domingo, 6 de junho de 2010

POETAS DA MINHA TERRA

ANTÓNIO MANUEL SANTOS SERRA


Natural: Horta do Jarego de Cima
Data do Nascimento: 12 de Fevereiro de 1964
Residência: Alandroal
Faz poesia desde os 13 anos.

MOTE

Vou dizer o que ganhava
No tempo em que era pastor
O meu povial não prestava
Nem sequer tinha valor.

Ganhava sete galinhas
Cinco patos e três piruns
Ratos também tinha alguns
E também tinha uma burrinha.
Eu tinha uma cadelinha
Que nem p´rás sopas prestava
Era mouca e não ladrava
Sem dentes e já não comia,
Coitadinha já não via
“ Vou dizer o que ganhava”.

Eu ganhava muito pouco
Não chegava para comer
Vou então aqui dizer
Que eu tinha também um porco.
Ele já estava tarouco
Não tinha nenhum valor
Era um grande estupor
Era muito preguiçoso,
E eu tinha um gato guloso
“ No tempo em que era pastor”.

Tinha uma ovelha com ronha
Não prestava para criar
E também tinha a lavrar
No alqueive uma cegonha.
Tinha uma almofada sem fronha
Toda ela se rasgava
Eu às vezes até dava
Metade do meu povial
E eu ganhava muito mal
“ O meu povial não prestava”.

Eu tinha uma burra cega
Mouca que nem uma porta
Já tinha a cabeça torta
De eu lhe pregar com a régua.
Eu tinha ainda uma égua
Que m´a deu certo pastor
Fazia seja o que for
Para me desfazer da magana,
E rebentou-me a cabana
“ Nem sequer tinha valor”.

MOTE


Quem tem olivais tem vinho
Quem tem vinhas tem azeite
Quem tem vacas tem toucinho
E quem tem porcas tem leite.

Eu já vi um burro ir à escola
E um porco a voar
Já vi um mudo a cantar
E uma lebre a pedir esmola.
Já vi uma galinhola
Á pesca num ribeirinho
Também já vi num moinho
Ratas moerem farinha,
Isto é obra cá minha
Quem tem olivais tem vinho.

Já vi cágados de avião
Já pintos a nadar
Vi caraças a lavrar
E um gato a morder num cão.
Já vi dar um labadão
Por um valente cacete
Foi uma vez num bufete
Que um comeu e não pagou,
E, aí tantas que levou!
Quem tem vinhas tem azeite.

Vi um golfinho na barragem
A conduzir um autocarro
E fumando um cigarro
Quando ia na viagem.
Foi lá naquela paragem
Que eu vi um porco-espinho
Ia a cavalo num estorninho
E este ia as asas batendo,
Por isso estou-lhes dizendo
Quem tem vacas tem toucinho.

Vi andar a semear
Favas com um chouriço
E também vi num cortiço
Uma flosa a crestar.
Vi andar a passear
Um tubarão num “corete”
Eu vi andar um “estafete”
Que andava a correr parado,
Aqui está o resultado
E quem tem porcas tem leite.

4 comentários:

Anónimo disse...

MUITO BOM, POETA POPULAR DE GRANDE NIVEL.

Anónimo disse...

Parabens ao Poeta Serra.

Cem Estrelas

Anónimo disse...

Excelente humor e ainda por cima em verso.
Que estas coisas nunca se percam

Anónimo disse...

Plageando Sérgio Godinho: Vem-me á memória uma frase...CANTADORES DE ALEGRIAS, MÁGOAS E MANGAÇÕES, reunião dos trabalhos destes GRANDES e quase anónimos poetas editados e publicamente apresentados no QUINTAL DO RELÓGIO (repleto de gente) no verão de 1992, com cobertura dos 3 canais de TV nacionais.
Com aquela GRANDEZA e daí para cá, JAMAIS.
Que se não desprezem mais as riquíssimas e humildes mentes daqueles 38 (sim, trinta e oito) seres humanos que ao longo destes anos (dezoito) a MATERIALISTA sociedade «apoiada por alguns sobejamente conhecidos da praça» os não destrua fatalmente.
Que viva o SENHOR António Maria Santos Serra e, parabéns ao Francisco Manuel pela (lúcida) ousadia.
Abraços
Tói da Dadinha