Um poema do Luís Costa
OS PAPÕES DESTE PAÍS
MIGALHÃES
Lá vem pelo avelar
O filho do Zé João
Vem do centro escolar
Cansado de palmilhar
A caminho da povoação
Não há médico na aldeia
E a antiga escola fechou
Não tem carne para a ceia
Nem petróleo para a candeia
Porque o dinheiro acabou
O seu pai foi para França
Trabalhar na construção
E a mãe desta criança
Trabalha na vizinhança
Lavando pratos e chão
Mas o puto vem contente
Com o Migalhães na mão
E passa por toda a gente
Em alegria aparente
De quem já sabe a lição
Um senhor muito invulgar
Que chegou com mais senhores
Veio para visitar
O novo centro escolar
E dar os computadores
E lá vem o Joãozinho
No seu contínuo vaivém
Calcorreando o caminho
Desesperando sozinho
À espera da sua mãe
Neste país de papões
A troco de dois vinténs
Agravam-se as disfunções
O rico ganha milhões
E o pobre, Migalhães
Luís Costa
(Quem não gosta deita fora…)
AS PESSOAS SENSÍVEIS
Um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão.»
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner
(só quem quer é que enfia a "carapuça")
1 comentário:
Oh Luis Costa,ainda não percebeu que fazer rima qualquer um faz?
Mas não só não é poeta como não está por dentro do funcionamento da sociedade actual.
Então não sabe que já não há crianças a ir a pé para a escola, pois são as Autarquias, todas elas, a fazer o transporte das crianças?
Também não acreditamos que conheça alguma criança em idade escolar que vá trabalhar para casa da vizinha, porque inclusivé seria crime?
Que uns levam "migalhões" e outro "milhões" é verdade mas, essa realidade nunca foi melhor do que actualmente, antes pelo contrário.
Até nos chamados "países socialistas" era assim para pior.
Também não percebeu nada do que pode significar o "Magalhães" que tentou caricaturar, porque se alguma coisa pode reduzir a diferença entre os "migalhães" e os "milhões" é a democratização do conhecimento e da formação e aí o "magalhães" é uma ferramenta importante.
Se calhar o senhor "fugiu-lhe a boca para a verdade" e tentou passar para o verso o que lhe vai na alma, uma sociedade com muitos coitadinhos para o senhor se armar em bom samaritano!
No tempo do Camões só alguns identificavam os "velhos do restelo", felizmente agora já somos muitos a reconhecer esta espécie de "velhos" inimigos do progresso.
É pena é que as organizações que antes foram progressistas sejam hoje o exemplo acabado do "chapéu de chuva" dos que ganham milhões.
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