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O ilusionismo
José Faustino
Segunda, 09 Outubro 2006
Nos meus tempos de menino quando ia ao circo, por altura da Feira de S. João, era para mim um dia de grande festa. Sempre gostei deste espectáculo, a que alguns chamam a maior do mundo.
Gosto de todos os números circenses, trapezistas voadores, animais amestrados, palhaços e tantos outros. Mas o que sempre mais me impressionou foi o ilusionismo.
A arte de iludir a realidade, aquilo que parece que é, mas que afinal não é, tudo não passa afinal de uma ilusão.
Nesse tempo de criança, estava longe de saber que futuramente iria assistir, a impressionantes números de ilusionismo feito por “artistas” que não o sendo, seriam capazes de criar ilusões a milhões de pessoas durante anos, chegando-se ao ponto de todos passarem a viver numa enorme ilusão, pensando que de realidade se tratava.
Com o fim da ditadura em Portugal e ao longo do novo regime, foi-se criando a ideia de que tudo era maravilhoso, todos viveriam à tripa-forra, trabalhando pouco e descansando muito, enfim os direitos inalienáveis do bom povo e de ilusão em ilusão chegou-se ao ponto de se acreditar que vivíamos num país rico e que em pouco tempo atingiríamos os melhores níveis europeus.
Parece que finalmente nos começámos a aperceber da realidade em que vivemos, afinal o belo país da Europa, da Expo`98 e do Euro de futebol, não passa de uma ilusão.
A realidade é outra, o país tem vindo a endividar-se de forma galopante, gastando mais do que produz. Aliás, outra coisa não seria de esperar pois fomos fechando a pouco e pouco as unidades de produção e passámos a comprar tudo feito ao estrangeiro. Hoje a nossa principal actividade é comprar e vendermos coisas uns aos outros.
Apesar de se começar “a cair na real”, como dizem os brasileiros, não se julgue que acabou o ilusionismo. Errado! A festa continua, agora com a agravante de se pensar que se está resolver a situação quando tudo não passa afinal de uma nova ilusão.
Não se pense que os problemas se resolvem, por exemplo, na saúde, com mais ou menos farmácias, urgências e maternidades, no ensino, puxando as orelhas aos professores, na justiça cortando as férias dos juízes, a burocracia do Estado, com o simplex ou o excesso de despesa publica com o despedimento de funcionários.
Não é com medidas avulsas que se resolve o problema, a coisa só lá vai com reformas estruturantes de fundo.
Mas não são a essas profundas reformas a que assistimos. Nada disso, o espectáculo da ilusão continua com os seus grandes números de magia. Lembram-se do choque tecnológico com o senhor Bill Gates e com quase todos os ministros em palco? Ia-se ensinar informática a umas duzentas operárias desempregadas e, ainda, muito mais.
E da refinaria de Sines? Que apareceu para logo desaparecer e, depois, voltar novamente a aparecer.
E dos grandes investimentos estrangeiros? E daqueles dois outros números já vistos e revistos mas que produzem sempre grande efeito, refiro-me ao aeroporto da Ota e ao TGV?
Que dizer da recente ilusão do crescimento económico, quando na realidade está muito abaixo da média europeia e muito abaixo da necessidade nacional?
É altura de se acabar com os números de circo e com a ilusão, encaremos a dureza da realidade.
A despesa pública continua a aumentar, a divida externa também, o investimento público está parado, o privado é diminuto, o investimento estrangeiro é praticamente inexistente, mais parecendo que regride, basta lembrarmo-nos do sector automóvel.
Essa é que é a realidade, o resto é ilusão
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