma história, sobretudo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal. Mas professores são habitantes de um mundo diferente, onde o “educador” pouco importa, pois o que interessa é um “crédito” cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso mesmo professores são entidades “descartáveis”, da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores e café descartáveis, copinhos de plástico para cafés descartáveis. DE educadores para professores realizamos o mesmo salto que, de pessoas para funções. É curioso mas é doloroso mas é necessário reconhecer que o mundo mudou. As florestas foram abatidas. Em seu lugar eucaliptos.”
E, no entanto, os professores planificam, participam em conselhos pedagógicos, são responsáveis por departamentos curriculares, preenchem pautas, fazem reuniões com encarregados de educação, actualizam indefinidamente os dados dos alunos, dão aulas, avaliam, trabalham em parceria com os colegas de educação especial e com os psicólogos: estão na linha da frente para que os seus alunos tenham sucesso, para que não abandonem a escola, nem sejam absentistas. Lutam. Sim, para que cada aula constitua um “encontro” em que as relações professor-aluno sejam promotora de “crescimento” do aluno, aprendendo a ser, se torne “Pessoa”).
E quão difícil, muitas vezes, neste mundo controverso, é a “arquitectura” deste ensino- aprendizagem com crianças ou jovens por vezes cansados, com noites mal dormidas, negligenciados pelos pais, batidos por adultos, apontados a dedo por uma qualquer falha, com baixa estima, sem auto confiança, alienados por uma “sociedade espectáculo”; em suma, crianças e jovens que têm de aprender na Escola o que outros aprenderam em casa. A juntar tudo isto, há a imposição de um programa curricular em que são privilegiados as competências inter relacionais (a que Nuno Crato denominou de “eduques”) e em que são preteridos os conhecimentos (essenciais no enriquecimento do processo do “conhecimento gerante” – como lhe chamava Rui Grácio). A titulo de exemplo, na disciplina de Português, foi feita “tábua rasa” da Literatura (fundamental ao treino do pensamento, da escrita, do desenvolvimento do gosto estético , da apetência pela leitura, à descoberta do valor simbólico da palavra, ao enriquecimento do vocabulário: limparam-se os autores, a contextualização histórico-cultural, para promover (no intuito do facilitismo, do nivelamento por baixo, de uma suposta democratização do ensino) o texto utilitário e informativo– na adopção de uma “cultura de massas”, que não serve o desenvolvimento integral do Aluno, na sua formação enquanto Pessoa e Cidadão (ainda mais ameaçados com a ocultação dos conhecimentos de história, Filosofia, Geografia ou Latim).
Num pequeno livrinho, intitulado “Educação, Economia, e Estado”, escreve Ladislau Dowbor no Prefácio” … o avanço do sistema educacional dos países desenvolvidos não resulta meramente da construção de belas cidades universitárias e da tranquilidade das bibliotecas de pós-graduação. Estas é que resultam de um lento amadurecimento social e económico, e de profundas transformações estruturais na própria base das formações sociais”. Assim, não é impunemente que a Constituição Portuguesa de 1976 (no seu artigo 73º) consagra; Todos têm direito à educação e à cultura; e ainda “O estado promoverá a democratização da educação e as condições para que a educação, realizada através da escolas e de outros meios formativos, contribua para o desenvolvimento da personalidade e para o progresso da sociedade democrática”.

……………………………………………

………………………………………………

Extracto do artigo publicado in o Montemorense – que poderá continuar a ler in:
http://www.imprensaregional.com.pt/omontemorense/index.php

Transcrito com a devida autorização do Autor

Sem comentários: