terça-feira, 29 de abril de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Abril generoso

29-abr-2008
O discurso do 25 de Abril do nosso Presidente da República, não contendo nenhuma novidade para a grande maioria dos portugueses teve a singularidade de colocar novamente em agenda um problema que já tinha sido abordado no ano anterior, o do alheamento dos jovens portugueses em relação à política. Mas desta vez suportado por um estudo encomendado na Universidade Católica. O que dele resultou na comunicação social obrigou-me à leitura do referido estudo. Perguntei-me como pode a incapacidade dos mais novos em responder às perguntas do número de países que integram a União Europeia, do nome do primeiro presidente da república do pós 25 de Abril, ou se o PS tem ou não maioria absoluta no parlamento, resultar num cenário tão dramático?
E pareceu-me, como pareceu a outros, que se trata sobretudo de um problema de Educação que, em devido tempo não nos mereceu tanta atenção quanto a necessidade de construir estradas ou outras estruturas em betão. Mas adiante. Li o estudo e encontrei muitos factos positivos que não mereceram a atenção excepto dos optimistas que olham para o processo democrático precisamente como um processo evolutivo. E não me afigura que se vá por mau caminho, o que é diferente de se sentir satisfação com a realidade. Senão vejamos, 68% dos jovens dizem não interessar-se pela política mas 90% destes está consciente da importância do voto e no geral tendem a ser menos cépticos em relação à eficácia das formas de participação política do que os mais velhos, o que configura uma aproximação da média europeia e, convenhamos, uma enorme esperança no futuro. Fica revelado ainda que os jovens nutrem mais interesse pela política local do que pela nacional o que, num país altamente centralizado como Portugal não deve surpreender. Fomentar mecanismos de democracia participativa é dar respostas às suas expectativas e os Conselhos Municipais de Juventude (recentemente generalizados pelo actual Governo) terão grande influência nestes resultados. E não devemos inverter o processo de aprendizagem que coloca antes da consciência política a consciência cívica. É prematuro querer resultados imediatos do que hoje se faz na escola em educação para a cidadania. Veremos senão teremos dado um passo firme na formação dos futuros cidadãos. À falta de tempo e de interesse dos jovens ou aos seus ainda baixos níveis de dedicação ao trabalho voluntário a Escola pode responder imediatamente com a valorização destas actividades por via da valorização dos próprios currículos que as integrem. Nas Universidades e Escolas Superiores, meios habitualmente politizados, onde me tornei num cidadão activo, a tendência parece ser a de um aparente retrocesso. Com frequência ouço estudantes reclamarem do facto de serem obrigados a concluírem rapidamente os seus cursos o que, segundo eles, os afasta da participação nas Associações e Núcleos de Estudantes. As culpas tem sido atiradas para o Processo de Bolonha e para o encurtamento das licenciaturas para três anos. Fui desde o início um apologista de Bolonha não só por este defender um novo paradigma de ensino que colocava o estudante no centro do processo como pela valorização curricular que seria dada à participação do estudante na vida associativa. Ora esta possibilidade não tem sido acolhida pelas nossas Universidades, cujo poder de definir os termos desta valorização é enorme, o que me deixa perplexo. Os jovens demonstram no estudo consciência das consequências para a qualidade da democracia da sua menor relação com a politica. Ora esta consciência só pode significar que não começamos do zero e que antes valorizar o que de positivo se tem que recriminar qualquer insuficiência. Eles merecem essa confiança. Os jovens na década de 90 encontraram formas pouco convencionais de intervir politicamente, mas fizeram-no. Para eles a memória dessa participação foi marcarem-na de Geração Rasca. Não parece que isso tenha contribuído para fazer deles melhores cidadãos e lhes dar maior consciência política. Mas a forma como olhavam para a política e para os políticos alterou-se. Por tudo isto é preciso empenho na formação dos jovens cidadãos e na cidadania. Quanto mais se lhes der maior será a sua vontade de retribuir. Desperdiçar a sua generosidade e perder a sua atenção é desandar no nosso processo de evolução democrática. E isso é esvaziar Abril.
Obrigado e até para a semana.
Francisco Costa

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