segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Os baixos salários
José Faustino


Segunda, 05 Fevereiro 2007
O Ministro da Economia afirmou na China que Portugal era um bom país para se investir e que, entre outras vantagens, tinha os salários abaixo da média europeia.
É verdade que este ministro tem uma especial tendência para a asneira - lembram-se, com certeza, quando ele decretou o fim da crise – mas desta vez o homem disse a verdade, não disse nenhum disparate.
Certo é que tal afirmação levantou grande polémica e especial indignação por parte dos dirigentes sindicais.
Se alguma critica haverá a fazer é pela diferença entre o discurso interno e o discurso no estrangeiro.
Mas acontece que também a dualidade de discursos se pode, ou não, justificar. Cá é preciso enganar a malta, é necessário dizer que vamos fazer o milagre do choque tecnológico, que consiste em dar saltos, ou queimar etapas na natural evolução tecnológica e económica do país. É assim como uma espécie de sublimação que, como sabemos, consiste em passar directamente do estado sólido para o estado gasoso, sem passar pelo estado líquido.
Cada um acredita naquilo que quer, é tudo uma questão de fé, mas quando toca ao governo da Nação a coisa fia mais fino, é que os portugueses não podem continuar a viver uma vida de ilusão. É preciso dizer a verdade às pessoas e não continuar a manter a fantasia.
Esta afirmação do ministro pode ter duas leituras, ou sua excelência caiu na realidade, ou fez apenas um discurso de promoção do país. Inclino-me mais para a segunda hipótese mas, mesmo assim, concordo com o que ele disse, porque não só é verdade, como constitui o destaque de uma vantagem competitiva de Portugal em relação aos seus parceiros europeus.
É preciso dizer claramente que só há investimento estrangeiro em Portugal por três motivos principais: pelos incentivos dados aos investidores; pelos baixos custos; para ganhar quota de mercado ou explorar um novo mercado.
Neste último aspecto, não é necessário dizer nada aos chineses porque lojas e restaurantes é o que por aí não falta, mas também não foi para isso que se fez a viagem à China. O objectivo era conquistar o mercado chinês e atrair investimento daquele país asiático.
Ora nesse sentido é necessário realçar as vantagens competitivas de Portugal e dizer que o salário de um engenheiro em Portugal, com qualificações idênticas, é mais baixo do que em França ou na Alemanha, não é nenhum disparate.
E, para os defensores, oficiais, dos trabalhadores sempre chamo a atenção para outra verdade incontornável: o valor dos salários sobe com o aumento da produtividade e com o desenvolvimento económico e não o contrário.
Ou acham que se pode dizer a alguém: venham para Portugal porque, independentemente dos nossos salários e da nossa pouca produtividade, vale a pena desfrutar da nossa alta competência e especialização técnica?
Sejamos realistas, aumentemos a nossa produtividade e competências e o mercado nos procurará e, consequentemente, podem crer que os salários e o nível de vida dos portugueses aumentarão na realidade e de forma sustentada.


Amabilidade da:

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