domingo, 11 de setembro de 2011

IN MEMORIAM

O dia em que o inferno aterrou na City

Naquele dia 11 de Setembro soltaram-se as feras e invadiram a baixa da cidade. Muitos transeuntes, habituados à confusão de gentes e ocorrência de acontecimentos insólitos, pensaram tratar-se da rodagem de mais um filme da série “Assalto ao Arranha-Céus”, com efeitos especiais indelevelmente reais.
Foi quando o roncar ensurdecedor de um avião, muito perto do chão da “down Town”, atraiu a minha atenção para aquela parte do céu (inferno) onde se deslocava. Antevi que aquele avião de fuselagem negra, pintado pelo efeito de contra luz do início da manhã, apesar de continuar a julgar ser uma simulação para efeitos especiais, ia chocar com uma das Torres gémeas do World Trade Center, símbolo do poder e do cosmopolitismo da City.
O avião entrou pela Torre norte adentro, libertando para trás o ribombar de um descomunal trovão e expelindo um cogumelo imenso de chamas. Tudo à minha volta tremeu… gritos de pânico dão agora um aspecto mais condizente com a realidade, que eu confirmo quando vejo uma miríade de objectos, uns maiores, outros mais pequenos, que se libertam da nuvem densa de pó e caiem por todo o lado. Procuro irrisoriamente abrigo debaixo de um toldo de um café de esquina, onde penso estar sob protecção. Um turbilhão de papéis esvoaçam entre manchas multiformes de pó que vai uniformizando o colorido desta parte da cidade, sempre muito matizado. Do meu abrigo tenho ângulo para ver as duas Torres, como que encostadas uma à outra, da mais afastada saindo labaredas da parede metálica esventrada do edifício, lá bem alto. De súbito outra vez o roncar, agora medonho, de um motor… e a sombra enorme de outro avião parece que também nos transporta, a nós visitantes incógnitos da baixa da cidade…
A cena repete-se na Torre sul, de onde é expelido outro cogumelo monstruoso de chamas e denso fumo negro.
Colado ao chão pelo irreal do que está a acontecer, sou arrastado por uma multidão que foge desordenadamente do ponto da catástrofe. Tento ultrapassar o pânico que tomou conta de tudo e de todos. Uma miríade de pequenos pedaços de metal, ainda incandescentes, atinge o solo como pequenas “estrelas cadentes”. Olho incrédulo para as duas Torres gémeas, brutalmente esventradas pelo impacto das aeronaves. Vejo que as chamas tomaram conta de vários andares na zona superior das Torres.
Mas… há gente pendurada para o exterior dos edifícios… ó meu Deus… adivinha-se que alguém acena com um objecto branco, talvez um lenço, sinalizando a sua presença no desespero de um socorro, uma ajuda, para sair do inferno que aterrou bem cedo de manhã no World Trade Center.
Dou comigo a gritar: -não posso crer…, não posso crer no que os meus olhos vêem… é um filme de terror inimaginável!... …dois vultos humanos caiem no vazio de mãos dadas… quero desviar o meu olhar do seu drama, em respeito pela coragem dos seus últimos momentos de união… …mas não consigo… …acompanho-os até que deixo de vê-los quase a tocar o fim. Oiço nitidamente o som arrepiante do embate no solo.
Alguém grita: «a Torre sul vem abaixo». Instantaneamente todos param para ver a Torre sul desmoronar-se… cair a pique e afundar-se numa massa fantasmagórica de cimento derretido. Ouve-se um rugido diabólico e uma gigantesca onda de pó, escombros e detritos atira-se em todas as direcções. O movimento volta a iniciar-se descoordenadamente…, alguém fica sentado no chão coberto de pó, sem forças, ou simplesmente encostado a um candeeiro de rua, preso à angústia do que parece ser o fim do mundo. Gritos e lamentos ecoam por todo o lado, imperceptíveis mas traduzidos todos do mesmo modo, misturados com o soar de sirenes.
Afasto-me em direcção ao rio Hudson, envolto em pó e por uma multidão que fala sem nexo…, grita…, chora…, gesticula…, com a marca do terror desenhada nos rostos.
A meio da ponte aonde chego, apinhada de gente, todos olham em silêncio para a enorme cortina de pó que cobre a baixa da cidade, vendo o espectáculo dantesco da queda da Torre norte: a enorme antena de telecomunicações inicia a sua queda, fazendo lembrar o mastro de um navio que se afunda…
…as feras devoram o coração da City!
AC

Comentário em destaque:
Meu caro AC

A descrição que fazes do 11 de Setembro, estando como se lá tivesses estado, faz efectivamete parte da história de cada um de nós e daqueles três mil mortos.
Contar como contas a tua visão, é vencer como venceste o medo que há, em cada um de nós, de nos assumirmos cidadãos do mundo.
Calar seria perdermo-nos neste mundo, não percebermos e não denunciar os pontos de viragem irreais e violentos que a vida humana comporta.
O ataque fanático ao WTC, foi uma carnificina sem nome e que a História do Bem na sua luta constante contra a História do Mal dispensará imaginar sequer que possa repetir-se na América.Ou em Lisboa,sabe-se lá...
Não é este o caminho e aqueles que morreram feitos "pó inocente da Humanidade", não eram só americanos.
Eram gentes, eram pessoas de mais de uma centena de países,vitimas inocentes da demência de um mundo que, como bem sinalizas, se tornou e pode ficar a arder e em trânsito fatal para a irrealidade do seu/nosso aniquilamento.
Meu caro AC,
Por mais que, às vezes, sejamos tentados a apressar justificações devo dizer-te gostei do teu texto tanto por ficcionar a realidade, como, por ver que a realidade anda sempre à frente da própria ficção.
Não é só uma questão de jeito literário,é uma questão inteiramente séria e legitima de interpretação do mundo.
O que também não deve deixar de dizer-se, é que a verdadeira mensagem, muito para além da politica,é a de que devemos fazer a paz em vez da guerra,praticar o amor em vez do ódio,assegurar-nos que a corrupção não tem nada a ver com a virtude. E, finalmente, que o terrorismo com nome de guerra, não é como nunca foi nem será uma guerra justa.Ou uma forma justa e praticavel de sermos seres humanos,cristãos,budistas ou muçulmanos.
De cegueiras irreversíveis e dispensáveis como esta do 11 de Setembro, está afinal a História já cheia!
Com um abraço muito forte
Antonio Neves Berbem

7 comentários:

francisco tátá disse...

Recordar que foi esta barbarie que veio dar azo a que o Alandroal perdesse um dos seus filhos.
Recordamos-te J.P.
Chico

Anónimo disse...

BARBARIE É O QUE OS AMERICANOS FAZEM EM TODO O MUNDO Á ANOS, MATANDO E TURTURANDO HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS, ISSO SIM É BARBARIE FEITA POR ELES E POR NÓS QUE FINGIMOS QUE NÃO VIMOS. NÃO SAI NOS TELEJORNAIS.
TENHO PENA DAS PESSOAS QUE INOCENTEMENTE MORRERAM, MAS PARA OS ESTADOS UNIDOS FOI MUITO BEM FEITO, OU SÓ SÃO INOCENTES OS DE UM LADO.
SOMOS TODOS DE CARNE E OSSO, QUEM COM FERROS MATA COM FERROS MORRE.

Carlos Damas disse...

Um horror, que tamanha traje dia.

Anónimo disse...

Excelente .... esta recriação do acontecimento.

Anónimo disse...

Nestas tragédias de ataques terroristas morrem sempre mais inocentes. E terroristas há em qualquer lado.
Sim, concordo que os EUA têm cometido, ao longo da sua história, muitos ataques terroristas: basta mencionar Hirochima e Vietnam. Mas o 9/11 foi um ataque a gente inocente, muitos deles até não americanos. E quanto ao facto da grande cobertura dada pelos media tem a ver com a grande densidade populacional jornalística de Nova Iorque. Será sempre mais difícil estarem jornalístas para cobrir um ataque bombista no Iraque, no Paquistão ou no Afeganistão. Mas grande parte dos mortos, seja onde for que aconteça um ataque terrorista, será sempre gente simples e inocente. E aqui estou em completo desacordo com o comentador das 11:39, quando põe a tónica do "FOI MUITO BEM FEITO". Não, foi muito mal feito, como sempre o é quando morre gente inocente. Muitas vezes quando apelamos à nossa visão equitativa do mundo, ou seja "olho por olho dente por dente", deixamos transparecer a nossa forma distorcida de ver as coisas, em certa medida uma forma de terrorismo..., mental.
Quanto ao relato fotográfico do AC só posso dizer "em cheio"!

Anónimo disse...

a cena do enforcamento do Saddam Hussein...publicitada SOB O CRIMINOSO SORRISO "das tropas yankes loucas" é tão, ou mais, horrível que "o crime das torres".

E TUDO PERPRETADO PELOS ESTADOS UNIDOS...à cause do petróleo.

Ou NÃO FOI????? e não está a ser noutras latitudes???????

Deus é Grande

Anónimo disse...

Meu caro AC


A descrição que fazes do 11 de Setembro, estando como se lá tivesses estado, faz efectivamete parte da história de cada um de nós e daqueles três mil mortos.
Contar como contas a tua visão, é vencer como venceste o medo que há, em cada um de nós, de nos assumirmos cidadãos do mundo.
Calar seria perdermo-nos neste mundo, não percebermos e não denunciar os pontos de viragem irreais e violentos que a vida humana comporta.

O ataque fanático ao WTC, foi uma carnificina sem nome e que a História do Bem na sua luta constante contra a História do Mal dispensará imaginar sequer que possa repetir-se na América.Ou em Lisboa,sabe-se lá...

Não é este o caminho e aqueles que morreram feitos "pó inocente da Humanidade", não eram só americanos.
Eram gentes, eram pessoas de mais de uma centena de países,vitimas inocentes da demência de um mundo que, como bem sinalizas, se tornou e pode ficar a arder e em trânsito fatal para a irrealidade do seu/nosso aniquilamento.

Meu caro AC,

Por mais que, às vezes, sejamos tentados a apressar justificações devo dizer-te gostei do teu texto tanto por ficcionar a realidade, como, por ver que a realidade anda sempre à frente da própria ficção.
Não é só uma questão de jeito literário,é uma questão inteiramente séria e legitima de interpretação do mundo.

O que também não deve deixar de dizer-se, é que a verdadeira mensagem, muito para além da politica,é a de que devemos fazer a paz em vez da guerra,praticar o amor em vez do ódio,assegurar-nos que a corrupção não tem nada a ver com a virtude. E, finalmente, que o terrorismo com nome de guerra, não é como nunca foi nem será uma guerra justa.Ou uma forma justa e praticavel de sermos seres humanos,cristãos,budistas ou muçulmanos.

De cegueiras irreversíveis e dispensáveis como esta do 11 de Setembro, está afinal a História já cheia!

Com um abraço muito forte


Antonio Neves Berbem