terça-feira, 9 de outubro de 2007

REGRESSO AO PASSADO

ESTÓRIAS ALENTEJANAS

Estórias do Xico Manel Publicadas no Blog Alandro al e, que se relembram.
Textos despretensiosos a recorda-nos tempos nos quais imperavam valores que se perderam no evoluir da sociedade.


E agora que "ela" começou vem a propósito....

A CAÇA

Quando se fala em caça, caçadores ou pescadores, associa-se logo a ideia de mentirosos. Ora ao iniciar estes escritos sobre peripécias da caça, quero desde já afiançar que tudo o que relato é verídico, e que se passou comigo.

O INÍCIO

Embora, não fosse de todo desconhecido para mim o acto da caça, pois frequentemente acompanhava o meu pai nos dias da caça, fazendo de mochileiro, a verdade é que por minha conta e risco só comecei a caçar quando regressei da tropa.
Lembro-me bem da noite que não dormia, quando aguardava ansiosamente que o dia da abertura da caça raiasse e íamos pela PIPEIRA fora até à hora de almoço, na FONTE DA JUNQUEIRA, onde nos aguardava o TIO ANTÓNIO JOSÉ DO ESTREITO, mais o seu burro, para trazer para a Vila as peças apanhadas de manhã.
Na parte da tarde a volta era pelas PARREIRAS. À noite era a venda do que sobrava, normalmente na taberna do ZÉ CANHOTO. E não eram só lebres, perdizes ou coelhos que se vendiam, pois muitas cabeças de cobras e lagartos fui vender, ou se quiserem, cambiar por moedas na Câmara. Uma maneira de preservar a caça.
Regressado do Ultramar e como não podia deixar de ser, tratei da documentação necessária para poder praticar o saudável acto de caçar. Lembro-me bem que depois do almoço, estava na arca da Fonte (saudável acto que ainda hoje é preservado), e a MARIA TOMÁSIA, que ia iniciar o período de trabalho da tarde, me dizer que a minha carta de caçador já tinha chegado, e que a podia levantar de imediato. Assim fiz, e com espingarda emprestada pelo ZÉ SEABRA, e 50 cartuchos comprados no ARNALDO, tendo como companheiro o amigo BALANÇAS, que por acaso estava na Arca da Fonte (saudável acto que ainda hoje preserva), fomos à caça.
Sem cães, sem experiência, sem pontaria… aquilo é que foi dar tiros. Tanto andámos… tanto andámos, que sem saber como nem porquê… estávamos dentro da reserva do CONJEITO. As perdizes eram tantas e os tiros tão seguidos que como não podia deixar de ser a Guarda tinha mesmo que aparecer.
Valeu-me ser a primeira vez e não ter acertado numa única peça de caça, e o choradinho bem feito.
É verdade… sobrou-me um cartucho.

(Quinta feira conto mais da minha vida de caçador)

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