quarta-feira, 24 de agosto de 2011

TRADIÇÕES DA MINHA TERRA

IR ÁS SORTES

Ainda o Sol não despontava no horizonte, e já “eles” se faziam ouvir!!!
Entravam na “Vila” pelo “Choupal”. Faziam-se transportar em “carros de parelhas”, puxados por magníficos “machos”. Cada carro acomodava aí uns vinte. Todos de pé e abraçados. Cantavam “saias” e cantigas alentejanas sempre acompanhados por uma “concertina”. As “ agarrafas” da água ardente e do “escarchado”, passeavam de mão em mão e de boca em boca.
Eles eram os rapazes que vinham “tirar as sortes”. Ali, muitas vezes se traçava o futuro, e nem mesmo quando se sabia que “ficar apurado”significava ter que enfrentar uma guerra diminuía a alegria contagiante destes jovens.
Chamava-se “TIRAR AS SORTES” o ser presente à inspecção médica, para avaliar a robustez no intuito de se saber se estava ou não apto para o cumprimento do serviço militar.
O ritual durava cerca de uma semana, primeiro os de Santiago Maior, depois Juromenha, os últimos eram os do Alandroal.
A noite que antecedia o evento, era consumida nos preparativos, pelo que a maior parte não chegava a deitar-se. Agora que revejo a cena, parece-me que tão bêbados vinham os protagonistas, como os animais que puxavam os carros.
Era um período e grande negócio para os “taberneiros” e comerciantes, em contraste com as dores de cabeça das autoridades responsáveis pela manutenção da ordem pública.
Chegados à Praça, depois de uma paragem na taberna do Eduardo, começavam as confusões: medição de forças, braços de ferro, saltos das grades da Câmara,”más-lutas”e o culminar das “brincadeiras”, banho completo na Fonte para refrescar as ideias.
Depois de saberem, o resultado da inspecção, enfeitavam-se com metros e metros de fitas, compradas no Valadas, ou no Alexandre, e às vezes no Bernardino, cujas cores simbolizavam a “sorte” de cada um: Vermelhas, se estavam aptos para a tropa (Apurados), Verdes, se estavam inaptos (Livres), Brancas se vislumbrasse que ainda não tinham atingido a maturidade completa, mas que poderiam no ano seguinte atingi-la (Adiados).
Pelo sol-posto, com a mesma alegria e irreverência, com que tinham chegado partiam para as suas Aldeias, para participarem aos familiares o resultado “das sortes”. À noite, no Baile era altura de com a namorada traçar planos para o futuro, agora que uma etapa importante da sua vida se tinha decidido.

Também eu...tirei as sortes...percorri as ruas da Vila cantando saias... fui acompanhado pelo Domingos Cachamela e o seu trombone... matámos uma vitela... comemo-la na casa que ficava por debaixo da Sociedade da Música.... Fizemos um baile com um conjunto do Redondo... a “festa” durou uma semana... e sabem como terminava todas as noites? BANHO NO CHAFARIZ DA FONTE.
Xico Manel





3 comentários:

Varandas disse...

Ó amigo Xico, acho que essa das fitas está trocada:
Verde - apto
Vermelho - inapto

Pelo menos no meu tempo era assim, fins dos anos '80, mas nessa altura já não havia guerra, quem sabe se não trocaram as cores!

Mas penso que não, que era a mesma coisa.

Já agora a mim tramaram-me. No meu tempo havia, uma modalidade que era RESERVA DE INCORPORAÇÃO, foi o que me calhou. Significava ser mobilizado em caso de guerra em qualquer altura. Só aos 26 anos me passaram, à RESERVA TERRITORIAL.

Só tive uma vantagem nisso, todos os meus colegas que não cumpriram o serviço militar, tiveram de pagar o selo militar, eu não, era considerado como possível incorporado em qualquer altura.

Rosinha.

francisco tátá disse...

Ó amigo Rosinha não se está mesmo a ver que o encarnado era dos aptos e o verde dos inaptos (com as devidas desculpas aos que não eram aprovados). Ainda hoje é assim... basta vêr o Campeonato Nacional.
Olha que eu ainda guardo a tal "fitinha". Se estou enganado há muitos da minha geração que podem esclarecer a questão. O Tói por exemplo, o Luís Balsante, o Coelhinho, o Balanças, o António Vicente e muitos mais a quem aproveito para mandar um abraço
Chico

Anónimo disse...

SINAIS DO TRÂNSITO meus amigos...

VERDE - Continua "livre".

VERMELHO - Não pode continuar "livre".

1º. Cabo