quinta-feira, 8 de novembro de 2007
CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM (DUAS)
Preocupados e furiosos - Eduardo Luciano
quinta-feira, 08 Novembro 2007
“Com a queda da bipolaridade foi criado um endeusamento do mercado e adoptada uma orientação neoliberal de como o Estado deve actuar no mercado”.
“Há receio de pensar, porque toda a gente sabe que as represálias são rápidas e o Sócrates não brinca em serviço”.
“Hoje há partidos socialistas que têm sedes e bandeiras, mas políticas socialistas não há”.
“As receitas que são ditadas pela OCDE, que é um instrumento do FMI, a que chamam reformas, nada têm a ver com o ideário socialista.”
“O PS está a fazer o que o bloco de direita não teve coragem de fazer.”
Juro-vos que não estive a ler extractos de nenhum comunicado do Comité Central do Partido Comunista.
As afirmações que reproduzi no início desta crónica foram produzidas por Vítor Ramalho, António Barreto, Manuel Alegre e Medeiros Ferreira, que têm em comum o facto de serem conhecidos militantes do mesmo partido de José Sócrates, ao jornal Público do último domingo, que dedicou duas páginas aos socialistas descontentes com a linha política do seu partido.
Do conjunto de opiniões ali manifestadas resulta uma fotografia fidedigna do que são hoje as políticas levadas a cabo e defendidas pelo PS e de como o secretário-geral e primeiro-ministro esvaziou este partido de qualquer conteúdo ideológico que o aparentasse com os seus ideais socialistas ou sociais-democratas.
Quase que a servir de ilustração às constatações destes socialistas, tivemos o epílogo da ronda negocial do governo com os sindicatos da função pública a propósito dos aumentos salariais para o próximo ano.
Negociação, no entender do comum dos mortais, pressupõe disponibilidade das partes envolvidas em ceder, fazer um caminho para um entendimento em que todos percam um bocadinho para que todos ganhem alguma coisa. Como alguém disse, um negócio só é bom se o for para ambas as partes.
Não é, pelos vistos, esse o entendimento do ministro das finanças. O homem apresenta aos sindicatos uma proposta de aumento salarial de 2,1% no início do processo negocial. No fim do processo negocial anuncia que o aumento vai ser de… 2,1%.
Em declarações às televisões o ministro afirmou que aquele era o valor que o governo poderia garantir e como tal não se afastava dele em nome da vaca sagrada do governo: a redução do deficit.
Mas então porquê perder tempo com reuniões com os sindicatos? Porquê fingir que o valor inicial era uma proposta, quando já sabia que, acontecesse o que acontecesse, seria esse o valor definitivo?
Chamar negociação a um processo destes é, no mínimo, bizarro e não passa do cumprimento de uma formalidade sem qualquer utilidade.
Percebo muito bem a expressão de incredulidade dos dirigentes sindicais à saída da reunião e percebo ainda melhor que a resposta a esta atitude de completo desrespeito para com os representantes dos trabalhadores só pode ser dada com o agudizar do conflito.
O dirigente da FESAP afirmou: “estamos furiosos”. Espero que esse estado de espírito seja suficiente para acompanhar os sindicatos da Frente Comum nas formas de luta que inevitavelmente se seguirão.
Até para a semana
Crónica de Hélder Rebocho
quinta-feira, 08 Novembro 2007
A pedagogia é uma ciência em constante evolução que procura adoptar modelos e métodos de ensino conformes ao devir social e a novos conceitos que se vão enraizando na sociedade.
Não é necessário retrocedermos muito no tempo para constatarmos as diferenças, não só entre os métodos de ensino e de aprendizagem, mas também ao nível das medidas correctivas aplicadas aos alunos.
No meu tempo os professores podiam utilizar meios punitivos aos mais desatentos ou indisciplinados, que na altura eram lícitos e causavam temor reverencial e que hoje, para além de serem considerados violentos, constituem crime.
Não poucas vezes, eu e os meus companheiros de escola fomos brindados com umas reguadas, uns puxões de orelhas ou umas dolorosas afagadelas de cana da índia na cabeça.
Todos sobrevivemos a estes correctivos e não sei até que ponto não foram importantes na nossa educação, obrigando-nos a perceber pela via dolorosa, que existiam obrigações sociais de respeito e disciplina às quais devíamos obediência para o resto da vida.
Reconheço hoje, que aqueles correctivos não eram tão descabidos quanto nos pareciam na altura, embora não seja um apologista da violência.
Estes tempos passaram e o ensino mudou, em certos aspectos para melhor, noutros nem por isso.
Quero com isto dizer que não sou avesso a mudanças, sobretudo quando estas têm efeitos positivos, porque afinal a vida é feita de constantes mutações.
No entanto, quando falamos de ensino é necessário ter algum cuidado, porque hoje, mais do que antes, a escola assume ou deveria assumir um papel fundamental na formação cultural, técnica e cientifica dos nossos jovens, afinal o futuro humano do nosso país, face à exigência de novas responsabilidades.
A escola de hoje vê-se confrontada com lacunas ao nível da educação que nascem no seio da própria família e que não é fácil colmatar. Por outro lado, tem a responsabilidade de formar os futuros profissionais deste país, sujeitos ás cada vez mais severas regras de concorrência que impõem como requisitos de “sobrevivência” a qualidade, a responsabilidade e o rigor.
Vivemos numa sociedade onde o grau de exigência do mercado de trabalho e da vida empresarial vem aumentando consideravelmente, solicitando trabalhadores cada vez mais responsáveis e competentes, susceptíveis de gerar maior produtividade.
Esta realidade e a sua projecção futura não se compadecem com modelos de ensino que cultivem o laxismo e o facilitismo e que criem nos alunos uma visão deturpada da realidade.
Em Portugal, no entanto, parece que os governantes andam desfazados destas realidades e não encaram com preocupação o absebtismo e o insucesso escolar.
Só assim se compreende que o novo Estatuto do Aluno, na versão da proposta de lei apresentada pelo governo, contemplasse o fim da distinção entre faltas justificadas e injustificadas, colocando no mesmo patamar de impunidade o aluno que falta por motivos de força maior com o aluno que falta para andar na “ boa ou na má vida”.
Como consequência as faltas, justificadas ou não, passariam a ser irrelevantes no percurso escolar, porque o aluno não seria retido ou excluído em função da assiduidade.
Formados com base neste princípio, ninguém se poderia admirar se os trabalhadores de amanhã tivessem alguma dificuldade em compreender que faltar ao trabalho por motivos de doença não é a mesma coisa que faltar ao trabalho para ir “beber copos” com os amigos, como também dificilmente compreenderiam que produzir muito ou pouco não é indiferente.
O prognóstico é simples. No mínimo correríamos o risco de termos trabalhadores desfasados em relação às exigências do mercado de trabalho, com uma mentalidade onde a responsabilidade, o empenho e o rigor mais não seriam que conceitos sem enquadramento.
Desta vez, parece que o PS reconheceu o clamoroso erro que aquela medida traduzia e num inesperado e pouco habitual volte-face, decidiu propor a alteração ao Estatuto do Aluno, na versão da proposta de lei do governo, por forma a eliminar a impunidade das faltas injustificadas.
É pena que os rasgos de lucidez só pontualmente se manifestem. Sem dúvida que teriam sido muito úteis noutras ocasiões, evitando tantos outros erros que acabaram por ser cometidos.
Hélder Rebocho
07.11.07
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