JOSÉ ANTÓNIO PAIS
Estando um frio destemido
Ó que tempo tão velhaco!
Ainda o que me tem valido
São os bolsos do mascaco.
Por causa da frialdade
Há quem esteja escangalhado
Por não se ter agasalhado
Quando tinha outra idade.
Mas eu de minha vontade
A isso tenho aderido
Sempre hei-de andar protegido
Agora enquanto for moço,
Sempre com as mãos nos bolsos
Estando um frio destemido.
Se eu andasse a trabalhar
Ou a fazer qualquer coisinha
Aí já tempo não tinha
Para as mãos agasalhar.
Mas eu só me ia assomar
Lá p´ra baixo p´ró buraco
Era um serviço tão fraco
Que não dava para aquecer,
Mas mesmo assim sem chover
Ó que tempo tão velhaco.
Eu ao lado do chover
Vinha todo fanfarrão
Parecia um cidadão
Como parece outro qualquer.
Se houver algum que disser
Que eu vinha distraído
Eu até estou convencido
Que talvez viesse a dormir,
Dormir de pé sem cair
Ainda (é) o que me tem valido.
Outro qualquer no meu lugar
Faria o mesmo que eu fazia
Sempre no bolso as trazia
E talvez sem as tirar ______
Ou mandava arranjar
Talvez um forte casaco
Ou meti-as dentro de um saco
Para não as deixar arrefecer,
Ainda o que me vai valer
São os bolsos do macaco.
José António Pais
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