quarta-feira, 7 de julho de 2010

" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "

(Continuação do dia anterior)

" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "

( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

continuando .... ainda em 1937 ....

A herdade das Courelas tinha cerca de cem hectares, muito pequena em termos alentejanos, e era sensivelmente dividida ao meio pela estrada que liga a vila de Terena à aldeia da Venda, passando por Capelins. No lado direito da estrada, no cimo do cabeço, ficava o monte velho ou seja o monte das Courelas, e no lado esquerdo ficava o monte Novo, assim como os palheiros, a alcaria e as malhadas. No monte das Courelas vivia o Francisco e a Rosalía e no monte Novo vivia o João José com a Guadalupe e a Rosário. Todos os cem hectares estavam densamente arborizados com azinheiras e sobreiros, o que contribuía para a manutenção permanente de uma vara de porcos, que com alguma ajuda de rações, na época ainda relativamente desconhecidas, permitiam o sustento de toda a família. Juntando ao que acabei de escrever, uma horta bem provida de água e muito bem tratada, por um hortelão competente, que ao mesmo tempo era caseiro e guarda e amigo, levava a que os Rodriguez Potra ficassem com muito tempo livre para se dedicarem a outras actividades.
( Quanto a essas actividades muito haveria que dizer, e desde já lembro que esta narrativa, vamos chamar-lhe assim, está a ser escrita por uma sua descendente que sempre verá com benevolência, coisas que outros verão com olhos e critérios diferentes e mais rigorosos, isto é, não procuro compreensão nem solidariedade, apenas procuro transmitir a impressão com que fiquei quando ouvi relatar estes episódios. E desde logo me pareceu que esta família tinha, nessa época, como divisa, " olho por olho, dente por dente " ).
( .... e os meus antepassados não estavam assim tão inocentes na morte do António Pombo .... senão vejam .... )
Coisa de três meses antes dos acontecimentos já descritos, Francisco Potra foi abordado por um amigo sobre a necessidade de esconder, durante uns tempos, um republicano espanhol em fuga, vindo da região de Serranía de los Caballeros. Combinou-se que o homem ficaria escondido no monte das Courelas e que seria encaminhado para o seu destino logo que os contactos necessários fossem feitos. Tomaram-se todos os cuidados para que a operação não fosse descoberta e durante três meses o fugitivo esteve em casa de Francisco Potra, de tal maneira escondido, que nem dona Rosalía deu pela sua presença. Apenas o dono da casa, os restantes irmãos, o caseiro e a mulher deste tomaram conhecimento. Nesse entretanto, tiveram ocasião de falar do que se passava no país vizinho, e afinal também o país de Francisco, já que sua mãe era espanhola de nascimento. Teve ocasião de explicar ao espanhol as actividades de pessoas como o António Pombo, que em Portugal perseguiam os refugiados republicanos e os entregavam aos nacionalistas em Badajoz, onde eram imediatamente fuzilados. O espanhol, que não era homem de grandes conversas, pareceu muito interessado nessa informação e disse que deviam resolver esse problema. A partir desse momento, Francisco, nunca mais deixou de chamar à conversa a questão do António Pombo, e quando o fazia, notava a excitação, cada vez maior do outro. Um dia, novamente através do amigo que inicialmente o contactara, aprazou-se a partida do fugitivo. Pois é, a partida ficou marcada para o dia seguinte e o homem falou em resolver de vez a questão do António Pombo antes de se ir embora. Para isso pediu apenas que o levassem e trouxessem do local, já que o Francisco lhe tinha exposto um plano que vinha amadurecendo desde que tinham falado nesse assunto pela primeira vez.
(Continua)

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