terça-feira, 6 de julho de 2010

" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "

(Continuação do dia anterior)

" VIAGEM ALENTEJO / EXTREMADURA. IDA E VOLTA "

( Ou fragmentos da vida de uma família raiana ).

- " Todos se quedan unos dias por aqui " - disse Francisco. Logo Rufino atalhou :
- " Eu tenho que ir à tenda. Receio que me assaltem a casa. " - E Francisco, falando de novo - " Irás mañana. Puedes llevar o coche do mano João José e depois vuelves " -
Facilmente se via que era Francisco quem, em momentos de aperto, tomava as decisões, e não só por ser o mais velho, era porque emanava dele uma autoridade natural. Assim se fez. Afinal, os últimos dias tinham sido terríveis para todos eles, incluindo as raparigas, e uns dias de descanso e convívio entre os irmãos serviriam para estreitar mais os laços do afecto que visivelmente os unia. Apenas teriam que ter cuidado nas conversas em frente da irmã Rosalía, para que esta não se apercebesse do que se tinha passado e assim piorar o seu estado que já era, psicologicamente, uma lástima.António da Cinza também apareceu para os ver, trazendo consigo alguns acepipes que sabia serem do agrado da família. O taberneiro deu novidades do que se ouvia na aldeia e contou que até o comandante da Guarda Fiscal se mostrara desagradado por não terem libertado imediatamente os três irmãos no seguimento do seu testemunho. Outra pessoa que se mostrara indignada fora o senhor don Miguel da Mota, que sendo favorável ao Estado Novo, não compreendia o desdém que as autoridades demonstraram para com ele a seguir ao seu depoimento. Ainda pedira para falar com o senhor Governador Civil, mas Sua Excelência não estava disponível. De Espanha, através dos canais próprios de uma situação de guerra civil, tinham chegado vários pedidos de informação, prontamente respondidos por ele próprio, António da Cinza. Estas eram, digamos, as novidades mais relevantes. Por fim, depois de ouvir as irmãs e o António da Cinza, comentou Francisco - " Llevando en cuenta todas las situaciones non se queda muy mal. Depois veremos. " - .
( E foi assim, no decorrer de um serão, passado na cozinha da casa do tio Lorenzo, em Zafra, em 1965, à volta da lareira, que eu e a Evita tomámos conhecimento deste episódio em que os nossos maiores tinham tido um papel activo nos acontecimentos daquela época conturbada. )

(Prossegue amanhã)

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