terça-feira, 19 de outubro de 2010

UM APERITIVO


A Vingança de Severiano Valverde

 

"(...)" No dia do lançamento da sua obra mais recente no auditório da Biblioteca de Vila Nova, a abarrotar de gente ― pois Severiano tinha muitos amigos e já tinha soado entre eles que este livro era um bocado estranho ―, mal sabia ele o que o destino lhe tinha preparado. Iniciada a cerimónia, elogiado o autor, a editora e o livro e feitos os agradecimentos, seguindo religiosamente os trâmites do protocolo, Severiano disponibilizou-se para a sessão de autógrafos.

― Não! ― ouviu-se uma voz.
― Não? ― perguntou o escritor.
― Nós não vamos querer o seu autógrafo enquanto não soubermos o que está dentro do seu livro.
― Mas para isso têm de ler as histórias… ― lançou Severiano, pensando que os desarmava.
― É isso mesmo que vamos fazer.
E toda a gente, num profundo silêncio, perante o atónito escritor e a preocupada editora, começou a ler as histórias, cada um à sua velocidade, ora esboçando sorrisos, ora esgares de irritação ou surpresa ou mesmo exclamações de desespero e fúria incontida. Palavra a palavra, linha a linha, as histórias que compunham o pequeno volume foram lidas, dissecadas, assimiladas, experimentadas mentalmente para ver se eram verosímeis. O escritor, em estado meio de espera, meio de alerta, trocava olhares com a doutora que se encontrava sentada na outra extremidade da mesa de honra "(...)".

A VINGANÇA DE SEVERIANO VALVERDE, in Outros Contos de Vila Nova (Ed. Tágide, 2010)

Sem comentários: