quinta-feira, 11 de outubro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Portugal, Outubro de 2007
Eduardo Luciano


quinta-feira, 11 Outubro 2007
Portugal, Outubro de 2007, em Montemor-o-Velho perante uma aparição do primeiro-ministro no lançamento de um projecto empresarial estavam presentes dois grupos de pessoas. Os que batiam palmas ficaram onde estavam e os que protestavam contra a política do governo, foram afastados e acantonados atrás de uma fita. Dizem-nos os engajados no poder que assim foi porque a manifestação de protesto era ilegal, por não ter sido previamente comunicada às autoridades, será que a manifestação de apoio o foi? Ou quando se protesta é uma manifestação manipulada por forças obscuras e quando se aplaude é um gesto da mais genuína espontaneidade?
Portugal, Outubro de 2007, dois polícias à paisana entram na sede do Sindicato dos Professores da Região Centro, dirigem-se à funcionária do Sindicato para obterem informações sobre o cordão humano que aquele sindicato pretendia organizar, durante a visita do primeiro-ministro à escola que frequentou na sua juventude, aproveitando para levar dois documentos que enquadravam a acção de protesto e que se destinavam a distribuição pública.
De saída, segundo declarações de uma dirigente sindical, terão “aconselhado” o funcionário do sindicato para que os manifestantes tivessem cuidado com a linguagem.
Perante o coro de indignação que se gerou, o Ministro da Administração Interna ordenou a instauração de um inquérito à Inspecção-Geral da Administração Interna.
Os governantes olharam à volta e disseram que tudo era normal. Os representantes sindicais da polícia afirmaram que tudo não passava de uma operação de rotina, com vista a preparar a visita de Sócrates à Covilhã. Normal? Rotina? Será normal presumir que um Sindicato de Professores represente um perigo para a segurança do primeiro-ministro? E não será perigoso definir uma acção policial deste tipo como rotineira?
Um dia depois ninguém quer assumir ter dado ordens aos agentes para a realização de tal visita cortês.
Um dia depois a Governadora Civil, militante do partido do governo, afirmou que a visita dos agentes se destinava a saber o local da realização do protesto. Mas o pré-aviso da realização do protesto não tinha ido no sábado por fax para a Câmara Municipal da Covilhã? E não constava desse pré-aviso a hora e local onde se iria realizar?
A senhora Governadora Civil admite que sim, mas que os agentes se dirigiam à câmara e “de caminho” passaram no sindicato.
Ainda bem que o fizeram. Se não o têm feito a quem poderiam aconselhar a ter cuidado com a linguagem?
Portugal, Outubro de 2007, o primeiro-ministro acusa o Partido Comunista de estar por detrás de todas os protestos que o têm acompanhado nas suas visitas que pretendem marcar a agenda mediática.
Por esta lógica de ferro, quem se manifesta contra o encerramento de empresas e o aumento do desemprego, é comunista. Quem se manifesta contra o encerramento de escolas e maternidades, é comunista. Quem se indigna pelo incumprimento de promessas eleitorais, é comunista.
Há qualquer coisa aqui que não bate certo. Ou há muitos mais comunistas do que eu imaginava ou a lógica de José Sócrates é muito parecida com a dos tempos da outra senhora: quem está contra o governo da nação... só pode ser comunista.
De repente e à força de me situar no tempo e no espaço, parece que esta crónica não faz sentido. Ou não se passou o que eu disse, ou não estou em Portugal, ou a data não é Outubro de 2007 e eu fui atirado numa viagem no tempo, para um passado negro.

Até para a semana

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