terça-feira, 22 de junho de 2010
CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM
Miguel Sampaio - Morreu José Saramago
Segunda, 21 Junho 2010 08:47
Morreu José Saramago. Aos oitenta e sete anos de idade o construtor de palavras, nascido na Azinhaga fechou os olhos e deixou-se embalar pelo sono da morte.
Tranquilamente o primeiro laureado com o Nobel da Literatura a expressar-se na nossa língua, partiu.
Deixou como legado uma obra ímpar, identitária, que expõe como poucas, a grandeza e a pequenez da natureza humana.
Se a vida é uma passagem pelo mundo, uma viagem incerta de destino assegurado, Saramago foi o seu cronista, o narrador desassombrado e comprometido; ele mostrou-nos que longe de tudo se resumir a um entediante percurso a preto e branco, existem cores no nosso caminho; cores intensas de paixão e ódio, cores suaves de ternura e indiferença.
Mas Saramago, não se limitou a revelar essa verdade, ela viveu-a com a intensidade dos predestinados. Foi homem engajado, corajoso, que deu a cara por aquilo defendia.
Criou inimizades e amizades profundas, nunca trilhou os caminhos da indiferença, nunca hesitou na defesa do bem maior, inestimável, que é a liberdade. Saramago andou sempre de mão dada com a dignidade que veste os justos.
Seria por isso de esperar que na hora da sua morte, fossem muitos os que o homenageassem e outros tantos aqueles que não vendo, ou não querendo ver, a grandeza do seu legado, o atacassem, com razão ou sem ela; na maior parte das vezes ataques sem sentido, nascidos de ressentimentos que o desassombro do escritor lhes provocou.
Entre os segundos perfila-se o Presidente da Republica.
Confesso que tenho sérias dificuldades em pronunciar-me acerca de Cavaco Silva. Não gosto dele! E não é um desgostar racional, fundamentado, produto de análise crítica, distanciada.
O que sinto pela figura, é uma visceral aversão, algo vindo da noite dos tempos, como se sempre tivéssemos existido e sempre tivéssemos militado em lados opostos da barricada.
O homem de Boliqueime representa para mim o lado pantanoso, sulfúrico, que as democracias têm de suportar, para melhor entenderem o valor da tolerância.
A sua ausência, enquanto Presidente da Republica, nas exéquias de Saramago, é um insulto a Portugal.
Cavaco sendo o que é como cidadão; tem a obrigação de esquecer a sua incivilidade, a sua prepotência, a sua banalidade enquanto homem e lembrar-se que como Presidente da Republica, representa o Estado.
Tinha de ter estado presente, mesmo que isso lhe custasse, mesmo que a sua falta de coragem lhe gritasse o contrário, mesmo que a sua má consciência lhe tolhesse a empáfia.
Cavaco tinha de estar presente, mesmo que Silva se opusesse.
Este não é o presidente de todos os Portugueses, é uma máquina de calcular, baratucha, sem alma nem grandeza.
Cavaco é um alter-ego do Conde de Abranhos, um infeliz acaso, que se cruzou com Portugal.
Saramago disse que dele só banalidades são expectáveis.
Estava coberto de razão.
Adenda enviada como comentário
Morre o Homem…
Cá vos trago
Para contar,
Um caso que aconteceu:
Foi um homem que morreu...
Chamava-se Saramago.
Morre o homem,
Fica a fama.
Mas há famas que consomem
Quem produz "banalidades"!...
A fama e a sua obra,
Têm já valor de sobra
E são imortais!
Tal qual como os demais,
O Homem, morreu.
Paz à sua alma: digo eu.
Mas a obra, o nome e a fama,
Nunca cairão na lama…
E por mais que os maltratem,
Não morrem, nem que os matem!
enviado por um anónimo (é pena)
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2 comentários:
Morre o Homem…
Cá vos trago
Para contar,
Um caso que aconteceu:
Foi um homem que morreu...
Chamava-se Saramago.
Morre o homem,
Fica a fama.
Mas há famas que consomem
Quem produz "banalidades"!...
A fama e a sua obra,
Têm já valor de sobra
E são imortais!
Tal qual como os demais,
O Homem, morreu.
Paz à sua alma: digo eu.
Mas a obra, o nome e a fama,
Nunca cairão na lama…
E por mais que os maltratem,
Não morrem, nem que os matem!
Sou leitor assiduo destas crónicas que acho formidáveis. Não perco uma e agradam-me sobremaneira porque bem escritas, por pessoas competentes e de diferentes ideologias políticas. Bem faz o Al Tejo em transcrevê-las.
Com esta não concordo com o ponto de vista do autor. Se Cavaco tivesse no funeral, seria um acto de pura hipocrisia, pois tal como o autor escreve era considerado pessoa "menor" na mente de Saramago, que aliás nunca mostrou o minimo respeito por aqueles que não concordavam com as suas idéias.
Cavaco fez o seu papel como Presidente (fez-se representar) e mostrou coerência com a ideologia que desde sempre o caracterizou.
Saramago também não foi flor que se cheire, pois também fez muitas que não se esquecem (lembram-se do Diário de Notícias?, da sua partida para Lanzarote? quase renegando ser Português? apenas por uma birra? dos pontapés que deu no PCP, que fez triste figura no seu funeral?...enfim)
Que Saramago descanse em paz, que os seus livros sejam lidos e compreendidos por aqueles que os lêem, que o seu nome seja para sempre perpetuado...mas por favor...não utilizem a sua figura para fazer baixa política.
Tenho dito
José Manuel
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