quinta-feira, 20 de setembro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da RÁDIO DIANA/FM

A oeste… - Eduardo Luciano

quinta-feira, 20 Setembro 2007
Os regressos, por muito desejados que sejam, são sempre difíceis. Exigem um esforço adicional para vencer a inércia que se foi instalando no período de inactividade.
É o que sinto neste reinício ao vosso contacto. Passaram quase dois meses desde a última crónica e parece que nada de verdadeiramente interessante se passou.
O governo não caiu, a correlação das forças sociais e políticas não se alterou, o treinador do Benfica foi despedido, a luta fratricida no PSD manteve-se, o início do ano escolar foi transformado numa operação mediática sem precedentes, a investigação do desaparecimento da criança inglesa voltou a ser notícia, o seleccionador nacional de futebol bateu num adversário e pediu desculpa, mas pouco.
Ou seja, continuamos a ser adormecidos pelo acessório enquanto o essencial é moldado debaixo dos nossos aparelhos olfactivos.
E a confiança no adormecimento é tanta que permite a Ludgero Marques dizer alto e com todas as letras, aquilo que só se atrevia a afirmar através de eufemismos. Quer o senhor que o governo seja mais amigo das empresas, que promova a alteração das leis laborais no sentido de permitir o despedimento sem necessidade de invocar uma causa justa.
Diz-nos a experiência que para se produzir uma afirmação destas, reconhecida pelo próprio como brutal, é necessário um certo grau de confiança de que o caminho proposto é o que vai ser percorrido e essa confiança só pode ter sido transmitida pelo partido que tem a maioria absoluta na Assembleia da República.
Depois, temos o coro dos optimistas do costume a desvalorizar as consequências, a falar em modernidade (mesmo quando se trata do regresso ao passado), a transformar os críticos das soluções preconizadas em inimigos do progresso, a afirmar, inchados pela razão com que nasceram, que sem eles e o seu seguidismo amorfo, seremos castigados pelos deuses da economia e submersos num dilúvio do qual não há Arca de Noé que nos salve.
Como eu afirmei no princípio desta crónica, nada de empolgante ou gerador de verdadeiras mudanças aconteceu, desde a última vez que me ouviram. Significa que está tudo na mesma? Não. Significa que as forças do imobilismo, do retrocesso, da pequena ambição estão mais e melhor instaladas. Nalguns casos, como no nosso Alentejo, permitiram-se mesmo redistribuir alguns cargos substituindo os que ainda tinham alguma capacidade crítica por outros que suspeito bem mais moldáveis e menos geradores de ondas.
É uma fatalidade ou inevitabilidade continuarmos neste marasmo? Não me parece. Se todas as pessoas que têm manifestado este desconforto perante o rumo que as coisas levam, passarem das palavras, ditas em exaltadas conversas de café, a actos de intervenção cívica é possível construir uma plataforma de entendimento que leve à construção de alternativas políticas verdadeiramente criativas, ambiciosas e inovadoras.
Se todos os que afirmam não verem alternativa, se levantarem do sofá em que estão instalados e a criarem, a coisa fica facilitada.
Até lá teremos de fazer nossas as palavras do título do livro de Remarque e afirmar… a oeste nada de novo.

Até para a semana

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