quinta-feira, 11 de outubro de 2007

REGRESSO AO PASSADO

AINDA A CAÇA
OS PRIMEIROS TEMPOS


Depois de muita bagagem, (escorvas, pólvora, chumbo e buchas), espalhada por esses campos fora, e depois de me ter chegado aos bons, aqueles que percebiam como se caçava, como o saudoso RAFAEL, o PROFESSOR JOSÉ JACINTO, o CORNETA, o CABEÇA DYRUP e o JUDAS e graças a dois canitos que me passaram a acompanhar, a VIOLETA e a SETTER, lá conseguia voltar para casa sem ser acompanhado da habitual grade, e trazer para casa duas ou três peças. E, modéstia à parte, até atingi um estatuto de bom caçador, a ponto de ser membro efectivo da comissão venatória concelhia. Desses tempos guardo algumas boas recordações, que agora à distância de trinta e tal anos ainda me fazem sorrir.
Lembro-me por exemplo do JUDAS que andou durante uma época inteira sem matar uma única peça de caça, pois fosse perto ou longe tudo deixava abalar ainda com mais vida; só um dia quando errou uma lebre na cama, com os canos da espingarda encostados à mesma, é que nos lembramos de experimentar dar um tiro num papelão colocado a meio metro, e que ficou intacto.
Conclusão: ao encher os cartuchos o amigo JUDAS tinha-se esquecido de lhes meter chumbo, tendo-o substituído por serradura.
Como sabem os dias de caça coincidiam e coincidem ainda com os Domingos, dias de futebol e dos jogos do meu Benfica, portanto tinha que arranjar um estratagema para não perder os relatos, pelo que me fazia acompanhar de um rádio pequenino para esse fim.
Escusado será dizer que quando me calhava ficar nas esperas o rádio era ligado, e os coelhos nunca lá saíam, o que causava estranheza aos meus companheiros, até que um dia fui apanhado, e a partir daí acabou-se a mama de ficar nas esperas e passei sempre a alinhar no bater do mato.
O pior foi num dia em que se jogava um Benfica – Sporting, e em que o CABEÇA viu um grande bando de perdizes, colocou-me a mim num local estratégico e o KAGANO noutro e foi dar uma grande volta por montes e cabeços para tocar as perdizes para os nossos certeiros tiros. Ainda mal ele tinha dobrado o primeiro cabeço, já nós estávamos os dois juntos a ouvir o relato. Nunca vi o DYRUP tão zangado, quando depois de ter palmilhado quilómetros nos apanhou com os ouvidos colados ao rádio.
Mas… bom … bom mesmo foi quando um dia depois de ter palmilhado a Pipeira toda sem ter dado um tiro, portanto com uma grade às costas e quando já de regresso para casa, fui dar com uma carrinha de caçadores Galegos, cheia de coelhos, e que se haviam esquecido de a fechar… bem… não trouxe mais, porque já não podia com a carga.
Aliás nós, Alentejanos, nunca vimos com bons olhos a invasão que os “apinocados” Lisboetas e Galegos levavam a cabo nas nossas zonas de caça e foi por isso que um dia quando atirei e matei um coelho, e um lisboeta depois do coelho morto lhe atirou um tiro começou aos berros clamando que o coelho era dele e que ele é que o havia caçado. De imediato lho entreguei. Era ver o ar de satisfação do homem Não só porque havia ganho um coelho, como porque tinha enganado um alentejano. Deixei que se afastasse, e quando já ia lá longe gritei-lhe: Olhe esse pode comê-lo já porque já tem batata para acompanhar.
Na verdade assim que peguei no dito cujo vi logo que tinha mixomatose.

Xico Manel

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