Mesmo sem o conhecimento dos Autores (por desconhecimento do contacto), permito-me transcrever o “PONTO DE VISTA” de Buedix (Manuel Bilro e António Mestrinho) publicado no último número do Montemorense.
(Não pedi autorização mas espero que me desculpem)
Era uma vez duas comadres.
Estas duas comadres viviam na mesma aldeia, e apenas um corredor estreitinho separava as suas casas. Cada uma tinha a sua horta, o seu galinheiro e umas bancadas para a malta conviver. Uma tinha um grande roseiral; a outra, um grande pomar de laranjas. Dizia-se delas que eram mulheres de grandes convicções, rudes, teimosas. Os vizinhos afiançavam que a sua proximidade era garantia da estabilidade social da aldeia.
Quem os visse à conversa na rua, falando uma com a outra, julgaria tratar-se das melhores amigas da aldeia. E dava prazer ouvir aquelas comadres, donas de uma oratória invejada por todos, tal era a capacidade de transformar as mentiras em meias verdades, e as meias verdades em quase-verdades-que ninguém desconfia.
A vida na aldeia era pacata. Mas entre quatro paredes, a conversa era outra. Cada uma das comadres atirava para cima da outra toda a culpa pelo atraso do desenvolvimento da aldeia. À socapa, os vizinhos lá iam ouvindo os gracejos e cavaqueira em que, cochichando com o seu grupinho de defensoras, se atacavam uma à outra, fazendo uso de todo o vocabulário popular grosseiro. Mas quando se confrontavam frente a frente, as comadres transfiguravam-se em autenticas figuras da política, com toda a eloquência e desdém argumentativo.
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Até que um dia, o assunto que todos os anos fazem estas comadres andar de candeias às avessas ganhou contornos assustadores.
A tradição manda que aquelas duas comadres assumam entre si a responsabilidade de distribuir os dinheiros da aldeia.
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Tempos houve em que um decidiu durante anos a fio, até a outra ter ganho maior confiança dos habitantes para ser então a fiel depositaria das finanças comuns.
Esta que agora decide julga-se no pleno direito de decidir o que bem quiser. Mas acontece que as outras aldeias vizinhas já não acham muita piada às decisões da comadre que comanda agora.
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Os boatos já são tantos, que a paciência da comadre “rosa mandona” se esgota.
E nisto o que é que a comadre decide? Ser austera. Mexer nos dinheiros de quem trabalha, porque as gentes das outras aldeias acham que a governação está a ficar pobre.
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Como seria de esperar, as vozes de protesto não se fizeram esperar. Houve até quem ameaçasse não dar de beber às vacas para estas não darem mais leite.
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Como ninguém teima sozinho, as comadres teimaram e teimaram até que, por fim lá chegaram a um acordo.
“Disseram” : Se não querem ser governados, eles que se governem sozinhos! Vamos as duas para outra aldeia!”, E foram.
Desde então , a aldeia que abandonaram vive feliz, há dinheiro para todos e as politiquices resolvem-se num jogo de sueca.
Buedix (Manuel Bilro e António Mestrinho)
PS- Qualquer semelhança com o que se passa no Alandroal é mera coincidência.
A transcrição deste texto reflecte apenas o ponto de vista do administrador do blogue
3 comentários:
Eetá vendo, essa é q é essa.
Tal e qual belo exemplo
zangam-se as comadres descobrem-se as verdades.
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