quarta-feira, 21 de março de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Crónica de 21 de Março de Hélder Rebocho

Quarta, 21 Março 2007
Segundo dados estatísticos recentes, Portugal é um dos países da Europa com níveis de literacia mais baixos.
O número de Portugueses com o 12º ano completo fica muito aquém da média dos países da OCDE e até dos países da Europa de Leste recentemente integrados na União Europeia.
Para estes índices contribuem factores como o insucesso escolar, o absentismo, o divórcio com a cultura e sobretudo o facto do ensino ser encarado pelos governantes como uma prioridade, quase sempre estéril.
O actual governo estabeleceu a qualificação dos Portugueses como uma das prioridades para a segunda metade da legislatura, resta saber a que preço, porque começa a ser tradição no nosso país combater os fracos índices de escolaridade e de qualificação com medidas que apostam mais na quantidade que na qualidade.
Não é novidade que a principal fonte de criação de riqueza de um país são as pessoas, e nomeadamente os seus conhecimentos e qualificações. O nível de escolaridade de uma população é precisamente a infra-estrutura básica que permite, facilitando ou dificultado, a aquisição permanente de novos conhecimentos e competências tão necessária no mundo actual. E isto porque os conhecimentos estão em rápida mudança, e necessitam de ser continuamente actualizados.
O baixo nível de escolaridade constitui, por isso, um sério obstáculo a essa actualização permanente tão necessária.
Parece-me, no entanto, que em Portugal se continua a apostar na vertente estatística, em que interessa mais elevar os índices de escolaridade e qualificação em abstracto que em concreto, ou seja, é mais importante contar com elevado número de cidadãos que sendo qualificados no papel não o são na realidade, porque não dispõem do manancial de conhecimentos, nem das competências necessárias para atingir níveis mínimos de qualidade.
Medidas como o Programa Novas Oportunidades vão precisamente nesta linha e têm como objectivo oferecer habilitações literárias com o propósito de engordar o saco das estatísticas, por isso não é difícil em Portugal obter o 9º ano ou até o 12º sem quase saber ler nem escrever, porque o que importa são os números, mesmo que esses técnicos qualificados não tenham qualidade.
O facilitismo que está instalado a nível do ensino e da formação profissional tem sido insuficiente para combater o insucesso escolar e os baixos níveis de literacia dos Portugueses.
Não é difícil perceber porquê.
Se uma licenciatura, o 12º ano ou mesmo a formação profissional fossem garantia de fácil inserção no mercado de trabalho pela via de emprego compatível com a qualificação de cada um, seguramente que não se “saldavam” habilitações.
Os jovens Portugueses começam a sentir que não vale a pena queimar as pestanas durante anos, para receber como recompensa um lugar nas listas do desemprego ou para fazer trabalhos que nada têm a ver com a sua qualificação.
Ver licenciados a executar trabalhos de recurso que não exigem qualificação é um factor de desmotivação para quem gosta de estudar e um incentivo para quem não gosta.
Perante esta realidade bem pode o governo continuar a criar programas e cursos com o único objectivo de oferecer habilitações e qualificações profissionais, que a clientela será sempre escassa porque ninguém sobrevive apenas com “sopa de letras”.

O combate ao insucesso escolar e o incentivo à formação só será eficaz se for acompanhado de uma política de emprego adequada que dê a cada um a possibilidade de fazer aquilo para que foi formado e que melhor sabe fazer.
Basta olhar para o número de licenciados desempregados ou com emprego precário para perceber a razão, pela qual, a baixa escolaridade continua a proliferar em Portugal.
Aquilo que gera riqueza e competitividade para um país não é o número de trabalhadores qualificados, mas o trabalho de qualidade realizado por trabalhadores qualificados, o que é bem diferente.
Pensar que o aumento da produtividade em Portugal se alcança, de forma sustentada, apenas com o nível de escolaridade da população, é tomar o desejo pela realidade, é enganar-se e enganar os portugueses.

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