segunda-feira, 16 de outubro de 2006

COMENTÀRIOS EM PÉ DE PÁGINA - RUBRICA DE ANTÓNIO BERBÉM

Pela terceira semana consecutiva o Alandro al publica a crónica do Dr. António Berbem denominada “COMENTÁRIOS EM PÉ DE PÁGINA”.
Não posso deixar de ter uma palavra de agradecimento e de admiração pela disponibilidade deste nosso conterrâneo, que tão amávelmente cede uns minutos do seu precioso tempo, para aqui deixar as suas ideias e parte do seu saber; por isso o meu agradecimento.
A minha admiração, pela sua frontalidade, trazendo aqui assuntos que,por polémicos, muitas das vezes se opta pela sua não abordagem.
Alternando com verdadeiras aulas de conhecimento, e não desistindo pelos comentários muitas vezes desfavoráveis, mostra que continua a pugnar por um Alandroal cada vez melhor.
Esta semana fala-nos de:


IMPOSTURAS POLITICAS INTERNACIONAIS

Não é preciso ter uma formação por aí e além, para perceber (de acordo com M. Weber) que a civilização ocidental tem vindo a afastar-se, progressivamente, no seu percurso mais recente, da racionalização das estruturas da vida social e económica. É por isso que costuma dizer-se que, no cenário internacional, domina a lei da selva e a lei do mais forte (T. Hobbes). O possível regresso ao estado natureza. E ao caos internacional (S. Huntington).
Em bom português, “ao salve-se quem puder”.
A prova, surge-nos evidente nesta passagem do milénio, terminada a guerra fria, derrubado o muro, mais de meio século após o exclusivo domínio mundial das duas superpotências, quando apenas se apresenta como viável, no horizonte político internacional, um tipo, dito diferente, de regime e componente “acelerada” do novo sistema de relações internacionais em exercício. Já lhe chamaram, por exemplo, um “regime globalitário”, dominado desta vez pelo poder unilateral da superpotência imperial sobrante. Qual império romano, diríamos, em fatal regresso?!
Quanto aos dogmas em que se baseia, esta vocação e impostura imperial são por demais conhecidos: globalização, e/ou mundialização da economia, o uso de uma língua global, pensamento único, mercado(s) e democracias unicamente à moda ocidental. O conjunto, claro, assemelha-se a um credo religioso. O credo do neoliberalismo que, aliás, na sua essência, implicará a adopção de novas e extensivas práticas fundamentalistas tais como o uso desigual das novas tecnologias, a desregulação do mercado laboral, o papel opressivo das multinacionais. Em duas palavras: a submissão neoliberal.

Deste modo, a ser assim, “a aldeia global” não pode nem tem de admitir políticas económicas diferentes das políticas liberais ou neoliberais, subordinando, por exemplo, os Direitos Humanos à competição económica mais desenfreada e imoral. Bem como ao predomínio das leis ditas pós capitalistas em aliança com a livre circulação de capitais entre mercados financeiros. Que estendem tentáculos de Nova Iorque até Londres, passando por Berlim ou Tóquio. Da América à Ásia, tocando cada vez menos a velha Europa.
Uma coisa, por conseguinte, é certa: a História regista que após séculos de economia agrária e apenas três ou quatro de economia industrial, estamos em pleno domínio dos instrumentos e mecanismos de «pura» economia financeira. A mesma que passou a servir para multiplicar e engordar capitais especulativos fabulosos sem a contrapartida de fazerem investimentos geradores de novos postos de trabalho e de empregos. O que serve para explicar também a febre das deslocalizações selvagens. Face às quais Portugal é já uma das grandes vitimas.
Como se isto já não bastasse, outro dos principais perigos deste tipo de globalização, é o de que, em simultâneo, se vêm destruindo os fundamentos do Estado Nação, diminuindo-lhe os poderes internos e internacionais, sendo de assinalar que os Estados já perderam a capacidade de se imporem… ou oporem aos efeitos dos mercados financeiros com alcance e poder mundial.
Daí que, os governos nacionais, acabam quase sempre por se deixarem telecomandar por organizações “apropriadas” como é o caso do FMI, do Banco Mundial ou da O.C.D.E. Ou, de outros Bancos, com intervenções continentais espalhados pelos demais continentes.
Acrescenta-se que, na Europa, da qual Portugal é parte integrante através da União Europeia, desde a aplicação dos célebres critérios de convergência de Maastricht, estes passaram a exercer um verdadeiro controlo sobre as políticas internas de cada estado, fragilizando ainda mais a coesão social das democracias nacionais. Subordinando-lhe e sufocando os Orçamentos como, de resto, é claramente visível no Caso de pequenos países como é o nosso.
Seguindo este esquema e face à supremacia das leis financeiras e do mercado, acresce um outro dado: a impotência da autonomia da política e do poder interventivo quer dos governos quer dos cidadãos responsáveis. Aos quais apenas passou a sobrar… a escapatória de procurarem adaptar-se às circunstâncias políticas em rápida mudança.


UM PONTO DA SITUAÇÃO
Sobre esta lógica infernal dos regimes globalitários e dos grandes actores especulativos, leva-nos pois a verificar, por exemplo, que 200 das principais empresas da galáxia terrena, representam mais de um quarto das actividades económicas mundiais.•
Um exemplo: o volume de negócios da General Motors, é mais elevado do que o produto nacional bruto de países como a Dinamarca. Ou como o de Portugal.
Convém acrescentar que os fenómenos da globalização/mundialízação, da concentração económica e dos capitais (Norte vs Sul, Oeste vs Leste) agravam, ainda sem se saber em que medida, as desigualdades económicas, de país para país, de região para região. De continente para continente. Como, é bastante evidente, no caso da abandonada e agora, diariamente, humilhada África negra. Um fenómeno datado e em evidência, pelo menos, desde os meados do século passado.
• Sendo assim e para além “deste perverso manto das aparências”, será que o Mundo vai bem? Onde estão os princípios e a pratica dos imperativos políticos e sociais que tornem menos Injusto este estado de coisas? Que é feito da ideia de Um NOVO ou novos contratos sociais à escala mundial? Até onde se podem agravar ou mesmo Explodir as tensões mundiais? E como devem ser encarados os problemas contínuos da paz e da guerra em Relações Internacionais? Ou da segurança do Mundo? Chegar-nos-á aceitar para o FUTURO a supremacia e o poder militar de uma ou mais do que uma superpotência global sem, por exemplo, reformular e organizar a governança do Mundo em moldes verdadeiramente democráticos?

• E se, no caso dos EUA, estes não estiverem à altura das responsabilidades já durante este século (como, de resto, aconteceu sempre com todos os impérios mundiais anteriores), O que é que de Mais Grave, poderá ainda acontecer ao Mundo inteiro devido a mais esta Impostura da Política Internacional?...
A VIRAGEM

E a alteração desta situação, estará apenas em saber e reconhecer como afirmou Pierre Bourdieu em entrevista ao «Der Spiegel» que os políticos e os “economistas” muitas vezes se enganam e fazem balanços Socialmente falsos.
• Ou até mais do isso e ainda mais grave: será que os políticos e economistas ignoram os custos económicos e sociais gerados pelas medidas de austeridade que cegamente impõem. Não será asfixiante o luxo… dos Lucros e economicismos neoliberais que dominam o Mundo? Neste contexto, de âmbito mundial, não seria, enfim, preferível compreender que as despesas para combater as múltiplas consequências das guerras, do desemprego e subemprego, à escala global, são efectivamente mais caras do que a preservação e a existência própria do Estado Social com espectro universal minimamente justo? Para quando, perguntamos, o exercício corrente e Coerente de uma ética e moral efectivamente democráticas dirigida ao mundo inteiro?

ANTÓNIO NEVES BERBEM,
Outubro, 2006.

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