terça-feira, 30 de junho de 2009

A FAMÍLIA TIRA-PICOS

Depois de ter relatado as tentativas de casamento do Tira Picos com a Pardaleira, só ao fim de três é que foi de vez, e das dificuldades dos primeiros tempos de casados...a história continua.

NA BANDA

Tantas foram as “arremetidas” do amigo Maçaneta, para que o Tira - Picos fosse para a Banda, que lá o convenceu um dia a apresentar-se ao Mestre Mendes, para ingressar na Banda. Aquilo até não era estranho para ele, pois em pequeno, o Pai quis que ele fosse aprender música, só que a brincadeira e a vadiagem falaram mais alto e o nosso amigo não passou do dó.
Ora se em novo não passou do dó, agora não passava do ré, e ao fim de alguns meses, como se veio a verificar que não dava uma para a caixa, mais por descargo de consciência o Maestro distribuiu-lhe a caixa, pois rufar já ele sabia. Só que marchar e acompanhar outras músicas “está quieto”, o que deu azo a que outros músicos, como o Cachacita, começassem a protestar, o que criou um mau estar, que aos poucos ia destabilizando a Banda.
A primeira saída deu-se na alvorada do 1º de Dezembro, e logo aí se viu que as coisas não iam correr a contento, pois como o Tira-Picos não acertava o compasso, a marcha era frequentemente interrompida, não restando ao Maestro senão ordenar: “rufa Tira Picos”. Até passar pela sua casa e ser visto pela sua “Pardaleira” o Tira-Picos rufou, mas depois virou-se para o Mestre e disse: só continuo a rufar se tocar a Banda, pois não estou para ser só eu a trabalhar e outros ganharem o dinheiro. Quem não gostou, e com razão foi o Cachacita, que logo ali ultimou: ou eu ou esse nabo. Ora se era coisa que o Tira-Picos não gostava era que lhe chamassem “nomes” e logo ali a caixa se foi enfeixar na “ marmita “do Cachacita, enquanto o bombo foi servir de cachecol ao mestre Ambrósio e até a tuba do Colunas serviu de barrete ao Tira – Picos, que berrando “isto não fica assim”, meteu a primeira e desandou para casa, não sem que antes o Saloio lhe tenha “berrado” “há pois não, agora incha”.
No rescaldo dos acontecimentos, foram cinco os elementos que abandonaram a Banda, mas o Tira –Picos , esse continuou.... mas não por muito tempo....

O FIM DO SONHO NA BANDA

Bem ou mal, o Tira-Picos, lá se foi aguentando como elemento da Banda, lá se foi acostumando a “tocar caixa” mais ou menos, e lá ia correndo as Festas todas, à custa da Banda. A mulher lá lhe aviava os “comes e bebes”, e volta e meia lá aparecia nas Festas para apoiar o seu marido, e embasbacar-se com o seu aprumo quando marchava. E então nas Procissões! Toda ela se “babava” quando ele acompanhava a cadência dos passos dos fiéis enquanto a Banda criava novo fôlego. Até os sogros já se deslocavam, para acompanharem o genro, naquelas Festas circunvizinhas. E depois sempre entravam mais uns tostões para o orçamento familiar, pois o negócio de deitar fundos nas cadeiras ia de mal a pior.
Enfim, tudo corria pelo melhor até que a Banda foi contratada, por dois dias, para fazer a Festa de S. Brás. Na altura e devido há falta de transporte era hábito os elementos da Banda pernoitarem na localidade onde iam actuar, e como era de Verão levavam umas mantas e estendiam-se por ali. Só que durante a noite arrefeceu, e o Tira-Picos viu na Igreja um bom local para”ferrar o galho”. Começou por dependurar o boné na cabeça do Santo, depois vestiu-lhe o casaco, achou graça e vestiu-lhe as calças. Parecia um músico a sério. Não esteve com meias medidas Pôs-lhe a caixa a tiracolo, e as baquetas nas mãos. Riu-se da sua graça, e ferrou o sono num dos bancos da Igreja.
Aglomeravam-se os fiéis à porta da Igreja, para assistirem à Santa Missa e depois à Procissão do seu Padroeiro, quando o Padre abre a porta da Igreja e dá com aquela cena!
A indignação foi geral, e quando assim é, todos são culpados. A banda foi logo devolvida ao remetente, não sem antes alguns músicos sentirem na pele a fúria de uma população indignada.
Perante tal façanha o Tira – Picos foi de imediato suspenso das suas funções, e marcada uma Assembleia-geral com o fim de ditar a expulsão definitiva do Tira – Picos da Sociedade da Música.
Quem não achou graça foi a Pardaleira que não deixou passar a oportunidade para lhe “xingar” os miolos, até porque o tempo que passava na Música não a estava a “moer” além de que o dinheirinho dos serviços sempre dava uma ajuda!!!
Ao fim e ao cabo quem pagou “as favas” foi a mulher, e assim se somou mais uma “briga” no casal.

Xico Manel

Na próxima semana vamos assistir à Assembleia Geral,e à estadia dos Tira Picos no Monte dos Sogros.
Entretanto amanhã não perca as Memórias do Rufino Casablanca.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este Xico Manel é um espectáculo!!! Obrigado amigo pelas excelentes histórias. MSubtil

Anónimo disse...

Xico!!! esta do Tira-Picos está excelente,faz-me lembrar um conhecido "xistero" de nuestros hermanos, que pintou a ultima ceia de cristo. numa das muitas catedrais daquelas terras.
Muito bom,
Um abraço,
HOMERO