O AL TEJO VIBRA COM OS LOBOS

Uma crónica do nosso especialista em rugby Dr. Paulo Jaleco, do:



CAMPEONATO DO MUNDO DE RUGBY
APONTAMENTO SOBRE VIAGEM A CARDIFF




Na companhia de alguns amigos, quase todos elementos da nossa equipa de veteranos, desloquei-me no passado fim-de-semana a Cardiff, para assistir a dois encontros do Campeonato Mundial de Rugby, País de Gales-Austrália e Fiji-Canadá.
Foi a primeira vez que visitei o País de Gales, nação fortemente ligada ao Rugby e cuja mítica selecção do final da década de sessenta, me fez despertar para esta fantástica modalidade, que tem marcado duma forma bastante intensa a minha vida.Com efeito, recordo com alguma saudade, aquelas invernosas tardes de sábado, nos finais dos anos sessenta, início dos setenta, em que me deliciava com as extraordinárias jogadas protagonizadas por Barry John, Quinnell, Gerald Davies, JJ Williams, JPR Williams, Phil Bennett,Gareth Edwards e companhia. Este último, verdadeiro herói nacional e para muitos o melhor médio de formação de sempre, está imortalizado com uma estátua, no interior do centro comercial mais movimentado da cidade de Cardiff, num local de passagem diária de milhares de pessoas, justamente para que todos a possam admirar e tributar-lhe a homenagem merecida.
Esta cidade, onde se respira Rugby por todos os poros, tem um carisma muito especial para os amantes da modalidade, como pudemos constatar no dia do encontro País de Gales-Austrália. O ambiente vivido dentro e fora do estádio, foi verdadeiramente arrepiante. Estavam mais de 70 mil pessoas, repartidas entre adeptos das duas selecções intervenientes e gente de todo o Mundo, amantes da modalidade, que, com um comportamento notável, onde imperou o civismo, contribuíram para a grandeza do espectáculo. Foi bonito assistir à forma ordeira e pacífica como todos entraram no Estádio, sem necessidade de cordões policiais a separar os adeptos, como infelizmente é comum noutros espectáculos. Na verdade, a força policial quase não se fez notar, não fora a presença dalgumas caras femininas simpáticas ...
A atmosfera dentro do Estádio Millenium, que é duma beleza soberba, é difícil de descrever, tal a intensidade com que o encontro foi vivido, ou não fossem os galeses conhecidos pela forma como apoiam a sua selecção, independentemente dos resultados, que como sabemos não têm sido muito famosos nos últimos tempos. Venceu, merecidamente, a equipa australiana, que, no final foi aplaudida de pé por todo o Estádio, quando deu a volta de honra, a passo, como que a homenagear o fantástico público, que não arredou pé até essa volta terminar, lamentando o final de tão empolgante espectáculo. Também a selecção galesa foi alvo duma estrondosa ovação, por parte de todos os presentes, justo reconhecimento pelo empenho apresentado. Quando tanto se fala em fair-play, ele esteve bem representado nos dois encontros que tivemos a felicidade de presenciar, sendo de realçar como é bonito ver um adepto aplaudir uma jogada , ou mesmo um ensaio, da equipa adversária. É por isto que este desporto é tão especial...
A festa prolongou-se na saída do Estádio e ao longo de todo o dia, fazendo jus às famosas terceiras partes, num convívio inesquecível, com trocas de lembranças, cumprimentos, saudações e muitas fotos em comum, para mais tarde recordar.
Neste dia jogou também Portugal com a Nova Zelândia. Assistimos ao jogo num pub junto ao Estádio , "City of Arms", todo ele decorado com motivos de Rugby, e que se encontrava completamente apinhado de gente. Quando se iniciou a cerimónia dos hinos, instalou-se um silêncio sepulcral, só cortado quando entoámos, comovidamente, o nosso hino com "Os Lobos", a forma que tínhamos, à distância, de lhes demonstrarmos o nosso apoio e também, a todos os presentes, o orgulho que temos em ser Portugueses. Foi o jogo da Força contra a Paixão, e se, na realidade, os nossos valorosos "Lobos" não tiveram argumentos para contrariar a Força dos "All Blacks", pela forma apaixonada como se entregaram ao jogo, conseguiram conquistar a admiração de toda a comunidade mundial do Rugby, como pudemos constatar com os elogios sentidos que, durante estes dias, todos nos fizeram, dirigindo-se a nós quando se apercebiam que éramos Portugueses, para transmitir o seu reconhecimento à nossa selecção. Num jogo marcado pela evidente superioridade da equipa neo-zelandeza, ficam para a história os 13 pontos conseguidos pela equipa portuguesa, feito muito saudado por todos, inclusive um adepto neozelandês, que fez questão de assistir ao encontro na nossa companhia. Não posso deixar de referir um episódio marcante, que ocorreu algumas horas após o final do jogo, quando ,no meio dum grupo de jovens, encontrei um deles envolvido na bandeira nacional. Dirigi-me a ele para o cumprimentar, perguntando-lhe se era português, ao que me respondeu que não, e que apenas estava a usar a bandeira para homenagear a forma de estar da nossa selecção. Era irlandês e acabou por me oferecer a bandeira.
O encontro entre as Ilhas Fiji e o Canadá não teve a mesma envolvência , mas foi também um excelente espectáculo, com um justo vencedor, as Ilhas Fiji. Interessante foi assistir ao convívio , num concorrido bar de Cardiff, "Walkabout", entre os adeptos presentes e os atletas de ambas as selecções, que se mostraram sempre disponíveis para uma troca de palavras ou uma fotografia, numa atitude anti-vedeta, que é de saudar.
Foi, na verdade, um fim de semana inesquecível, como comprovarão os meus companheiros de odisseia, Manuel Couto, Paulo Oliveira, Miguel Prazeres, João Prazeres, Nuno Prazeres, Jorge Gaspar e João Zuquete, cuja companhia em muito contribuiu, para o sucesso desta viagem.

Paulo Jaleco