Nota prévia: eram tão bom que Ministro, Secretários, sub-secretários e demais “corja” lessem este texto e aprendessem alguma coisa!!!
Seria também uma mais valia que colaboradores do Al Tejo, que considero à altura de comentar este tema ( Dr Berbem, Dr luís Nabo, “Leitor”,Tói da Dadinha, Trevor 12., Elso, Cronistas da Diana Fm, J.P, Cabe, Al barram. e Outros escrevessem algo sobre o texto.
Aqui deixo o desafio.
Sem dúvida há aqui algo que merece a atenção de pessoas que se interessam sobre os aspectos do ensino e culturais nos tempos que correm.
Digam de sua justiça e vamos valorizar este nosso espaço.
F,Tátá
Aspectos culturais no contexto da I República
A acção dos políticos republicanos em prol da educação do povo desenvolveu-se desde muito precocemente. Efectivamente, à data da Revolução de 5 de Outubro, a republica recebera da Monarquia uma insólita herança: uma taxa de analfabetismo na ordem dos 80%..
Ora, no programa que o Partido Republicano defendia durante os últimos anos da Monarquia, contrapondo – na consciência colectiva – uma esperança mobilizadora de cariz dinâmico, pretendia inverter a situação da crise generalizada que se vivia no regime monárquico. Assim, a “ regeneração da Pátria” passaria (como condição indispensável) pela educação dos cidadãos – pois só a educação poderia contribuir para formar os novos cidadãos, enquanto portugueses eleitores, produtores de riqueza, vigilantes da governação, participantes atentos na vida da Nação: através do voto, ou actividade profissional, na opinião pública, no sindicato ou associação cultural, ou partido político.
Porem, o acto cívico – diz-nos António Sérgio – emana dos valores culturais, éticos, sociais e políticos da cada um – pelo que (segundo ele) a formação cívica para a Democracia, se deveria iniciar na Escola ( com a aprendizagem da autonomia, da opção política, da opção de sentido de opinião, da auto disciplina mental, com a aprendizagem do uso da razão – enquanto luz dos nossos actos).
Também Raul Proença – em tempos dos últimos meses da Monarquia – apresentaria no Parlamento um projecto de eleições em que via a Democracia como um regime político assente numa realidade gregária, colectiva, mesmo libertária – consagrando o direito à rebelião do individuo, face a um meio social opressivo e tirânico ( modificando-o por um acto revolucionário, não gratuito nem como fim último em si, mas como um meio de o homem poder levar mais longe as suas concepções mais intimas e poder tentar por em prática o seu ideal); daí , considerar a Declaração dos Direitos do Homem, um acto mais fecundamente revolucionário do que a Tomada da Bastilha. Assim a situação de soberania do cidadão, implicava a formação das mentes dos indivíduos – tão densamente defendidas também por Bento de Jesus Caraça ou João de Barros ou Aquilino Ribeiro.
João de Barros alertava “ Num momento em que precisamos de alcançar os outros povos mais adiantados do que o nosso, e colocarmo-nos a par deles pelo civismo e pela cultura….o facto é digno de ponderação e não tão insignificante como à primeira vista parece…Enquanto não educarem assim, guardem esta expressão para os discursos fogosos, pois ela não corresponde à realidade e esta se encarregará de a desmentir em breve”.
Ilustrando os ideais republicanos, de formação para a cidadania, tenhamos em mente, o Preâmbulo do decreto de 29 de Março de 1911 – que reorganiza os serviços da instrução primária: “ o Homem vale sobretudo, pela educação que possui, porque só ela é capaz de desenvolver harmonicamente as suas faculdades, de maneira a elevarem-se –lhe ao máximo em proveito dele e dos outros. A educação exerce-se, como que automaticamente, durante toda a vida, só com a diferença de que, na idade adulta, o homem confia a si mesmo a missão de seu próprio educador, ao passo que, na idade infantil, precisa de um guia, que é conjuntamente a família e o mestre. Educar uma Sociedade é fazê-la progredir, torná-la um conjunto harmónico e conjugado das forças individuais, por seu turno desenvolvidas em toda a plenitude. E só se pode fazer progredir e desenvolver uma sociedade fazendo com que a acção continua, incessante e persistente da educação, atinja o ser humano sob o tríplice aspecto fisíco, intelectual e moral”.ia
E assim, por todo o Pais (em cada sede de concelho) foram criadas escolas – bem como em algumas freguesias rurais igualmente – onde eram aplicados princípios modernos de pedagogia, assentes no conceito de desenvolvimento integral da criança, na individualização do ensino (personalizando-o), no esforço de desenvolver a sua capacidade criativa e maturidade emocional.
A par das escolas primárias, surgiram (pela primeira vez no País) redes de Jardins de Infância. Para prever a necessidade de colocação de professores para estas Escolas, foram criadas simultaneamente Escolas Normais – onde eram preparados Professores Primários e Educadores de Infância.
No campo do Ensino Liceal foram criadas duas Escolas Normais para formação de Professores Liceais.
O âmbito do Ensino Técnico foi mais privilegiado: Nasceram o Instituto Superior Técnico, o Instituto Superior de Comércio – que adoptaram programas, métodos e material didáctico modernos. Também surgiram o Instituto Superior de Agronomia e a Escola de Medicina Veterinária.
No âmbito do Ensino Médio, foi criado o Instituto de Comércio do Porto. Por todo o País foram criadas diversas Escolas Técnicas (agrícolas, industriais, comerciais) – havendo em 1923, 54 Escolas Técnicas a nível secundário, no país: com 8.000 alunos.
No campo do Ensino Superior, são criadas as Universidades de Lisboa e Porto – com modernos planos de estudos.
No campo da alfabetização das populações, devido aos inúmeros obstáculos levantados ao regime republicano democrático, os ideais da democratização da instrução estiveram longe dos desejos dos Republicanos.
Porem no campo da Cultura (sobretudo em Lisboa e Porto) foram muitos os concertos musicais (inclusivamente espectáculos de ópera) a preços baixíssimos – destinados ao povo ( no São Carlos e no Coliseu dos Recreios). Também, eram organizadoas exposições de artes plásticas, divulgando a Arte nos meios populares, e criaram-se museus locais e regionais. Igualmente, organizaram-se os arquivos distritais (enquanto preservação da memória nacional e local). Com o fomento da cultura junto das camadas populares, surgem muitas bibliotecas públicas e operárias, com leitura livre e com o fomento da leitura junto dos jovens (incluindo a abertura da leitura ao ar livre e nos jardins públicos) – plano de fomento cultural desenvolvido por Jaime Cortesão e Raul Proença.
Na I Republica, surgem os livros de bolso (facilmente utilizáveis e de baixo custo) .-destinados à expansão da cultura.
Igualmente, são publicados novos jornais e revistas – que permitiu um maior confronto de ideias e opiniões (atingido em 1917, perto de 420 periódicos em Portugal) – denotando uma abertura do regime democrático a um debate livre e à formação de uma escola de democracia.
Ora, paralelamente, surgiu um culto pela oratória (com um valor estilístico, de pensamento racionalista e de linguagem, e de argumentação livre): como encontramos em António José de Almeida, Afonso Costa, Alexandre Braga, Bernardino Machado ou Cunha Leal.
No âmbito da literatura recordamos Guerra Junqueiro, Gomes Leal, Júlio Dantas; Henrique Lopes de Mendonça; Campos Júnior, Carlos Malheiro Dias, Rocha Martins, Teixeira de Pascoais, Lopes Vieira, António Correia de Oliveira, António Feijó, António Patrício de Oliveira, Raul Brandão, Jaime Cortesão, Teixeira Gomes, António Sérgio, Raul Proença, Almada Negreiros e Fernando Pessoa (entre outros) que escreveriam (na prosa, poesia, teatro e ensaio) literatura entre a defesa da Democracia e um Nacionalismo conservador (que abriria portas à ideologia da Ditadura do 28 de Maio).
No campo das artes plásticas, se nos primeiros tempos da Republica predominou a pintura naturalista (com Malhoa e Columbano) a certa altura surge o “modernismo” – com os pintores Abel Manta, Almada Negreiros, António Soares, Mário Eloy, Armando Bastos, Dórdio Gomes., Eduardo Viana e Amadeu de Sousa Cardozo.)
Curto período (16 anos de Republica) – mas um tempo de Cultura intensa: que tentou mergulhar na formação de mentalidades livres.
José Alexandre Laboreiro
Julho 2010
(Publicado na "Folha de Montemor" edição de Julho 2010, e transcrito com a devida autorização do Autor)
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1 comentário:
Pedem-me um comentário sobre esta critica.
Mas uma vez que não sou muito competente para me alongar e aprofundar nesta questão limito-me a fazer um comentário que me ocorreu.
No que diz respeiro à cultura não tenho muitas palavras, é assunto muito complexo com muitas vertentes, não seria num comentário que escreveria tudo o que merece. Apenas digo que está muito mal entregue em Portugal.
Na educação em geral posso dizer que vamos de mal a pior e com tendências para piorar.
Não esqueçamos a Instrução parte integrante da educação, que está má! mas vai progredindo.
Existe uma vertente na educação que todos sentem mas que ninguém se lembra, e é a ela que temos de apontar o dedo. A influência da família na educação.
As escolas todos os dias se distanciam mais dos pais, os pais com todos os problemas que tem para sobreviver neste país, o stress do dia a dia, etc. Todas estas atitudes levam a que os filhos tenham uma educação na escola precária.
A verdadeira educação só pode ser dada nas famílias e nas escolas mutuamente, através dos Pais e Professores. Logo são estes que com os seus exemplos e ensino transmitirão aos filhos/alunos novos os valores que constituirão as regras de comportamento na sociedade, e que criam assim um ambiente em que todos poderão desenvolver-se a si e aos outros de uma forma equilibrada e harmoniosa. Vão ver e aceitarão as dificuldades, trabalharão e esforçar-se-ão por as ultrapassar, e depois, claro gozarão dos benefícios que daí resultam.
Vejam os exemplos dos países mais desenvolvidos, o Ocidente.
Há 30 anos atrás criaram-se escolas em quase todas as freguesias, hoje faz-se o contrário! Tudo isto nos primeiros anos de ensino.
No ensino superior os cursos mais estimados,(medicina, direito, etc…)nas universidades de mais prestígio tem competitividade de entrada, o mesmo não se passa com outros cursos e outras universidades. Aqui a competitividade é nula, as universidades menos prestigiadas com cursos menos prestigiados, tem alunos com médias de 9,5, são alunos que demonstram falta de incapacidade para estudar, onde na maioria dos casos a culpa não é do aluno mas sim do sistema escolar incompetente.
Este comentário é apenas um pouco do que eu acho da "porcaria" de ensino que temos actualmente.
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