sexta-feira, 16 de julho de 2010

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Martim Borges de Freitas - Re-Evolução


Sexta, 16 Julho 2010 11:51
Todos os anos, por esta altura, se discute na Assembleia da República o estado da Nação. No ano de 2010 este debate poderia ter sido dispensável, já que, para quem o quisesse ter feito antes, não faltaram oportunidades. Arriscaria, aliás, dizer que, embora de forma desgarrada e sem que se tivessem percebido os rumos propostos, neste ano de 2010 já se discutiu mais o país, o Estado e o estado do país, do que em qualquer um outro dos últimos vinte cinco anos.
Estando o país muito doente, é pena que Portugal vá sendo discutido às pinguinhas, sem que uma ideia de conjunto, coerente, seja apresentada ou, pelo menos, pelo comum dos mortais entendida, nem quanto ao diagnóstico – que todos dizem já estar feito e ser de todos conhecido – nem quanto ao remédio. O debate sobre o estado da Nação deveria, pois, obrigar os partidos a clarificarem a alternativa que dizem representar e, nessa medida, o dito debate teria toda a utilidade mesmo num ano como o de 2010, em que, repito, muito já se falou sobre o estado da Nação. Focar o debate do estado da Nação num ou noutro assunto, banaliza-o.
Já não é a primeira vez que digo que aquilo de que o país precisa não é de medidas, mas de políticas, de políticas alternativas. As medidas só fazem sentido quando há consciência clara do que visam alcançar. E como só é possível ter-se consciência do que as medidas visam alcançar se se tiverem permanentemente presentes as políticas em que essas medidas são enquadráveis, então, tomar medidas sem que tenham sido minimamente alteradas as políticas que as devem enquadrar não servirá para nada. Eis porque digo que não é de medidas que o país precisa, é, antes, de políticas e de políticas alternativas que o país carece. Já chega, pois, de paliativos. É tempo de avançar para a cura. Se for feita como deve ser, estou convencido de que até pode ser menos dolorosa do que a que fatalmente terá de ocorrer após a recorrente utilização de paliativos.
Uma das razões, talvez a principal, que levou ao calamitoso estado a que a Nação chegou é a quase inexistência de um franco, livre, leal e aberto debate político no interior dos partidos democráticos. Partidos que são, afinal, o sustentáculo da democracia. Hoje, os partidos políticos portugueses, em menor grau na extrema-esquerda, vivem à sombra dos seus líderes. Se houvesse debate de ideias, possibilidade e vontade de nele participar no interior dos partidos, seria infinitamente mais fácil encontrar novas políticas, percebê-las, destacar as que são exequíveis e, mais importante, conferir-lhes coerência. Não havendo esse debate, muito por força da lógica controladora dos aparelhos partidários, o que acontece, com cada vez maior frequência, é que se afirma uma coisa hoje completamente diferente daquela que fora afirmada ontem ou anteontem, com o conveniente, mas pernicioso, argumento de que as circunstâncias mudaram.
Sempre achei que os partidos políticos deveriam ser partidos de projecto, com políticas próprias para cada área de governação, coerentes entre si e no seu conjunto. Ora, se já não vão havendo dúvidas de que a Nação está no estado em que está por responsabilidade directa e quase exclusiva dos partidos políticos, vai havendo também cada vez menos dúvidas (para os que se interessam por Política) de que se os partidos permitissem um debate livre no seu interior (entendido no seu mais amplo sentido) contribuiriam – de forma inestimável, diria eu – para que o estado da Nação fosse outro. Num país governado à esquerda, editado à esquerda, pensando ainda hoje maioritariamente à esquerda, seria surpreendente que fosse à esquerda que ocorresse a mudança e nela residisse a esperança. Por isso, é à direita que está a oportunidade. Para a evolução. Para uma nova evolução. Para uma re-evolução.
Martim Borges de Freitas



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