Ser artista é ser alguém!
Que bonito é ser artista...
Ver as coisas mais além
Do que alcança a nossa vista!
A arte é força imanente,
Não se ensina, não se aprende,
Não se compra, não se vende,
Nasce e morre com a gente.
A arte é dom de quem cria;
Portanto não é artista
Aquele que só copia
As coisas que tem à vista.
A arte em nós se revela
Sempre de forma diferente:
Cai no papel ou na tela
Conforme o artista sente.
Só a Arte tem o poder
De a todos nós transmitir
O que todos podem ver,
Mas poucos podem sentir.
Quem seu fado faz ouvir,
Canta apenas como sente
Porque não pode sentir
Os fados de toda a gente.
Na música, tal encanto
Eu encontro, que, a meu ver,
Só o amor dirá tanto
Quanto ela sabe dizer.
Tem a música o poder
De tornar o homem feliz;
Nem há quem saiba dizer
Tanto quanto ela nos diz.
Nas muitas quadras que canto
Procuro, mas não consigo,
Uma só que diga tanto
Como em todas elas digo.
Os meus versos o que são?
Devem ser, se os não confundo,
Pedaços do coração
Que deixo cá, neste mundo.
Se vos canto a dor daqueles
Que sabem sofrer a rir,
É p'ra vos fazer sentir
Um pouco de pena deles.
Este livro que vos deixo
E que a minha alma ditou,
Vos dirá como o Aleixo
Viveu, sentiu e pensou.
Quadras bonitas ou feias,
Ricas ou mais pobrezinhas,
Choram as dores alheias
Mais do que choram as minhas.
Quando não tenhas à mão
Outro livro mais distinto,
Lê estes versos que são
Filhos das mágoas que sinto.
Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
– Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!
Fala quanto te apeteça,
Mas desculpa que eu te diga
Que te falta na cabeça
O que te sobra em barriga.
Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.
Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.
P'ra a mentira ser segura
E atingir profundidade,
Tem de trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade.
Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias,
Hoje que podes – esqueceste
Tudo quanto prometias...
Desculpem a nota fraca,
Desta vez perdi a linha...
A casaca não é minha
E eu não sou da casaca.
Podem ter tesoura ou faca
P'ra cortar... mas eu direi:
"Não me cortem na casaca
Que não fui eu que a paguei!"
Ontem rei, hoje sem trono,
Cá ando outra vez na rua;
Entreguei a roupa ao dono
E a miséria continua.
Metade do mundo come
À custa de outra metade;
Viver com honestidade
É abrir portas è fome...
É triste que a gente veja
Tanta gente que não come:
O pão que a muitos sobeja
Matava bem essa fome...
Quem trabalha e mata a fome
Não come o pão de ninguém;
Quem não ganha o pão que come,
Come sempre o pão de alguém!
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