A PROPÓSITO DO ALMOÇO DOS CHÍCHAROS

Hoje, vou “meter a minha colher” nos chicharos.

Chegou-me hoje aos ouvidos (fonte fidedigna), que o tão almejado repasto, que tanta água na boca tem criado (eu incluído) … era servido em forma de puré. Leram bem, PURÉ!!!
Fiquei horrorizado, um purezinho de chicharos? Isso é lá maneira de comer chicharos? Puré, diz o meu pai, é comida para doentes acamados, cada vez que a minha mãe põe na mesa essa sopinha toda passadinha.
Quando ouço falar em chicharos, vem-me à memória vigorosos ganhões que depois de meia jornada de intensa labuta, os ingeriam por forma a suportar o resto de um dia de trabalho árduo até ao anoitecer. Coisa robusta.
Sim senhora, puré de chicharos, não lembra ao Menino Jesus.
E eu, qual miragem, já os tinha visto a fervilhar sobre um caldo espesso e aveludado, juntamente com umas batatinhas novas grosseiramente quartejadas, ao lado de doces e suculentas cenouras longitudinalmente cortadas e depois divididas a meio; sonhei inclusive com um salteio de canudos de massa de meada, para assegurar a solidez do prato.
Ah! E o cabrito? Imaginei-o de idade adulta, em que a aba e as costelas, com salga de dois dias, passado a noite da véspera a demolhar, saltaria em primeira instância para uma ampla panela de ferro à chaminé do Zé do Alto. Lá estaria um generoso naco de toucinho com três dedos (dos meus) de altura com um aligeirado travo de ranço. Isto para não falar num sortido de enchidos onde predominaria a morcela.
Já estava olhando para amplas terrinas rústicas, recheadas de finas fatias de pão caseiro, compostas por verdes ramos de hortelã fresca, aguardando pelo escorrer dos elementos descritos.
Depois era só esperar pelo aberamento das sopas e toca a degustar. É preciso mencionar o tinto?
Pois é mas a realidade é outra. PURÉ.
Puré de chicharos? Três vezes, bah!

Cozinheiro do Reino
(Parreira)

ENTÃO LÁ VAI  MAIS UMA RECEITA ENVIADA EM COMENTÁRIO E QUE MERECE SER PONDERADA:

Mal pensava a Dona Eveline Sambraz nas suas "Voltas Trocadas" que aquela receita, praticada na alta Idade Média e, segundo ela diz, comida nas margens do Quadiana - no monte do Chapim, mais exactamente - viria a ser objecto de polémica já em pleno século XXI.
Assim sendo, e já que o forno está no ponto, não resisto a mandar para a controvérsia, uma outra receita de cabrito com chícharos.
( fica o aviso de que esta receita é de fazer crescer os cabelos em volta dos bicos das mamas )
- As damas que se acautelem -
- Receita para 12 pessoas -
- 1/2 cabrito com cerca 4 kg
- 6 copos de vinho de Borba
- 2 copinhos de aguardente
- 0,5 kg de cebolas grandes
- 1 kg de tomates maduros
- 2 pimentos verdes
- 1 raminho de louro
- 1 mão cheia de ameixas secas
- 2 kg de chícharos
- sal a gosto
- azeite do lagar
Deixe os chícharos a demolhar de véspera. Com o cabrito faça uma marinada numa solução de azeite, a que acrescenta o vinho e a aguardente.
No dia seguinte, coloque a carne e os chícharos numa assadeira de barro, junte as cebolas e os tomates, cortados às rodelas, as ameixas inteiras, as folhas de louro e ajuste o sal. Os pimentos são cortados em tiras finas e compridas. Cubra tudo com os líquidos da marinada.
Leve ao forno e deixe cozinhar durante cerca de hora e meia em brandos calores.
Atenção - à medida que os líquidos da marinada desaparecem, vá acrescentando água da demolha dos chícharos.
Nesta receita os chícharos podem ser substituídos por lentilhas, mas não é a mesma coisa.
Quanto ao cozinheiro do reino, espero que, pelo menos, se faça acompanhar duma cacholeira do seu próprio fabrico.
E dum naco de toucinho .... que nós não somos nenhuns mouros.
Essa agora !
Disse