terça-feira, 6 de novembro de 2007

DUQUES E...CENAS - Por: João Luís Nabo

Tendo sempre presente a valorização da “escrita”, o AL TEJO, orgulha-se de a partir de hoje passar a contar com mais um colaborador.

João Luís Nabo

Nasceu em Montemor-o-Novo em 1960. Dedicado, desde muito cedo, à música instrumental e coral, enveredou no entanto por uma carreira profissional completamente diferente; licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Clássica de Lisboa, é actualmente professor efectivo na Escola Secundária de Montemor-o-Novo.
Frequentou a Academia dos Amadores de Música de Évora, estudou piano com professores particulares, entre os quais Isabel Joaquina da Cruz, e fundou e dirigiu o Coral de Letras da Faculdade onde fez os seus estudos.
Foi organista e director do Coro Litúrgico da Igreja Matriz de Montemor-o-Novo, de 1979 a 1990, professor de piano da Escola de Música da Sociedade Carlista, em 1990 e 1991, e director do jornal regional “Folha de Montemor” de Outubro de 1989 a Abril de 2003.
Foi tenor do Coral da Universidade de Lisboa, onde trabalhou sob a direcção de Francisco D’Orey e José Robert; frequentou o II e III Cursos Internacionais de Sines, em 1990 e 1991, onde estudou canto e técnica vocal com Elisete Bayan e Vianey da Cruz e direcção coral com Anton de Beer e Edgar Saramago.
Frequentou, igualmente, em 2000 e em 2001 o I e II Cursos de Técnica Vocal de Montemor-o-Novo, orientados pela Prof. Maria João Serrão, a V Oficina de Canto Gregoriano, em Março de 2003, ministrado pela Prof. Idalete Giga e, em 2006, o III Curso de Técnica Vocal de Montemor-o-Novo com Sara Belo e Hugo Sovelas
Compôs para teatro e são de sua autoria várias peças sacras, interpretadas regularmente pelo Coral de S. Domingos, estando uma delas incluídas no segundo trabalho discográfico do grupo.
A sua primeira incursão na literatura aconteceu em Junho de 2004, com a publicação do livro Alentejo sem Fim – Contos, pela Editorial Tágide, de Lisboa. Em Junho de 2005 lançou mais um título - O Lago e Outra História Depois - numa edição conjunta da Editorial Tágide e da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo. É aluno do Curso de Mestrado em Criações Literárias Contemporâneas, na Universidade de Évora, na especialidade de Literatura Norte-Americana, encontrando-se neste momento a terminar a tese.
Fundou e dirige o Coral de São Domingos de Montemor-o-Novo
Preserva acima de tudo o amor pela família e o bom relacionamento com os amigos.


O AL TEJO, agradece a colaboração e orgulha-se de poder contar com mais esta mais valia para valorização deste espaço.



A minha fofa sofre de pocrescofobia…

Elas já começaram. A minha fofa e as amigas. Assim que enfiam a louça do jantar na máquina de lavar, aí vão numa grande ciguêra dar a volta a Montemor, sem entretengas de qualquer espécie. Magras, gordas, feias, bonitas, jeitosas e assim-assim, as mulheres de Montemor voltaram à carga todos os dias à noite. Chamam-lhe marcha mas, para mim, é mais uma forma de queimar as calorias dos palmières, pastéis de nata e pudins de nasêquê que marcharam logo pela manhã, nas pastelarias da cidade. Para além de ser uma óptima e insuspeita desculpa de pôr as conversas em dia.
Num serão destes, a minha fofa convidou-me para ir com ela. “Anda, para ver se abates essa barriga”, desafiou-me, provocadora. “Que barriga?”, perguntei-lhe, sustendo a respiração, enquanto tentava encostar a parede da frente do estômago à coluna vertebral, esquecido momentaneamente do cozido à portuguesa (com abóbora e grão, tal como a minha mãe faz) acabado de ingerir. “Mas que maneira tão parva de queimar calorias”, respondi-lhe, quase irritado. “Conheço outras bem mais agradáveis.” E, chateado, não fui.
Pronto para passar o primeiro serão de calor deste ano, sentei-me no sofá, pensando numa cerveja gelada, a beber lá para as 11 horas, num ritual de gestos lentos e lânguidos. Daí a um bom bocado, chegou ela, cansada, esbaforida, com a prima a reboque, continuando exactamente tão gordas como estavam antes de terem partido. “Estás muito mais magra, fofa”, disse eu por pura vingança, “parece que vale a pena fazer essas caminhadas.” Ela não gostou e, durante três dias, a contar já com aquele, dormi no sofá da sala. “Já que gostas tanto do sofá, aproveita”, sentenciou. Mas não me calei: “Sabes o que tu és? Uma pocrescofóbica. Tu e as tuas amigas, que atravessam Montemor numa só noite, um percurso que eu levaria seis dias a fazer…”.
Enquanto eu dava um jeito ao sofá, sobrepondo-lhe um lençol às flores amarelas (uma oferta da minha sogra!) e uma almofada com fronha a condizer, vi-a, pelo canto do olho, a folhear discretamente o dicionário.


“Estou sim? Daqui é a Palmela!”

Foi assim, como se lê no título, que começou a nossa conversa telefónica. Como não conheço nenhuma Pamela que me fale ao telefone com a voz sensual daquela Pamela… desconfiei. Queria fazer-me um teste de cultura geral. Mas antes, perguntou-me o nome completo, a idade, a profissão, o estado civil, o meu ordenado, o endereço, as minhas aptidões em vários campos. Fez-me perguntas a que qualquer miúdo da pré-primária responderia e, depois, disse-me: “Parabéns!!!!!! Amanhã vão aí a casa dois senhores, devidamente credenciados, entregar-lhe o seu merecido prémio”. Respondi que sim, que estaria lá com o meu Rottweiler (que comeu uma orelha à pobre Laika, faz hoje uma semana), uma espingarda de canos serrados e mais dois soldados da GNR para os receber. Ninguém apareceu. Pergunto-me porquê. E a Pamela, a marota que ao telefone me achou tão simpático e atraente (só mesmo ao telefone), nunca mais telefonou. Eu que até a tinha convidado para um lanche romântico, ao cair de uma destas tardes, na exótica esplanada da Pedrista… (Ela a pagar, claro)

1 comentário:

Anónimo disse...

PARABÉNS pelas "entradas". Podemos repetir que não nos faz mal, antes pelo contrário. M Subtil